Os ataques do CFM a Ligia Bahia e o apoio à sanitarista

• Apoio a Ligia Bahia de entidades da saúde e ciência • Produção de remédios contra doenças negligenciadas • “Teto verde” contra o calor extremo • Novo hospital público de cuidados paliativos • As assustadoras falas de Kennedy Jr, o negacionista •

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Afastado de suas atribuições legais do Conselho Nacional de Saúde e virtualmente ausente do Conselho Nacional de Residência Médica, o Conselho Federal de Medicina (CFM) voltou à carga contra a médica sanitarista Ligia Bahia, que fez críticas à atuação do órgão dominado por médicos bolsonaristas em entrevista ao ICL Notícias transmitida no YouTube. O órgão que regula a atividade médica insiste em se dizer vítima de discurso de ódio e acusa Bahia de proselitismo ideológico por suas críticas, que acusam o CFM exatamente de tais vícios em sua atuação. 

Em resposta, várias entidades relacionadas a profissionais da saúde e da ciência se manifestaram contra a autarquia estatal. Em nota, a Frente Pela Vida (FpV) “reafirma seu apoio à Lígia Bahia, pela correção técnica e científica do seu pronunciamento, entende que o atual processo que move o CFM trata-se de um ato inadmissível contra a professora, que atenta inclusive ao seu direito constitucional à liberdade de opinião e crítica”. 

Em novembro, a justiça já havia indeferido liminar na qual o CFM pedira indenização de R$ 100 mil pela posição da médica ao ICL. Naquele contexto, ela entrou em temas como cloroquina e direito ao aborto legal, que são tratados pelo órgão na exata medida da ação política da ultradireita, inclusive com perseguição institucional a profissionais que prestavam atendimento a meninas aptas a abortar de acordo com a exigência da lei. 

Além da FpV, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Academia Brasileira de Ciências, Conselho Nacional de Enfermagem e Centro Brasileiro de Estudos em Saúde endossaram o apoio à Ligia Bahia. Comandado por conselheiros que tiveram papel ativo na promoção do negacionismo científico durante a pandemia, o órgão acabou de passar por eleições nas quais os vencedores das disputas regionais foram acusados de fraude em um processo eleitoral realizado pela internet.

Farmanguinhos dedica-se ao combate de doenças negligenciadas

No dia 30/1, foi celebrado o dia de combate às Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), que no Brasil são alvo do Programa Brasil Saudável. Como demonstrou matéria recente do Outra Saúde, trata-se de recente política pública que visa o controle e eliminação – dentro do conceito de problema de saúde pública – de 11 doenças tidas como evitáveis ou tratáveis, além da transmissão vertical de quatro diferentes vírus. 

Neste sentido, a Fiocruz destacou o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) como arma fundamental do país na produção de medicamentos dedicados ao combate a tais infecções, que afetaram quase 600 mil brasileiros entre 2016 e 2020, e levaram 40 mil a óbito. A instituição destaca seus esforços no avanço tecnológico da produção de tais terapias, a fim de ampliar seu acesso à população vulnerável – perfil quase exclusivo das pessoas que contraem essas doenças. Segundo o Portal de Notícias da Fiocruz, foram distribuídas 52 milhões de unidades de diversos medicamentos contra as DTNs em 2024.

“Teto verde” nas favelas contra aumento do calor

Uma solução simples e barata para as ondas cada vez maiores de calor está em ação no Rio de Janeiro. Trata-se dos “tetos verdes”, ideia concebida pelo ativista Luis Cassiano, fundador da ONG Teto Verde, que estimula moradores de favelas da cidade a criarem pequenos jardins em telhados e outras áreas dos irregulares aglomerados urbanos onde vive a população mais pobre. 

Por se tratarem de áreas de ocupação desordenada, não há planejamento urbano, muito menos soluções urbanísticas modernas para o novo padrão climático que se manifesta de forma cada vez mais intensa. A reportagem da National Public Radio, um meio de comunicação público dos EUA, visitou favelas como a do Parque Arará, onde vive Cassiano, e mostrou como moradores se viram para tornar tetos de pontos de ônibus ou moradias um espaço de cultivo de grama e plantas, de forma a contornar os custos do consumo de ar condicionado e outros bens eletrodomésticos.

Primeiro hospital público de cuidados paliativos é aberto em Salvador

O Hospital Mont Serrat, localizado na capital da Bahia, entra para a história da saúde pública brasileira ao ser inaugurado como o primeiro grande estabelecimento de saúde pública voltado aos cuidados paliativos do Brasil. O acontecimento está diretamente relacionado à Política Nacional de Cuidados Paliativos, sancionada em 2023 e que estabelece esta nova especialidade como parte da política integral de saúde e também especialidade profissional, ainda em estágio inicial no país em termos de formação de profissionais. 

A cerimônia contou com a presença da ministra Nísia Trindade e o hospital terá 70 leitos e diversos serviços, inclusive de apoio ao luto. Está capacitado para até 2 mil atendimentos diários. A nova política pública tem orçamento de R$ 887 milhões para este ano e dialoga com a Política Nacional de Cuidados, também recém-sancionada, que antecipa um futuro de envelhecimento populacional e mudança de perfil epidemiológico dos brasileiros, conforme já analisado em matérias do Outra Saúde (aqui e aqui)

EUA despreparado para crises sanitárias

Em sua coluna na Folha, a jornalista Lúcia Guimarães, que vive em Nova York há 40 anos, descreve com estupor a sabatina de Robert Kennedy Jr no senado norte-americano, onde foi escrutinado sobre possível nomeação para a chefia dos órgãos de regulação médica e sanitária do país. Famoso por suas teorias bizarras e papel nocivo na pandemia de covid-19, Kennedy Jr teve seu desempenho na entrevista criticado, o que coloca sua nomeação em suspense. 

Em seu artigo, Guimarães descreve os perigos de deixar os órgãos de vigilância e dados em saúde a descoberto enquanto a epiddemia de gripe aviária oferece o risco de se alastrar entre seres humanos pelo país, em razão de uma cepa mais forte (já são 60 casos e uma morte). Além disso, destaca que a desconexão dos EUA com a OMS pode tornar o mundo mais vulnerável à transmissão desse e de outros vírus. Para a jornalista, o complexo regulatório norte-americano está defasado, assim como o de vacinas e a política de combate à gripe aviária em sua atual versão. Por sua vez, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, voltou a apelar aos demais países que convençam os EUA a se manter na organização.

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