Setor privado segue com queixas de pacientes autistas

• Corporações continuam desrespeitando autistas • Promessa a Lira não deu em nada • Cruzada antissaúde no Congresso • Mais Acesso a Especialistas trará 55 novas policlínicas • Novo serviço de oncologia no RJ • Impactos de usinas eólicas à saúde •

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Definitivamente, os seguros de saúde identificaram nos tratamentos de autismo o grande cavalo de batalha em sua luta pela redução de custos. Não à toa, criaram um imenso transtorno na vida das famílias cujos filhos fazem terapias para cuidar desta condição, ao cortar de forma unilateral dezenas de milhares de planos. Por ser incurável e não ter um tratamento específico, ou sequer um padrão de tratamentos, as variadas formas de cuidado de pessoas do espectro autista geram mais custos do que os usuários tradicionais dos planos de saúde, o que cria uma encruzilhada econômica do setor. Apesar do lucro de R$ 3 bilhões no primeiro semestre, o resultado, tal como todo o balanço pós-pandemia, é de déficit operacional, salvo por aplicações no mercado financeiro. Como mostrou matéria do Estadão, as seguradoras reclamam dos custos dos tratamentos mesmo após decisão do STJ a seu favor, que limitou a obrigatoriedade de tratamentos multidisciplinares apenas a espaços clínicos credenciados, o que se choca com as necessidades reais dos pacientes, que frequentemente precisam da mesma atenção em ambientes residenciais ou escolares.

Acordo com Lira foi só fumaça

Enquanto isso, coluna de Elio Gaspari ironiza o acordo verbal celebrado por Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, com os seguros de saúde, em razão da intensa judicialização com as famílias que tiveram seus planos cortados. Na coluna, o jornalista afirma que pelo menos 30 mil planos serão efetivamente cortados e destaca que o acordo não envolveu nenhum dos órgãos ligados ao Poder Executivo, como a Agência Nacional de Saúde Suplementar, responsável legal pela regulação deste mercado, ou o Ministério da Saúde. O gesto se mostrou mais uma tentativa de Lira se cacifar como líder nacional e sua propaganda de “municipalismo forte” do que um compromisso oficial, até porque nenhum acordo que de fato previsse punições aos descumprimentos contratuais foi feito. Enquanto isso, a ANS suspendeu para dezembro o início da regra que permite a portabilidade de tratamentos de saúde em casos onde determinado estabelecimento seja descredenciado pelo seguro contratante.

Cassinos, cigarros e praias privadas: a boiada vem forte

O Congresso brasileiro termina o semestre se destacando por pautas incendiárias elaboradas por bancadas e públicos de interesse com pouco ou nenhum embasamento técnico. Em muitos casos, o impulso por acumulação capitalista sem nenhuma consulta a populações diretamente afetadas é a tônica, a exemplo da PEC das Praias, que libera faixas litorâneas para investimentos privados, como cassino e resorts. Quanto aos jogos de azar, caminham a passos largos para sua liberação no país, o que coincidiria com alguns interesses imobiliários em orlas marítimas. Junto a isso, tramita proposta que já prevê a liberação de fumódromos em tais locais, no que seria novo retrocesso na política antitabagista brasileira, desmantelada nos anos Temer e Bolsonaro. Paradoxalmente, tais projetos avançam sob silêncio de bancadas ligadas ao conservadorismo, as mesmas que promovem histeria em torno de temas de costumes que avançam sob amparo científico, como o direito ao aborto em casos previstos em lei e a liberação da maconha, cuja descriminalização do porte está em votação no STF.

Governo anuncia 55 policlínicas

Dentro do escopo para o programa Mais Acesso a Especialistas, o governo federal anunciou investimentos de R$ 1,65 bilhão para a construção de 55 policlínicas em 24 estados do país. A iniciativa, que visa agilizar a passagem da atenção básica para os atendimentos de média complexidade, faz parte do pacote de obras do Novo PAC. Tais espaços oferecerão tratamentos de reabilitação, cardiologia, neurologia, oftalmologia, além de exames e procedimentos cirúrgicos que não exijam a estrutura hospitalar. Os encaminhamentos dos pacientes serão feitos pelas Equipes de Saúde da Família, que trabalham nas unidades básicas, por onde os usuários são recebidos no SUS. Em seu site, o Ministério da Saúde também destacou o caráter sustentável das construções, que contarão com sistemas de reutilização da água e arquitetura com ventilação e iluminação natural.

Nísia inaugura projetos no Rio

Em passagem pelo seu estado natal, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, esteve em Petrópolis para a inauguração da unidade de oncologia do Hospital Alcides Carneiro (HAC), que contará com um total de 51 leitos e poderá atender até 1.100 pacientes por mês. Além disso, o HAC passa a ter uma Casa da Gestante, com serviços de acolhimento e atendimento para mulheres grávidas e puérperas, o primeiro do tipo na região serrana. Além das duas novidades, Petrópolis tem outros três projetos de instalações de serviços de saúde aprovados no Novo PAC. Já no sábado, a ministra participou de evento que lançou o Mapa das Potencialidades da Periferia, que mapeia mais de 10 mil iniciativas de diversos temas, em projeto que contou com assessoria técnica de sua pasta e da Fiocruz, cujo objetivo é apoiar ações nos territórios e formular políticas públicas com participação social.

Pesquisa mostra danos de usinas eólicas à saúde coletiva

A professora da Universidade de Pernambuco Wanessa Gomes, pesquisadora da Fiocruz, apresentou um trabalho no qual mostra os danos à saúde psíquica de moradores de áreas próximas a usinas eólicas. São danos relacionados com o barulho permanente de suas turbinas e consequências no sono, na audição e no próprio humor e bem-estar cotidianos. Na pesquisa, Wanessa Gomes entrevistou 105 moradores de Caetés, cidade que abriga mais de 83 torres de energia eólica, e 70% deles afirmam o desejo de mudar de local de moradia. Considerada uma fonte de energia limpa e renovável, a energia eólica ganhou terreno no Brasil, mas ainda não teve seus passivos socioambientais devidamente avaliados. Enquanto isso, o mercado se diz estagnado e sem perspectivas de novos investimentos.

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