Pode um laudo falso ter definido uma eleição?
• Eleições municipais e a direita Brasil afora • Seguros de saúde dificultam portabilidade • Queimadas causaram mais enjoo e vômitos • Bombardeio a hospitais no Líbano • Nova vacina contra HPV • Testes para conter o vírus marburg •
Publicado 07/10/2024 às 12:49
As eleições municipais de 2024 trouxeram (mais) uma (má) surpresa no campo da ultradireita: Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo que, além de ter posições extremadas, utilizou métodos e estratégias violentas durante toda a campanha. Mas seu último ato pode ter causado sua ruína. No final da sexta-feira, Marçal publicou em seu perfil de instagram um laudo que acusava o candidato Guilherme Boulos de ter passado por internação após abuso de drogas em janeiro.
As evidências de que o documento era falso – e tosco – abundavam desde o princípio. Mas, nesses tempos em que a realidade dos fatos é um elemento menos importante, o laudo rodou a internet e foi reproduzido por centenas de perfis de ultradireita. É difícil saber qual foi o tamanho do estrago, mas o resultado final deixou o violento Marçal de fora da disputa do segundo turno. Agora, enfrentará a Justiça e pode, inclusive, ficar inelegível por 8 anos.
Embora o candidato tenha contribuído para bagunçar o coreto da ultradireita, esse campo parece ter sido vitorioso Brasil afora. O PL, de Bolsonaro, teve um aumento de 44% no número de prefeitos. O também direitista “Centrão” abocanhou fatias maiores do número de municípios: PSD teve uma variação positiva de mais de 31% e agora é o partido com mais prefeituras no país, seguido de MDB, PP e União Brasil. O PT também teve um aumento de 33% no número de candidatos vitoriosos e ocupa o 9º lugar da lista. Ainda é preciso aguardar os resultados do segundo turno, mas já é possível observar o tamanho do estrago.
Seguros de saúde interditam portabilidade; queixas triplicam
O número de reclamações à ANS sobre dificuldades na portabilidade de carências em planos de saúde triplicou nos últimos cinco anos, atingindo 3.748 entre janeiro e agosto de 2023, em comparação com 1.005 no mesmo período de 2019. Esse aumento afeta principalmente idosos e pessoas com doenças preexistentes, que enfrentam barreiras para mudar de plano sem cumprir nova carência ou para contratar novos planos. Advogados apontam que operadoras evitam atender consumidores com maior risco, desrespeitando as regras da ANS, que garantem o direito à portabilidade. Além disso, corretores geralmente se recusam a auxiliar nesses casos, uma vez que não recebem comissão. Em situações extremas, os consumidores recorrem à Justiça, onde frequentemente conseguem liminares favoráveis. Operadoras e associações do setor afirmam seguir as normas da ANS, que orienta beneficiários a registrar reclamações caso suas demandas não sejam atendidas diretamente pelas empresas.
Queimadas fazem dobrar atendimento por problemas digestivos
Não foram só as doenças respiratórias. Atendimentos por problemas digestivos nas UBSs aumentaram significativamente durante o período de queimadas, segundo dados do Ministério da Saúde. Entre 11 de agosto e 21 de setembro, os casos de vômitos e náuseas mais que dobraram, chegando a 136.712, enquanto os de problemas respiratórios, como asma e rinite, subiram 21%, totalizando 492.057. O ministério não divulgou dados de cada estado, apenas a situação nacional. As queimadas e a seca na região Norte têm pressionado o sistema de saúde, especialmente no Amazonas, Acre e Rondônia. A ministra Nísia Trindade destacou a necessidade de reorganizar os serviços de saúde, incluindo a ampliação do horário das UBSs e o envio da Força Nacional de Saúde para as áreas mais afetadas. Além disso, a seca na região Norte, agravada pela baixa dos rios, como o Tapajós, também impacta a economia local, afetando o transporte de grãos e o turismo.
Israel bombardeia redondezas de um grande hospital no Líbano
Israel busca a guerra sem fim, e com isso devasta a saúde nos países que atinge. Na última sexta, 4/10, atingiu áreas próximas a um grande hospital ao sul do Líbano, na cidade de Marjayoun, na fronteira com a Síria. Ela fica em uma passagem importante para quem está fugindo do país à procura de abrigo. Ninguém que estava no hospital ficou ferido, mas ele teve de ser evacuado. Além disso, Israel realizou um forte ataque no subúrbio sul de Beirute, alegando atingir um possível líder do Hezbollah. Os ataques têm gerado uma grande crise humanitária no Líbano. No país, a maioria dos 900 abrigos coletivos está lotada, forçando a população que foge dos ataques a dormir ao ar livre, em praças ou parques. A ONU está colaborando com autoridades locais para abrir mais espaços e alguns hotéis começaram a receber refugiados.
OMS anuncia nova vacina de dose única contra HPV
A OMS anunciou a aprovação do quarto produto de vacina contra o HPV, o Cecolin, para uso em esquema de dose única. Essa decisão, baseada em novos dados, atenderá à crescente demanda e poderá ampliar a oferta de vacinas que previnem o câncer de colo de útero. O HPV é responsável por mais de 95% dos 660 mil casos anuais desse câncer no mundo: 90% das mortes ocorrem em países de baixa e média renda, principalmente na África. O diretor da OMS, Tedros Adhanom, declarou: “Ao contrário da maioria dos outros tipos de câncer, temos a capacidade de eliminar o de colo de útero, junto com suas dolorosas desigualdades. Ao acrescentar mais uma opção de vacinação contra o HPV em esquema de dose única, demos mais um passo em direção a eliminar o câncer”. Desde 2018, a escassez de vacinas tem dificultado a imunização, mas o uso da dose única já está em vigor em 57 países, e seu uso permitiu que 6 milhões de meninas a mais fossem vacinadas em 2023. O objetivo é imunizar 90% das garotas de até 15 anos.
Ruanda sediará testes de tratamentos contra o vírus marburg
Vacinas e terapias experimentais para combater o vírus mortal marburg estão sendo enviadas para Ruanda, onde ensaios clínicos começarão em breve. Sem vacinas ou tratamentos licenciados, o vírus, semelhante ao ebola, tem uma alta taxa de letalidade. Ruanda, enfrentando seu primeiro surto, já registrou 41 casos, com 12 mortes, principalmente entre profissionais de saúde. O país receberá 5.000 doses do antiviral remdesivir e 700 doses de uma vacina experimental desenvolvida pelo Sabin Vaccine Institute, apoiada pelos EUA. Outras opções terapêuticas incluem um anticorpo monoclonal experimental. A vacina, desenvolvida originalmente pelo National Institutes of Health, já está em fase 2 de testes em Uganda e Quênia. O governo ruandês, em parceria com a OMS e outras entidades, está se preparando para conduzir os ensaios rapidamente, com várias organizações envolvidas no desenvolvimento de possíveis vacinas e terapias.