Saúde privada tem maior lucro desde 2019

• Seguros de saúde lucram 5,6 bi em 2024 • Poluição: capitais tomadas por fumaça • Aerossóis na atmosfera impedem aquecimento global? • A crise climática no Ártico • Hormonização de mulheres trans • Abrasco e outras ganham medalha de mérito •

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Após três anos reclamando de crise financeira, as operadoras de seguros de saúde registraram lucro líquido de R$ 5,6 bilhões no primeiro semestre de 2024, o que representa 3,27% de sua receita total de mais de R$ 170 bilhões. Esse é o melhor resultado para o período desde 2019, exceto 2020, que foi impulsionado pela pandemia. As operadoras médico-hospitalares, principal segmento do setor, tiveram saldo positivo de R$ 2,4 bilhões. O desempenho foi impulsionado, em parte, pela remuneração de aplicações financeiras, que totalizaram R$ 4,4 bilhões. A “sinistralidade” – ou seja, o uso dos serviços contratados pelos clientes – caiu para 85,1% do faturamento, o menor nível desde 2018. Há ao menos dois fatos a serem pontuados, perante esses novos dados: 1) no último ano, os seguros de saúde registraram recordes de cancelamento unilateral de contratos – em especial dos pacientes que “gastam mais”, por precisarem de tratamento contínuo; 2) mesmo nos dois anos em que passou por uma “crise”, o setor é um dos mais poderosos do Brasil e tem seu poder concentrado na mão de “sete irmãs”, grandes empresas que o controlam – quase sem regulação. 

Poluição, ar seco e fumaça no Sudeste

Desde segunda-feira, São Paulo está sob uma estranha camada de névoa, e as estações de medição de qualidade do ar da Cetesb registraram nível ruim. A mesma bruma também tomou a cidade de Belo Horizonte na quarta-feira, quando a qualidade do ar esteve entre as piores do mundo. Não chove na capital mineira há 140 dias. As condições são consequência, principalmente, do ar seco, escassez de chuva e emissão de poluentes, principalmente dos veículos. Mas contribui também a fumaça das queimadas do interior dos estados. 

O problema é pior do que parece? No Brasil, os padrões de medição de poluição adotam valores de referência muito superiores aos recomendados pela OMS, cerca de três vezes mais altos. Especialistas alertam que essa defasagem traz sérios riscos à saúde, enquanto outros países adotam medidas mais rígidas quando atingem certos níveis de poluentes. A partir de 2025, uma nova resolução exige que os estados brasileiros comecem a reduzir os poluentes em fases até 2045. A Cetesb, por outro lado, defende que os parâmetros atuais são seguros para a população.

Manobras temporárias para reduzir aquecimento global?

Enquanto as pessoas sofrem com os impactos das mudanças climáticas, decisões mirabolantes surgem. Foi tema de uma reportagem da revista Pesquisa Fapesp a geoengenharia solar, também conhecida como modificação da radiação solar (SRM), que propõe técnicas para reduzir a quantidade de radiação solar que atinge a Terra, com o objetivo de combater o aquecimento global. Uma das principais abordagens é a injeção de aerossóis na estratosfera, que aumentaria o albedo da Terra, refletindo mais radiação solar de volta ao espaço e, assim, resfriando o planeta. No entanto, essa técnica é cercada de controvérsias e riscos. Além dos potenciais impactos negativos no clima, como a alteração do regime de chuvas em algumas regiões, a injeção de aerossóis poderia prejudicar a camada de ozônio e agravar problemas respiratórios, já que essas partículas descem para a troposfera. Além disso, há preocupações de que essa abordagem possa desviar a atenção de soluções mais sustentáveis, como a redução de emissões de gases de efeito estufa. A falta de governança global sobre essa tecnologia aumenta os receios de uso indevido, tornando o tema ainda mais polêmico. 

A próxima pandemia pode vir do Ártico

O Ártico está enfrentando uma crise ambiental e sanitária complexa. Entre 1979 e 2021, a região aqueceu quatro vezes mais rápido que a média global, impactando ecossistemas, biodiversidade e a saúde humana. O derretimento do gelo está liberando poluentes, como mercúrio e substâncias químicas tóxicas, que afetam o sistema imunológico de humanos e animais, aumentando a vulnerabilidade a doenças. Além disso, o Ártico pode se tornar um foco para doenças zoonóticas, com novos patógenos sendo liberados pelo degelo e pela invasão de espécies. A falta de estudos e monitoramento na região agrava esses riscos, e é necessária uma ação global coordenada para prevenir uma possível nova pandemia originada no Ártico, defende matéria da revista Nature. Segundo especialistas que falaram ao periódico, programas de vigilância de doenças, melhor acesso a cuidados de saúde e esforços para reduzir a poluição e proteger a biodiversidade são importantes para mitigar esses perigos.

Mulheres trans, ainda marginalizadas pela medicina

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, da Abrasco, revela o alto uso de hormônios sem prescrição médica por mulheres trans e travestis, devido à falta de acesso a médicos e ao medo de discriminação. O estudo, que acompanhou 1.317 participantes em cinco capitais brasileiras, mostrou que 72% obtêm hormônios de forma não prescrita, com variação entre as cidades. A pesquisa também destacou que 86% das participantes já usaram hormônios, com início médio aos 18,5 anos. O uso sem acompanhamento está relacionado à baixa oferta de serviços especializados e à busca por mudanças corporais rápidas. Além disso, o estudo aponta o risco de complicações de saúde e a necessidade de políticas públicas para ampliar o acesso aos cuidados especializados. O SUS oferece serviços limitados desde 2008, mas a falta de profissionais qualificados ainda é um grande desafio.

Medalha é concedida por Lula a personalidades e entidades da saúde

O presidente Lula concedeu a medalha do mérito Oswaldo Cruz, na categoria ouro, a 22 autoridades e personalidades que contribuíram para a saúde pública, além de 10 associações. Entre os homenageados, destacam-se: Atila Iamarino, biólogo e pesquisador; Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan; Fabio Baccheretti, presidente do Conass; Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Academia Nacional de Medicina; Mario Santos Moreira, presidente da Fiocruz; Meiruze Sousa Freitas, diretora da Anvisa; e Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. A medalha reconhece pessoas e entidades que impactaram positivamente a saúde no Brasil. Entre as organizações premiadas, destaca-se a Abrasco, além da ABEn, SBP e SBIm.

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