Os efeitos da pandemia na saúde e no desenvolvimento infantis
Tratando-se dos efeitos a longo prazo da pandemia da covid-19, é necessário discutir o quanto e de que formas foi afetada toda uma geração de crianças e adolescentes
Publicado 08/07/2025 às 17:18
Cinco anos depois de o vírus de covid-19 ter causado uma pandemia, desencadeando lockdowns generalizados, pesquisadores por todo o mundo estão começando a desvendar os efeitos que tais mudanças sociais abruptas podem ter sobre a saúde mental infantil. Na Inglaterra , o estudo “Nascidos no ano da covid: principais efeitos do lockdown” investiga o papel do isolamento social em três grupos de crianças nascidas em três períodos diferentes: antes da pandemia; durante os lockdowns em 2020; e depois de eles serem suspensos, em 2021.
As conclusões preliminares, que devem ser publicadas ainda este ano, podem demonstrar a comunicação enquanto elemento afetado pelo isolamento social, já que crianças que eram bebês durante a pandemia indicam vocabulário menor e podem ter mais dificuldades com habilidades de raciocínio de maior grau. Embora especule-se que a falta de oportunidades sociais – como o ato de acenar para as pessoas ou ouvir vozes diferentes falando – no primeiro ano de vida possa ter tido um impacto desproporcional no desenvolvimento das crianças, os pesquisadores apontam a necessidade de se investigar mais a fundo as razões desse atraso.
Lado a lado à questão comunicacional, a educação também parece ter sido uma das áreas mais afetadas. Estima-se que 1,6 bilhão de estudantes em mais de 190 países atravessaram a pandemia em anos escolares. Deste contingente, as crianças sem acesso a computadores ou conexões de internet confiáveis sofreram mais. Por isso, os efeitos são particular e inevitavelmente maiores entre os estudantes de famílias de baixa renda e entre comunidades marginalizadas.
As consequências da precarização dos estudos podem, por sua vez, ter implicações econômicas duradouras: um relatório produzido pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA conclui que as perdas de aprendizado ocorridas durante a pandemia podem gerar perdas de renda, e custar trilhões de dólares a essa geração de estudantes. Os resultados coincidem com outras pesquisas realizadas na Europa.
O custo de longo prazo para a sociedade também diz respeito à saúde física e mental das crianças. Um estudo realizado no Reino Unido mostrou que a obesidade entre crianças de 10 a 11 anos aumentou durante a pandemia, e persistiu. É provável que isso se deva a mudanças nos hábitos alimentares e nas práticas de atividade física que ocorreram mundo afora durante a pandemia.
No que tange à saúde mental, a pesquisadora da área de educação da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Judith Perrigo, através de um estudo de longo prazo com professores e alunos do jardim de infância, percebeu que as pontuações das crianças em relação à maturidade emocional melhoraram durante a pandemia. Embora possa parecer positiva essa relação entre adversidades e maturidade emocional, ela vem acompanhada de níveis elevados de ansiedade, depressão, raiva e irritabilidade, bem como mais sinais de internalização e problemas comportamentais devido aos longos períodos de confinamento. Aquelas mais privilegiadas, com acesso a entretenimento e com famílias mais estruturadas, também se saíram melhor.
Nesse contexto, Perrigo adverte que mais apoio é necessário para ajudar os jovens que enfrentaram uma mudança tão abrupta em suas vidas. Levando em conta a profundidade dos impactos do lockdown, que ainda não podem ser totalmente compreendidos, “não há razão para acreditar que essas trajetórias vão melhorar por conta própria nos próximos cinco anos ou na próxima década, a menos que façamos coisas de forma concentrada para garantir que elas melhorem”, disse ela.
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