ONU: pouco mudou na mortalidade infantil

• Pouca redução nas mortes de crianças, em 2023 • Ampliado desmonte da Saúde dos EUA • OMS faz corte de 20% • Opas aponta ações contra as doenças crônicas • Políticas de saúde para pessoas trans • Vacinação contra HPV em Porto Alegre •

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Dois relatórios divulgados pelas Nações Unidas na semana passada trazem novas informações sobre o cenário da mortalidade infantil no mundo. O número de óbitos de crianças de até 5 anos caiu para 4,8 milhões em 2023, contra 5 milhões notificados em 2022, diz um deles. Contudo, o segundo documento aponta que o registro de natimortos foi de 1,88 milhão em 2021, cifra muito similar ao 1,9 milhão do ano anterior. 

Os estudos da ONU destacam que ambos os índices haviam passando por grandes avanços entre 2000 e 2015 – mas que, desde então, uma queda no financiamento das políticas fez com que os números começassem a estagnar. Para piorar, a desigualdade está se agravando, com os óbitos se concentrando cada vez mais na África Subsaariana. Uma criança nascida nesta região do planeta tem 18 vezes mais chance de morrer antes dos 5 anos do que uma que vive na Austrália ou Nova Zelândia.

Governo Trump demite 10 mil da saúde pública

O governo Trump anunciou a demissão de 10 mil funcionários do Departamento de Saúde (HHS, na sigla em inglês), reduzindo seu quadro para 62 mil empregados. Os cortes mais profundos atingirão o FDA (3,5 mil cargos, ou 20% da equipe) e o CDC (2,4 mil postos) – que será reestruturado para focar apenas em doenças infecciosas, abandonando áreas como saúde materna e controle do tabagismo. O secretário Robert F. Kennedy Jr. justificou a medida como parte de um plano para “fazer mais com menos”, centralizando as comunicações e criando uma nova divisão (“Administração para uma América Saudável”). 

“Transformar o CDC em uma agência focada apenas em doenças infecciosas nos faz retroceder a 1948, sem reconhecer que em 2025 as principais causas de morte são doenças não transmissíveis”, afirma a ex-servidora Anand Parekh. Mas os vírus também preocupam. Os cortes, que incluem 1,2 mil demissões no NIH e 300 na agência de Medicare/Medicaid, ocorrem em meio a surtos de gripe aviária e sarampo. Democratas classificaram a medida como “desastre fabricado”, enquanto sindicatos prometem lutar contra as demissões. 

Sem doações dos EUA, OMS cortará em 20% seu orçamento

Com a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom, em e-mail enviado na sexta-feira (28) aos funcionários da agência de saúde da ONU, disse não haver outra opção a não ser começar a fazer cortes no orçamento. Segundo ele, em 2025 a Organização já enfrenta uma perda de receitas de US$ 600 milhões de dólares (aproximadamente R$ 3,4 bilhões de reais). 

Trump alegou que tomou sua decisão pela diferença nas contribuições de Washington e de Pequim, acusando a OMS de “fraudar” seu país. Mais do que de uma participação fixa, a maior parte do financiamento estadunidense vinha de contribuições voluntárias para projetos específicos, incluindo importantes programas para melhorar a assistência sanitária no mundo todo.

O que fazer para conter as doenças crônicas nas Américas

O progresso das Américas na luta contra as doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) ainda é lento, concluiu um encontro regional sobre o tema realizado em Brasília na semana passada. Segundo o diretor da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), o brasileiro Jarbas Barbosa, apenas cinco nações americanas se encaminham para alcançar a meta de reduzir em 25% a mortalidade prematura por essas doenças até 2025. 

As DCNTs ainda causam 6 milhões de óbitos por ano nas Américas. Por isso, o diretor do escritório regional da OMS para o continente incitou os países a implementar com maior urgência ações para conter seus malefícios. O aumento de impostos sobre tabaco e álcool, a rotulagem frontal de alimentos, a oferta de vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) e a oferta de tratamento para hipertensão e diabetes estão entre as medidas indicadas por Barbosa.

Programa de atenção à população trans paralisado há 3 meses

O Programa de Atenção Especializada à Saúde da População Trans (Paes Pop Trans), apresentado pelo governo Lula em dezembro de 2024, está paralisado no Ministério da Saúde. A falta de continuidade do projeto, que, dentre outras atribuições, propõe a atualização da Tabela de Procedimento do Processo Transexualizador do SUS e reduz a idade mínima para procedimentos como mastectomia, deve-se sobretudoà mudança de comando no ministério e à pressão de setores internos do governo e da oposição, segundo fontes ouvidas pela Diadorim

Desde o lançamento do Programa, foram apresentados seis requerimentos de informações sobre ele, assinados por parlamentares do PL, PP e Republicanos, além de um Projeto de Lei para alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a fim de proibir, em todo o país, terapias hormonais ou procedimentos médicos em menores de 21 anos. O atual ministro Alexandre Padilha ainda não se pronunciou sobre uma possível agilização do Paes Pop Trans.

Por que menos meninos se vacinam contra HPV em Porto Alegre?

A capital gaúcha registra índices de vacinação contra HPV abaixo da média estadual, especialmente entre meninos (67% vs 70% no RS em 2024). Entre as meninas, Porto Alegre superou a média do estado pela primeira vez em 2024 (88%), após quedas acentuadas desde 2017. O médico e professor Alcides Miranda (UFRGS) levanta uma hipótese, que ele mesmo testará na universidade: a terceirização da Atenção Básica pode estar fragilizando o acesso à vacina. Isso porque as OSs impõe metas a suas equipes, o que as faz ficar presas às unidades – quando poderiam estar fazendo visitas domiciliares, na busca ativa por faltosos. O HPV causa câncer do colo do útero (6,6 mil mortes/ano no Brasil), e a vacina em meninos visa reduzir a transmissão.

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