Quem define quais são os melhores hospitais do Brasil?

Datafolha definiu os “melhores hospitais” do país, mas falta de dados padronizados e transparentes influenciam os critérios de escolha

.

Por encomenda do Hospital Albert Einstein, o Datafolha fez uma pesquisa entre médicos brasileiros para que opinassem sobre quais [são?] os melhores hospitais do país. Foram questionados 601 profissionais que atuam no SUS e no setor privado em todo o país, e seu julgamento resultou em uma lista geral e segmentada por especialidades. 

Em primeiro lugar na lista figura a solicitante da pesquisa, o Einstein, hospital localizado no Morumbi, um dos bairros mais abastados de São Paulo. Embora seja um hospital de luxo ao qual tem acesso apenas a elite, também é verdade que ele faz parte do Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), grupo de entidades sem fins lucrativos que tomam recursos do Estado para gerir programas públicos. 

Os cinco primeiros melhores hospitais, segundo a opinião dos médicos brasileiros, se encontram na capital paulista, e o terceiro lugar é ocupado pelo SUS: o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Se considerados apenas os públicos, o Hospital Universitário da USP fica em segundo lugar, seguido do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (UFRGS).

Para divulgar a pesquisa de seu instituto, a Folha publicou uma série de matérias e reportagens a respeito dos hospitais de excelência do Brasil. Há leituras interessantes, como esta sobre o HC de São Paulo, suas pesquisas de fronteira e as inovações tecnológicas que promove. Ou esta, sobre os serviços e hospitais a que se deve recorrer em casos de urgência – recomenda-se sempre chamar o SAMU ou o corpo de bombeiros nessas situações. 

Mas aconselhamos cuidado e leitura atenta ao caminhar pelo material jornalístico. Na matéria Faltam dados padronizados e transparentes sobre hospitais no Brasil há um importante alerta sobre como não há, atualmente, maneira objetiva de sintetizar dados para qualificar os centros de saúde no país. Ela também chama a atenção para o fato de que pesquisas de opinião nem sempre oferecem as melhores respostas: médicos podem ter escolhido os melhores hospitais a partir de critérios subjetivos, no conforto das instalações ou no marketing empresarial. Há também de se questionar o porquê da escolha destes profissionais de saúde e não outros, como aqueles ligados à enfermagem por exemplo.

De fato, seria interessante que fossem estabelecidas métricas para comparação de hospitais, como taxas de infecção hospitalar, mortalidade ajustada por risco, reinternação, eventos adversos evitáveis, adesão a protocolos clínicos e tempo médio de internação. Inclusive para melhorar o atendimento público oferecido pelo SUS – principalmente neste momento em que o Ministério da Saúde investe na Atenção Especializada

Mas há outro questionamento importante, sintetizado em um livro recente publicado pela Editora Fiocruz, SUS: o debate em torno da eficiência, escrito pelos economistas Carlos Octávio Ocké-Reis e Alexandre Marinho. É preciso tomar cuidado para não se render aos ideais de “eficiência” preconizados pelo mercado e pela medicina de negócios, que supõe um “fazer mais gastando menos” que em geral se preocupa pouco com o direito à Saúde efetivo. Ao fim de uma análise mais detalhada sobre eficiência, é possível que se perceba que é preciso, na verdade, gastar mais. Mas esse debate costuma ter pouco espaço na mídia comercial. 

Sem publicidade ou patrocínio, dependemos de você. Faça parte do nosso grupo de apoiadores e ajude a manter nossa voz livre e plural: apoia.se/outraspalavras

Leia Também: