Os resultados da vacina contra dengue brasileira

• Eficácia da vacina do Butantan • Variante mais ríspida do vírus Oropouche • Queimadas batem recorde no Brasil • Guarani-Kaiowá: depois de ataques, a fome • Como a Colômbia desenvolve sua indústria de maconha medicinal •

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A espera terminou: enfim foram divulgados os dados a respeito da eficácia da vacina contra a dengue produzida pelo Instituto Butantan – e os resultados são bastante animadores. Os dados do estudo de fase 3, publicados na The Lancet Infectious Diseases, indicam que o imunizante garante eficácia geral de 67,3%. A vacina manteve segurança e eficácia por uma média de 3,7 anos após a aplicação. A proteção contra dengue “com sinais de alarme” e “grave” foi de 89%, um marco significativo considerando o impacto dessas formas da doença no sistema de saúde. Foram acompanhados mais de 16 mil pacientes de 2 a 59 anos durante 2 a 5 anos. 

O virologista Maurício Nogueira e a diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos, celebram os resultados como um avanço crucial na prevenção da dengue, em entrevista ao Estadão. Isabella Ballalai, da Sociedade Brasileira de Imunizações, reforça a importância de vacinas que previnem as formas graves da doença. A vacina Butantan-DV mostrou eficácia de 75,8% contra o sorotipo DENV-1 e 59,7% contra o DENV-2. A submissão à Anvisa está em curso, com a expectativa de aprovação e disponibilização da vacina para o Ministério da Saúde em 2025. Os especialistas ressaltam a necessidade de novos dados de acompanhamento e possíveis doses de reforço devido à diminuição da eficácia ao longo do tempo.

Hoje, o Brasil oferece, para a faixa etária de 10 a 14 anos, a vacina Qdenga, produzida pela farmacêutica Takeda para a proteção da dengue. A restrição de vacinas acontece porque a produção da empresa japonesa não é suficiente para alcançar uma margem maior de nossa população. Esse é um dos problemas que a vacina do Butantan poderá resolver, quando começar a ser produzida em larga escala e disponibilizada pelo SUS. Em um momento no qual a dengue torna-se preocupação mundial, inclusive de países ricos, o desenvolvimento de um imunizante eficaz e de produção nacional também pode ser de extrema importância para a indústria brasileira.

Febre do Oropouche: nova variante se replica com mais rapidez

Uma variante do vírus causador da febre do Oropouche, identificada no Norte do Brasil, parece estar associada ao aumento de casos da doença. Nos primeiros sete meses de 2024, foram registrados 7.284 casos, incluindo quatro de microcefalia e três mortes, uma fetal. Pesquisas da Unicamp revelaram que a nova variante, Orov_BR-2015-2024, se replica 100 vezes mais rápido que a original, aumentando a propagação. Transmitido pelo mosquito-pólvora, o vírus se espalhou por várias regiões do Brasil. Mudanças climáticas e desmatamento contribuíram para a expansão da doença. A epidemia já afeta 20 estados e preocupa por possíveis adaptações do vírus a novos vetores urbanos.

Em 2024, queimadas em proporções assombrosas

No primeiro semestre de 2024, o Brasil registrou um aumento significativo de queimadas, alerta a revista Pesquisa Fapesp. Foram cerca de 42,3 mil focos de fogo, 50% a mais do que no mesmo período de 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este é o maior número desde os anos de 2003 e 2004. O Pantanal foi o mais afetado, com quase 3,9 mil focos, 16 vezes mais que em 2023. A Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica também apresentaram aumentos significativos. A seca prolongada e o aumento da temperatura, exacerbados pelo aquecimento global, são fatores-chave para a escalada das queimadas. Em junho, o Pantanal registrou 4.060 km² queimados, recorde histórico. A maioria das queimadas é causada por atividades humanas: 95% dos focos estão em propriedades privadas. O segundo semestre promete ser preocupante, especialmente para o oeste da Amazônia e o Cerrado, com expectativa de mais incêndios devido à estação seca prolongada e às temperaturas elevadas.

Violência e fome entre Guarani-Kaiowá após conflito por terra

O Intercept Brasil fez uma denúncia, publicada em reportagem, que retrata a crise humanitária vivida pelos Guarani-Kaiowá na retomada Kurupa’yty, em Douradina/MS. Desde julho, 70 indígenas, incluindo 30 crianças e 4 bebês, enfrentam fome extrema e ameaças constantes de jagunços. A terra, de 12.196 hectares, foi delimitada pela Funai em 2011, mas a demarcação está paralisada devido a uma ordem judicial e ao Marco Temporal. Desde 2011, os Guarani-Kaiowá realizaram sete retomadas na área, enfrentando violência física e psicológica. Em um recente ataque, dez indígenas foram feridos. As ameaças intensificaram após a retirada da Força Nacional, que alegou falta de efetivo e não se responsabilizou por novos ataques. Os indígenas relatam a hostilidade dos habitantes locais e a recusa de venda de suprimentos. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, visitou a área. Já o Ministério da Justiça não se pronunciou sobre a interação dos policiais com os jagunços e a ausência durante o ataque, ocorrido enquanto patrulhavam outra área.

A indústria colombiana de maconha medicinal

A Colômbia tem visto uma transformação importante desde a legalização da cannabis para fins medicinais em 2015. Com mais de 3 mil licenças emitidas, o país agora possui cerca de 864 hectares de cultivo legalizado e uma área potencial de 57 mil hectares. Essa regulamentação gerou um mercado promissor, com expectativas de alcançar US$ 58 bilhões globalmente até 2028.  No entanto, a venda e produção de maconha para fins recreativos permanecem proibidas – esse uso foi barrado por uma decisão do Senado colombiano. Atualmente, o Brasil é o maior destino das exportações colombianas de cannabis medicinal, representando 32% do total em 2023. “O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, diz planejar aumentar a exportação de produtos à base de cannabis para o Brasil”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), Thiago Hermano, à BBC.

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