Tendência antivacinas avança em órgãos sanitários dos EUA

Retrocesso na vacinação de hepatite B em recém-nascidos pode colocar CDC em berlinda histórica

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Num primeiro olhar, parece apenas uma pequena mudança no calendário vacinal da infância. No entanto, especialistas mais críticos entendem que os últimos movimentos de Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde do governo Trump, colocam o Centro de Controle de Doenças (CDC) norte-americano diante de um dilema histórico.

Em reunião interna, o comitê diretor do CDC aprovou o adiamento da aplicação de vacinas de hepatites B, do momento do nascimento dos bebês estadunidenses, para o segundo mês. Mais que isso, exclui filhos de mães com histórico da doença.

Para RFK Jr., a vacina de hepatite B seria dispensável por ser uma doença transmitida sexualmente, em geral. No entanto, essa não é a única forma possível de infecção.

Na sexta-feira, Trump comemorou o gesto, que pode ser apenas o primeiro no sentido de alterar a política de vacinação infantil. Outro ponto sensível são os chamados “adjuvantes”, ou elementos auxiliares da vacina. O governo dos EUA quer retirar o alumínio da composição dos imunizantes.

Como de hábito, o argumento da maior autoridade de Saúde dos EUA não se sustenta cientificamente. Apesar da alegação de que gera inflamações na reação, seus benefícios compensam amplamente. Para especialistas ouvidos pelo New York Times, o CDC não decidirá mudanças no calendário vacinal em suas próximas reuniões. O que estará em jogo é sua confiabilidade diante da sociedade.

Diante do furor da notícia, o CDC adiou a reunião de seu conselho que homologaria a mudança no calendário. No entanto, a decisão de empurrar para frente já soou o alerta ao público.

Outras vacinas estão na mira do governo Trump para serem realocadas ou excluídas do calendário. Em alguns estados, governos republicanos incentivam ou retiram subsídios públicos para acesso a vacinas, o que também serve como mecanismo de ampliação de lucros do setor privado, uma vez que famílias que desejam vacinar seus filhos se veem impelidas a pagar pela imunização.

Caso ceda a pressões de setores negacionistas que já causaram grandes danos à saúde pública, como Trump na pandemia de covid-19, uma página constrangedora da história começará a ser escrita nos EUA.

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