Recorde de internação de bebês por problemas respiratórios

• 153 mil bebês internados com problemas respiratórios • 427 leitos fechados em hospitais federais do Rio • Cancelamentos unilaterais seguem sem explicações • Abrasco faz propostas para o SUS nas eleições • Aquecimento de lagos na Amazônia •

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Em 2023, as internações de bebês menores de um ano por pneumonia, bronquite e bronquiolite no Sistema Único de Saúde (SUS) atingiram um recorde, com 153 mil casos, segundo o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) do Icict/Fiocruz. Esse número representa um aumento de 24% em relação a 2022, e é o mais alto dos últimos 15 anos. O SUS gastou R$ 154 milhões em tratamentos, R$ 53 milhões a mais que em 2019, pré-pandemia. O estudo revela que as internações caíram até 2016, variaram entre 2016 e 2019, e despencaram em 2020 devido à pandemia de covid-19 – no período em que o isolamento social foi maior. No entanto, desde então, houve aumentos constantes, culminando no recorde de 2023. As regiões Sul e Centro-Oeste registraram as maiores taxas de internação, influenciadas por frio intenso e queimadas, respectivamente. O pesquisador Cristiano Boccolini aponta as mudanças climáticas e a baixa cobertura vacinal infantil como principais fatores do aumento. A queda na taxa de vacinação e as condições climáticas extremas aumentaram a vulnerabilidade dos bebês. Boccolini enfatiza a importância de manter as vacinas em dia, incluindo a vacina contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), já aprovada pela Anvisa. Os dados foram obtidos do Sistema de Internações Hospitalares do SUS e do Sistema Nacional de Nascidos Vivos entre 2008 e 2023.

Os leitos fechados nos hospitais federais do Rio

Um ano após o Ministério da Saúde anunciar ações para reabrir leitos e reduzir filas de procedimentos complexos nos hospitais federais do Rio de Janeiro, a situação voltou a piorar. De acordo com dados da Plataforma SMSRio, 427 dos 1.651 leitos cadastrados estavam fechados, representando um aumento de 48% em relação a abril de 2023, quando 288 leitos estavam indisponíveis. A principal causa do fechamento dos leitos é a falta de profissionais de saúde: 76% dos leitos estavam fechados devido à ausência de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Essa situação ocorre em meio a uma tentativa do governo federal de melhorar a gestão da rede hospitalar no Rio, problema que já dura muitos anos. O Hospital do Andaraí é um exemplo dessa crise, com apenas 55% de seus 304 leitos ocupados, emergência fechada e obras inacabadas, incluindo o setor de radioterapia. Recentemente, o ministério anunciou a transferência da administração do hospital para a prefeitura do Rio, em uma estratégia de municipalização.

Operadoras de saúde ainda têm que se explicar

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) solicitou mais esclarecimentos a 17 operadoras e quatro associações de saúde sobre o cancelamento unilateral de planos, após um aumento de 99% nas reclamações no primeiro trimestre deste ano – foram 1.138 registros, no total. Empresas como Bradesco Saúde, Amil e Unimed foram chamadas a justificar as rescisões. Os cancelamentos unilaterais têm afetado milhares de beneficiários, incluindo pacientes com autismo, em tratamento contínuo, idosos e pessoas com necessidades especiais. À reportagem da Folha, a MedSênior, Omint, Prevent Sênior e outras operadoras insistem em defender suas ações, afirmando que os cancelamentos seguiram tentativas de renegociação e notificações prévias. A situação expõe a fragilidade dos consumidores frente aos interesses comerciais dos planos de saúde, expondo a necessidade de maior regulação e proteção dos direitos dos beneficiários, como tem destacado esse boletim nos últimos meses.

As propostas da Abrasco para o SUS nas eleições de 2024

Em 2024, com a aproximação das eleições municipais, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) lança sua campanha “Fortalecer o SUS”, visando incluir o SUS nas propostas dos candidatos municipais. As cinco propostas principais, que são desenvolvidas em documento publicado pela entidade, são: (1) investimento em cuidados com a força de trabalho, (2) efetivação do controle social, (3) integração dos municípios em regiões para atendimento integral, (4) garantia de atenção primária acolhedora e resolutiva, e (5) defesa do SUS público com gestão responsável. Rosana Onocko-Campos, presidente da Abrasco, defende: “É a partir das cidades que a gente vai transformar o Brasil. Existem formas de organização do trabalho, do SUS, do financiamento que avançam em direção ao que temos defendido de consolidar um SUS 100% público”. Ela sugere que o eleitor preste atenção no programa do candidato para ver se essas propostas são contempladas.

O preocupante aquecimento das águas amazônicas

Estudo do Instituto Mamirauá, apresentado na 76ª Reunião Anual da SBPC, revelou que a temperatura dos lagos na Amazônia central aumentou 0,6ºC por década, atribuída às mudanças climáticas. Alguns dos efeitos desse aquecimento são drásticos. Em 2023, pior ano registrado, a temperatura da água do lago Tefé ultrapassou 40ºC, mesmo em maiores profundidades, causando a morte de 209 botos, a maior parte deles botos cor-de-rosa. A hipertermia foi identificada como a causa, agravada pela seca extrema, radiação solar intensa e águas rasas e turvas. O evento também isolou populações ribeirinhas, dificultando o acesso a transporte e serviços essenciais. Para o pesquisador Ayan Fleischmann, é crucial implementar cisternas e poços profundos para melhorar o acesso à água de qualidade e mitigar os efeitos das mudanças climáticas na região. “As pessoas não tinham água da chuva para beber durante a seca porque não tinham capacidade de armanezar. Elas tiveram de tomar água direto do rio, que estava extremamente barrenta e imprópria para o consumo”, alertou.

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