Saúde privada dá um passo para aprovar os “planinhos”

• ANS trabalha para permitir planos de saúde com cobertura limitadíssima • Vacinas de dengue próximas ao vencimento podem ser oferecidas a público maior • Descobertas sobre um possível antiviral contra zika • 120 anos de Nise da Silveira •

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A saúde suplementar brasileira luta para dar um passo a mais na precarização de seu atendimento. Trata-se de criar, nas palavras da pesquisadora Ligia Bahia, os planos de saúde “Melhoral e copo d’água”. É este o título da boa reportagem publicada pela revista Piauí, ontem. A Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS) pretende dar um passo que muitos especialistas consideram ilegal: a implementação experimental de seguros de saúde que não dão direito a atendimento emergencial, internações, tratamento para câncer, detecção de doenças graves. Basicamente, cobre consultas médicas eletivas e exames. 

A consulta pública para viabilizar esse experimento começa hoje. Só que esse tipo de produto fere a Lei dos Planos de Saúde, de 1998, que obriga as seguradoras a oferecer a cobertura completa. Para as empresas, trata-se de um ótimo negócio: seu mercado está estagnado historicamente em 25% da população brasileira, e os “planinhos” poderiam ampliá-lo. É uma reivindicação antiga, que começou a aparecer durante o governo de Michel Temer, com Ricardo Barros à frente do Ministério da Saúde favorável ao projeto. Se for para frente, além de engordar os bolsos da saúde privada, pode trazer consequências também ao SUS, que terá de cuidar de todos os pacientes cada vez mais mal-atendidos pela saúde privada.

Ministério da Saúde sugere ampliar público da vacina da dengue

O Ministério da Saúde recomendou a ampliação temporária do público-alvo da vacina da dengue em todo o país para evitar o vencimento de doses. Crianças e adolescentes de 6 a 16 anos poderão ser vacinados caso os imunizantes estejam a dois meses ou menos do vencimento. Se restar apenas um mês, a faixa etária poderá ser expandida para 4 a 59 anos.

Estados e municípios devem avaliar a disponibilidade de doses e a situação epidemiológica local, além de reforçar a busca ativa para garantir a segunda dose. Em 2024, das 6,5 milhões de doses enviadas pelo governo, apenas 3,8 milhões foram aplicadas. A baixa adesão preocupa, principalmente entre adolescentes, onde 1,3 milhão não completou o esquema vacinal.

Ouabaína, um veneno, pode ser arma contra a zika

A ouabaína, um hormônio presente em mamíferos e extraído de plantas, tem se mostrado promissora no combate ao vírus da zika. Originalmente usada como veneno de flecha na África Oriental, a substância já foi empregada como cardiotônico em alguns países e agora pode ser reposicionada como antiviral, conta artigo publicado no The Conversation. Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Fiocruz Pernambuco testaram a ouabaína em células infectadas pelo zika e observaram uma redução significativa na replicação viral. 

Simulações computacionais sugerem que a substância pode inibir a multiplicação do vírus, mas os resultados ainda precisam ser confirmados em laboratório. Em modelos animais, a ouabaína preveniu danos neurológicos em fetos e reduziu a inflamação associada à infecção. A novidade vem em boa hora: entre janeiro e junho de 2024, o Brasil registrou 8.519 casos prováveis da doença, um aumento de 9% em relação ao mesmo período de 2023. 

Homenagens nos 120 anos de Nise da Silveira

A psiquiatra Nise da Silveira, que revolucionou os cuidados com pessoas em sofrimento mental no Brasil, faria 120 anos no dia 15/2. Sua história foi tema de uma reportagem na Agência Brasil, que destacou seu lado rebelde. Ao trabalhar no Centro Psiquiátrico Pedro II, no bairro de Engenho de Dentro, na zona norte do Rio de Janeiro, Nise testemunhou tratamentos com choque elétrico e as péssimas condições em que viviam os internos e revoltou-se. 

Sua oposição às técnicas violentas acabou levando a diretoria do hospital a escanteá-la, colocando-a para fazer terapia ocupacional. Foi aí que ela começou o trabalho pelo qual é mais conhecida: tratar dos doentes por meio da arte. Ela começou criando uma sala de costura e um ateliê de pintura. “A inovação consistiu exatamente em abrir para eles o caminho da expressão, da criatividade, da emoção de lidar com os diferentes materiais de trabalho”, explicou ela em entrevista a Ferreira Gullar para sua biografia. 

A reportagem traz uma passagem interessante de sua vida: o momento com o encontro da luta antimanicomial, movimento ao qual ela própria é grande inspiração. O pesquisador Paulo Amarante conta que teve muitas conversas com Nise, e que a psiquiatra custava a concordar com a ideia de acabar definitivamente com manicômios. “Ela achava que seria possível existir uma instituição em regime controlado, de uma maneira humanizada. E ela tinha medo: ‘Você vai dar alta pra pessoa e ela vai pra onde? Vai comer aonde? Ela vai ser vítima de violência’”, explica Amarante. Após conversas e experiências, ela passou, de fato, a apoiar a luta.

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