Reino Unido: perigos dos dados de saúde do NHS entregues à Palantir

Empresa estadunidense de vigilância tem contrato com sistema nacional de saúde britânico. Quais são os riscos de entregar dados de milhões nas mãos de capitalistas perigosos?

Créditos: DigitalHealth.net
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Aproveitando-se da urgência dada pela pandemia de covid-19, a Palantir, empresa norte-americana de vigilância e dados que trabalha com o Ministério da Defesa de Israel, infiltrou-se no sistema nacional de saúde (NHS, na sigla em inglês) do Reino Unido. Agora, a empresa ataca a Associação Médica Britânica (BMA) por seus questionamentos ao contrato firmado com o Estado britânico. A Palantir recebeu o direito de implementar uma plataforma de dados federados, para “modernizar” a gestão de dados de saúde do país.

A Associação Médica afirmou que a parceria “ameaça minar a confiança pública nos sistemas de dados do NHS”, em essencial por causa da falta de transparência a respeito de dados muito sensíveis. Ela cita o “histórico da empresa na criação de software policial discriminatório nos EUA” e seus “vínculos estreitos com um governo dos EUA que demonstra pouco respeito pelo direito internacional”.

Peter Thiel, o dono da Palantir e cofundador da PayPal, é um ultracapitalista singular, em especial em ser claro sobre seus objetivos. Ele já afirmou desejar “emancipar os ricos ‘da exploração dos capitalistas pelos trabalhadores’”. Também já defendeu o apartheid na África do Sul, ataca a ideia de diversidade nas universidades estadunidenses, apoia Donald Trump desde sua primeira eleição e tem obsessão com alcançar a própria imortalidade. A respeito do sistema de saúde inglês, com o qual sua empresa trabalha agora, Thiel disse que os britânicos têm uma relação de “síndrome de Estocolmo” com o NHS.

As preocupações de que o sistema de dados que está sendo construído poderia tornar o NHS totalmente dependente da Palantir se intensificam pelos temores sobre o uso dos dados dos pacientes. Por ser um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, o NHS possui um conjunto de dados de saúde singular. Embora esses dados tenham um imenso potencial de fortalecer os serviços públicos, confiar sua gestão a parceiros corporativos apresenta grandes riscos. Por exemplo, eles poderiam ser explorados para fins como rastreamento e criminalização de imigrantes – uma prática utilizada sistematicamente para hostilizá-los no Reino Unido.

“Se o software da Palantir está sendo usado para atingir indivíduos na aplicação da lei de imigração e está sendo implantado em zonas de conflito ativas, então isso é completamente incompatível com os valores que defendemos na prestação de cuidados”, defendeu David Wrigley, diretor da BMA. 

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