Plenária final da Cúpula dos Povos questiona decisões da COP oficial

Cúpula dos Povos e Marcha Mundial pelo Clima foram marcos da intensa participação de movimentos sociais e populações tradicionais na COP30, exigindo medidas efetivas contra a clise climática

Foto: Sophia Vieira/Outra Saúde
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Nesta sexta-feira (14), aconteceu a plenária final da Cúpula dos Povos, reunindo movimentos sociais de diferentes países para apresentar a síntese de dois anos de construção coletiva e três dias de intensa mobilização. Esse espaço paralelo à COP oficial teve como objetivo a crítica à forma como se dão as negociações climáticas na conferência: com exclusão dos povos e de suas reais demandas. Ali se tensionaram as falsas soluções voltadas para o lucro e reafirmou-se que a justiça climática só será conquistada repensando o funcionamento total da sociedade.

A comissão política afirmou que a Cúpula dos povos funcionou como um vislumbre do que pode ser uma sociedade que funcione de forma mais coletiva e em sintonia com o meio-ambiente. O Grupo de Trabalho de sistemas alimentares saudáveis, responsável pela alimentação na Cúpula, destacou que “comer é um ato político”: por isso, toda a alimentação veio dos territórios, produzida de forma agroecológica — cerca de 10 toneladas de alimentos por dia foram destinados ao evento. Também estiveram presentes representantes do Fórum Internacional de Povos Pescadores e do MPP Brasil, vindos de múltiplas regiões do Sul Global, que denunciaram nas ruas e discursos as grandes corporações exploradoras dos mares e das comunidades.

A plenária final reforçou os temas históricos em disputa pelos movimentos sociais, como a reforma agrária, soberania alimentar e direitos dos povos originários. Contudo, eixos que estavam em disputa durante o evento foram deixados de fora por falta de consenso. A crítica ao TFFF e à exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, políticas do governo federal, foram dois temas urgentes que não entraram nas declarações finais.

Na manhã do dia seguinte, sábado (15), aconteceu a Marcha Mundial pelo Clima. Cerca de 70 mil pessoas ocuparam as ruas de Belém, partindo do Mercado de São Brás até a Aldeia Cabana. O ato contou com blocos pela reforma agrária, internacionalistas, de juventude, dos povos originários, de movimentos religiosos e de manifestações artísticas.

O trajeto de 5 quilômetros foi feito com pouca ou nenhuma escolta da polícia local, de maneira que a administração do tráfego ao redor foi feita pelos voluntários da COP e por grupos indígenas que compunham a manifestação. Com auto-organização, a população levantou mais uma vez as verdadeiras demandas de luta contra a crise climática: o enterro dos combustíveis fósseis, a demarcação de terras indígenas, a taxação dos super ricos e um sistema que se baseie em uma relação saudável e não predatória com o planeta.

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