Os povos mais vulneráveis às mudanças climáticas
• Crise climática e desigualdades sociais • Novas evidências dos perigos do cigarro eletrônico • Prejuízos ao SUS por álcool e cigarro • 140 mi para programa de alimentação saudável • Falhas racistas na IA • Nísia em congresso de epidemiologia •
Publicado 27/11/2024 às 12:36
Uma pesquisa validada pelo Ministério da Saúde concluiu que populações não brancas são as mais afetadas por desastres ambientais no Brasil. Organizada pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática, e baseada em dados oficiais do SUS, o trabalho fez um levantamento do perfil populacional de regiões recentemente afetadas por desastres climáticos ou intervenções do ser humano na natureza que geraram sequelas em ecossistemas locais. Pretos, pardos e indígenas, em especial de Norte e Nordeste, são as populações mais atingidas por tais efeitos. Além de cruzar dados sobre doenças que se tornam epidêmicas em regiões afetadas por algum tipo de ação econômica, a pesquisa relaciona a proporção de pessoas “SUS-dependentes”, isto é, que só podem acessar atendimento médico por meio do sistema público. A pesquisa corrobora as teses de que as alterações do meio ambiente afetam mais duramente as populações mais pobres ou marginalizadas, que dispõem de menor infraestrutura e acesso a cuidados.
Os duros efeitos do vape no corpo
Em sua reunião anual, a Sociedade Radiológica da América do Norte contou com uma importante contribuição na pesquisa em relação ao uso dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), mais conhecidos como vapes. Em estudo ainda não revisado por pares, um grupo de pesquisadores apresentou dados comparativos entre grupo de fumantes dos DEFs e não fumantes. Mesmo entre os fumantes, separou grupos que consumiam cigarros eletrônicos com ou sem a nicotina, princípio ativo do tabaco mais associado ao desenvolvimento de vícios e doenças pulmonares. Contrariamente à propaganda que afirma maior segurança nos produtos desprovidos desta substância, o estudo constata que seus usuários têm suas funções respiratórias prejudicadas, com efeitos da inalação na velocidade do fluxo sanguíneo e absorção de oxigênio.
Saúde amplia investimento em alimentação saudável
O Ministério da Saúde publicou a portaria 5.721 no Diário Oficial, que formaliza a entrega de R$ 140 milhões para municípios investirem em programas de alimentação saudável. O dinheiro será liberado ainda neste ano e significa o triplo do último repasse, de R$ 54 milhões. A ação está vinculada à Política Nacional de Alimentação e Nutrição e foi organizada pelo Comitê Intergestores no início do ano, isto é, em parceria com as secretarias municipais e estaduais. O programa é parte do Financiamento de Ações de Alimentação Saudável, criado em 2006 e que alcançou cerca de mil municípios. Com o aumento de investimentos, o ministério afirma que agora o programa poderá ser universalizado por todas as cidades do país. A ação faz parte do programa Brasil sem Fome, uma das principais bandeiras de campanha de Lula.
Álcool e ultraprocessados geram R$ 28 bilhões anuais de prejuízo
Uma pesquisa realizada em conjunto entre a Fiocruz, a consultoria em saúde Vital Strategies e a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), quantificou os danos econômicos causados pelo consumo de alimentos altamente industrializados e bebidas alcoólicas no SUS. Segundo os dados, os prejuízos diretos e indiretos chegam a R$ 28 bilhões, que se referem a gastos diretos em atendimentos em saúde e também danos como afastamento do trabalho e produtividade. Os responsáveis pelo estudo defendem uma reforma tributária que aumente impostos a tais setores, cujos produtos são frequentemente mais baratos do que alimentos saudáveis, o que também significa necessidade de avanços em ações de promoção da agricultura familiar e agroecologia, fontes de alimentação mais saudável. Em junho, o Instituto Nacional do Câncer publicou o estudo “Carga da doença e econômica atribuível ao tabagismo no Brasil e potencial impacto do aumento de preços por meio de impostos”, que estimou em R$ 153 bilhões os custos anuais diretos e indiretos gerados por doenças relativas ao tabagismo.
Algoritmos racializados levam a decisões médicas erradas
Em sua coluna no jornal O Globo, a bióloga Natália Pasternak alertou sobre os perigos da algoritmização da medicina e seus diagnósticos motivados por padrões socialmente construídos. Ela usou como exemplo as doenças renais dos EUA, onde a população negra tem seus diagnósticos subdimensionados em razão de consensos anticientíficos de base cultural. Neste caso, a inteligência artificial absorveu a falsa noção de que tal grupo social teria uma genética favorável em relação às funções nefrológicas, o que não corresponde à realidade e resulta em ausência de diagnóstico até em casos graves. Pasternak também destaca que tal constatação não pode ser confundida como uma negação dos determinantes sociais em saúde, que consideram o contexto socioeconômico e ambiental de populações diretamente afetadas por marcadores raciais.
Nísia apresenta trabalho crítico ao neoliberalismo em congresso
Foi aberto neste domingo o 12º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, realizado no Rio de Janeiro em parceria da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e as principais instituições de ensino superior do estado: UFRJ, UERJ, UFF e Fiocruz. Com cerca de 3 mil participantes, o congresso termina na quinta, 27/11, e na sua abertura contou com a participação da ministra da Saúde, a socióloga com especialização em História da Saúde Nísia Trindade de Lima, que apresentou o trabalho “Mutação: Tempos de Emergências”, e trata sobre os efeitos das mudanças climáticas na saúde coletiva.
Na sua dissertação, a ministra relaciona os contextos sanitários gerados pelo modelo de desenvolvimento econômico estabelecido, isto é, o neoliberalismo. Nísia defendeu a participação social na construção de políticas públicas que combatam problemas de saúde gerados pela ação econômica e seus resultados socioambientais, que moldam o perfil de saúde-doença de um grupo populacional diretamente atingido. O Congresso, intitulado “A Epidemiologia e a Complexidade dos Desafios Sanitários”, reúne trabalhos que debatem questões de saúde mental, doenças infecciosas e emergentes, impactos na saúde coletiva gerados por violência, ação no meio ambiente e desigualdades sociais