Seminário debate luta contra terceirização do HU-USP

Há mais de uma década, reitoria precariza o hospital com o objetivo de repassar sua administração a uma fundação privada ou OSS. Proposta de desvinculação é criticada por professores, estudantes, técnicos e população do Butantã

Foto: Daniel Garcia
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Para afastar a proposta de desvinculação que o espreita há mais de uma década, o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP) precisa ser urgentemente recuperado com investimentos e contratações, debateu um Seminário realizado no auditório da unidade hospitalar nesta terça-feira (11).

Se em 2013 o HU contava com mais de 1,8 mil trabalhadores, seu atual quadro de pessoal gira em torno de 1,3 mil funcionários. Esse desmonte se traduziu em uma marcada diminuição da assistência oferecida pelo hospital, revelam dados do Anuário Estatístico da USP. Como mostram em artigo no site da Adusp os professores Michele Schultz (EACH) e César Minto (FEUSP), desde 2013, o número de cirurgias realizadas pela unidade diminuiu em 40%, o de exames desceu 60% e as consultas caíram em mais de 80%. Os partos decresceram em 40%, e as internações em 50%. 

“Desde 2014, na gestão de Zago e seu vice Vahan Agopyan, existe a intenção de desvincular o HU da universidade. Naquele momento, a resistência do movimento sindical, estudantil e popular conseguiu fazer com que isso não acontecesse. Desde então, o que as sucessivas gestões da reitoria vêm fazendo é sufocar o hospital”, avaliou Michele Schultz em entrevista a Outra Saúde.

O médico João Paulo Becker Lotufo, diretor clínico do HU, criticou no Seminário o atual reitor da USP, Gilberto Carlotti, por declarar em reunião do Conselho Universitário que o hospital é “muito caro”. O argumento dos custos surge para justificar a proposta de repassar a administração da unidade, hoje realizada diretamente pela universidade, para uma fundação ou Organização Social da Saúde (OSS), entes privados que embolsam recursos públicos e tendem a precarizar o serviço e as condições de trabalho.

Com a proximidade de novas eleições para reitor na USP, o Seminário aprovou uma carta-compromisso a ser assinada pelos candidatos. Entre as medidas com que os reitoráveis devem se comprometer, estão a “contratação de profissionais efetivos, via carreira USP e por concurso público, garantindo atendimento qualificado e com condições adequadas de trabalho”, a “destinação de orçamento estável e suficiente para o funcionamento pleno do HU” e “a manutenção do caráter público do HU, de acordo com preceitos do SUS, contra qualquer forma de privatização (OSS, fundações, terceirizações, entre outras)”. O documento também pede a implementação da proposta de estatuto do hospital aprovada em 2022, que democratiza seu funcionamento.

Para além do papel da unidade enquanto hospital-escola de dezenas de cursos da USP, os participantes do Seminário ainda destacaram que a mobilização em defesa do Hospital Universitário da USP também busca fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, o HU atende à comunidade da região do Butantã e atua como serviço de referência para a assistência de média complexidade na cidade de São Paulo.

“Essa é uma luta maior, que vai além da universidade. É uma luta social para fazer com que o SUS realmente se estruture na cidade de São Paulo”, afirmou José Pinhata Otoch, atual superintendente do HU-USP, em entrevista a este boletim.

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