Outra Saúde apresenta o Seminário SUS 35 anos

De 18 a 19 de setembro, em São Paulo, um evento que busca ir além de um balanço da saúde brasileira. Propomos debates para pensar em como enfrentar os desafios postos hoje à ampliação do sistema público e universal brasileiro. Veja a programação e inscreva-se

Um médico do programa Mais Médicos cuida de uma criança em sua residência. SUS celebra 35 anos em 2025 e é preciso pensar no seu futuro.
Foto: Araquém Alcântara
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“Estamos diante de uma feroz competição política entre o público e o privado por recursos materiais e simbólicos”, alertou o professor Jairnilson Paim, figura histórica da reforma sanitária brasileira, em sua fala no encerramento do 5º Congresso de Política, Planejamento e Gestão de Saúde da Abrasco, em Fortaleza, no final de 2024. Naquele momento, ele refletia sobre como poderemos construir “um SUS do tamanho do povo brasileiro” em meio aos enormes desafios que se impõem. No ano de aniversário de 35 anos da Lei nº 8080/90, que deu as bases para a regulamentação do Sistema Único, Outra Saúde procura contribuir com esse debate inadiável.

Já há alguns meses começamos a organizar, junto com o Instituto Walter Leser (IWL/FESPSP), o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da FCMSCSP e a Fundacentro (MTE), o Seminário dos 35 anos do SUS, que acontecerá de 18 a 19 de setembro, na Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP), em São Paulo. Entre os convidados que nos honram com sua presença estão o próprio Jairnilson Paim, professor e fundador do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, a ex-ministra da Saúde e socióloga Nísia Trindade e o sanitarista, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina.

Na efeméride dos 35 anos da sanção de sua Lei Orgânica, o objetivo do evento será promover uma discussão aprofundada sobre os rumos que o Sistema Único de Saúde precisa tomar daqui em diante, em meio a um cenário de notáveis desafios para a saúde coletiva em âmbito nacional e global. Nesse sentido, o seminário buscará ir além do balanço do período desde que o SUS foi constituído até o momento: pretendemos nos concentrar sobretudo na formulação sobre os caminhos futuros.

A programação ainda está em construção, mas uma primeira versão já pode ser vista na página de inscrição do evento. Na quinta-feira (18/9), abriremos o dia com diálogos sobre as políticas para a saúde da população negra e quilombola. Aqui, a tentativa é refletir sobre como as imensas desigualdades brasileiras permitem que essas pessoas – bem como outras minorias e maiorias subalternizadas – continuem sendo marginalizadas inclusive na saúde. Ainda na tarde do primeiro dia, debateremos os desafios para a construção do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, como ele pode ampliar a soberania do Brasil e reverter o processo de reprimarização que já dura décadas. Em seguida, fala a ex-ministra Nísia Trindade, que encabeçou a reconstrução do SUS entre 2022 e início de 2025 após os anos de devastação dos governos Temer-Bolsonaro.

A sexta-feira, 19 de setembro, marca o dia em que a sanção da Lei Orgânica do SUS faz 35 anos. Propomos três mesas com mais debates essenciais. Pela manhã, discutiremos a transformação digital da saúde e como as novas tecnologias e a inteligência artificial podem trazer inovações significativas para o SUS – mas também apresentam grandes riscos relacionados ao controle de dados da população. O evento segue com outro tema que está na ordem do dia: o financiamento do SUS, que sempre foi muito aquém de suas necessidades, e que continua a ser um desafio em um contexto de “cortes de gastos”. Uma conversa sobre a saúde dos trabalhadores e como esse tema deve estruturar ações do SUS fecha a tarde. No início da noite, Gonzalo Vecina e Jairnilson Paim fazem a conferência final do seminário, com a mediação de Ubiratan de Paula Santos.

Para a preparação do seminário, Outra Saúde apresenta uma série de entrevistas também com o foco em pensar no futuro do SUS em um contexto complexo. Já publicamos duas delas. A primeira abordou o debate mais quente a respeito da Saúde nas últimas semanas: o desafio de acelerar a fila de exames e cirurgias, e garantir que todos os brasileiros possam tratar suas doenças de forma digna e rápida, com médicos especialistas, equipamentos e integração do sistema. A convidada para falar sobre o tema foi Ligia Bahia, médica e coordenadora do Grupo de Pesquisa de Empresariamento da Saúde da UFRJ. O segundo debate voltou os olhos aos rincões do país, com o foco em um dos principais problemas enfrentados pelo SUS hoje: o número inaceitável de mortes maternas, em especial entre mulheres indígenas. Para pensar em como reduzir esse índice e garantir que os saberes tradicionais sejam integrados ao SUS, conversamos com Júlio Schweickardt, sociólogo e pesquisador da Fiocruz Amazônia. A cada semana, até os dias do seminário, publicaremos uma nova entrevista da série.

“Nós temos, sim, um compromisso com a agenda da reconstrução, mas nós não podemos rebaixar as nossas demandas. Não podemos rebaixar um conjunto de princípios e de orientações que transcendem governos”, discursava Jairnilson Paim naquele novembro de 2024. Celebrar os 35 anos do SUS durante o terceiro mandato de Lula na presidência significa reconhecer que temos um governo comprometido, em palavras, com o sistema público de saúde. Mas também enxergamos que é preciso ir além do projeto racionalizador, que busca fazer o possível com o cobertor curto do orçamento que há hoje, às voltas com o sequestro dos recursos e da própria capacidade de governar pelo Congresso Nacional, em um contexto de ampliação da financeirização a nível global. Justamente porque as adversidades são enormes é que não podemos nos furtar a debater com profundidade sobre como construir o SUS do tamanho que o Brasil precisa.

Para inscrever-se no Seminário SUS 35 anos e saber todas as informações, acesse aqui.

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