Resistência a antibióticos poderá matar 1,91 milhão por ano até 2050
• Estimativa de mortes por superbactérias até 2050 • Dia de Combate à Tuberculose • Ministério da Saúde começa a distribuir vacinas contra a gripe • H5N1 pela primeira vez em ovelhas, no Reino Unido • Cuidados paliativos em pessoas que tiveram AVC •
Publicado 25/03/2025 às 14:37
Segundo reportagem publicada na revista Pesquisa FAPESP, um amplo estudo internacional revela que as mortes por bactérias resistentes a antibióticos subiram de 1,06 milhão em 1990 para 1,14 milhão em 2021. E, sem medidas urgentes, podem chegar a 1,91 milhão anuais até 2050 – totalizando 169 milhões de óbitos em três décadas. A pesquisa, publicada na The Lancet, analisou dados de 204 países e aponta que a América Latina será uma das regiões mais afetadas.
O uso excessivo de antibióticos na saúde humana e na agropecuária acelera o surgimento de superbactérias. Vacinação, saneamento básico e uso racional de medicamentos poderiam evitar 92 milhões de mortes, segundo o estudo, mas a falta de investimentos em vigilância e novos fármacos agrava o cenário. No Brasil, infecções resistentes causaram 2,4 milhões de internações no SUS paulista em dez anos, com custo de R$ 4,7 bilhões.
“Uma medida importante para tentar mitigar as mortes é aperfeiçoar a coleta de dados sobre a resistência bacteriana e o seu monitoramento. Quanto mais eficientes forem os serviços de registro, mais compreenderemos as especificidades da resistência nas diferentes regiões, possibilitando, assim, o planejamento de intervenções mais direcionadas”, explica a geógrafa brasileira especialista em modelagem epidemiológica Jessica Andretta Mendes.
Tuberculose: o que está em risco
No Dia Mundial de Combate à Tuberculose (24/3), a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu investimentos urgentes para evitar o colapso dos serviços de prevenção e tratamento da doença, que ainda mata mais de 1 milhão de pessoas por ano. Trata-se da doença infecciosa mais letal e mais negligenciada do mundo. Vinte e sete países, principalmente na África, já enfrentam escassez de profissionais, atrasos em diagnósticos e desabastecimento de medicamentos. Com os recentes cortes nos fundos de ajuda humanitária norte-americanos, a situação pode piorar muito, alerta a OMS.
“Investir no combate à tuberculose não é apenas um imperativo moral, mas também uma necessidade econômica – cada dólar gasto em prevenção e tratamento gera um retorno estimado de US$ 43 para a economia”, alertou a diretora do programa global de tuberculose da OMS, Tereza Kasaeva. A entidade lançou novas diretrizes para otimizar recursos e reforçar a detecção precoce. Como explicou um texto recente publicado no Outra Saúde, há esperança nas vacinas para tuberculose, que estão em fase de testes. Mas, para que possam ser concluídas, também será necessário investimento. Infelizmente, financiamento adequado é algo que a tuberculose nunca teve, mesmo sendo uma doença que afeta desproporcionalmente as populações mais pobres do mundo.
Nova campanha de vacinação contra gripe
As novas doses de vacinas que protegem contra a gripe começaram a ser distribuídas pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira, 21/3. A previsão é que sejam entregues 35 milhões de doses até o fim do mês, para que possam imunizar ao menos 90% do público alvo – crianças até 6 anos, idosos, gestantes, pessoas com doenças crônicas, profissionais de saúde, entre outros. A vacinação está prevista para começar em 7 de abril, mas já pode ser iniciada mesmo antes, caso os estados desejem.
Uma decisão recente do Ministério da Saúde alterou o período que a vacina contra influenza é oferecida: a partir deste ano, ela estará disponível durante o ano inteiro – uma estratégia para ampliar a cobertura vacinal. Ainda assim, segundo o ministro Alexandre Padilha, a ideia é “reforçar a vacinação nesse primeiro semestre no Nordeste, Sul, Sudoeste e Centro-Oeste, justamente porque o maior número de casos é nesse período, no mês de maio, junho e julho. E no segundo semestre a concentração na região Amazônica”.
Gripe aviária detectada em ovelha pela primeira vez
Embora já tenha sido encontrado em diversos mamíferos como gatos, raposas, vacas, porcos e humanos, o vírus H5N1 nunca havia sido encontrado em ovelhas – até agora, mostra o Guardian. No Reino Unido, após uma testagem de rotina em um rebanho que teve contato com aves contaminadas com a gripe, o vírus foi identificado em um indivíduo, que foi sacrificado. Oficiais sanitários garantiram que medidas de biossegurança foram tomadas para evitar que aconteçam novos casos.
A preocupação com o H5N1 se mantém alta: o vírus da gripe aviária já parece ser endêmico em vacas leiteiras nos Estados Unidos. No país, milhões de galinhas poedeiras já foram sacrificadas na tentativa de conter a proliferação da doença. Até agora, o patógeno não é transmitido entre seres humanos, apenas a partir de animais contaminados. Mas pouco está sendo feito de fato para que se evite que o vírus evolua: há poucas restrições à pecuária e à avicultura desregradas, nos EUA. Segundo cientistas, o caminho está aberto para uma nova pandemia.
Pesquisa avaliou eficácia dos cuidados paliativos
Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp) com 77 pacientes de AVC que faleceram revelou que aqueles que receberam cuidados paliativos tiveram melhor qualidade de vida no final do tratamento – embora seu tempo de vida não tenha se alterado. Publicado no American Journal of Hospice and Palliative Medicine, o estudo mostrou que 71,8% dos pacientes com acompanhamento paliativo foram transferidos da UTI para a enfermaria (contra 23,7% no grupo convencional) e passaram menos tempo em terapia intensiva (menos de 1 dia contra 2 dias).
O uso de opioides para controle da dor foi 31 vezes maior no grupo com cuidados paliativos, enquanto o emprego de antibióticos se manteve equivalente – desmistificando a ideia de que essa abordagem significa abandono terapêutico. Realizado no HC da Unesp, o trabalho analisou prontuários de 2017 e 2018. Apesar dos avanços, a prática ainda enfrenta resistência no Brasil. Só em 2023 os cuidados paliativos se tornaram disciplina obrigatória nos cursos de medicina. Especialistas destacam que o modelo beneficia não só pacientes oncológicos, mas também aqueles com doenças neurológicas crônicas, como AVC.
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