O sofrimento palestino, à luz de Fanon
O psiquiatra e revolucionário martinicano nunca visitou o território. Mas suas ideias são uma ferramenta poderosa para pensar a saúde mental dos que vivem sob a ocupação israelense, propõe estudiosa palestina. Leia trecho de obra recém-lançada pela Ubu
Publicado 22/07/2025 às 06:55 - Atualizado 22/07/2025 às 12:33

Que saúde mental é possível quando se vive sob ocupação há 80 anos? Não só por meio da violência física direta o colonialismo israelense fere e mata os palestinos. Como observou o médico martinicano Frantz Fanon, em contextos assim, a opressão colonial se entrelaça em (e, muitas vezes, origina) cada situação de sofrimento. Em seu tempo, ele “entendeu, à luz da tradição de Marx e Engels, porém reforçada pelos instrumentos do século XX da tradição freudiana, que a escravização física de seres humanos acontecia simultaneamente à escravização de suas almas por meio da perda de suas histórias, dignidade e autonomia”, observam as autoras do texto que publicamos hoje. Por isso, apesar de Fanon nunca ter visitado a Palestina, suas ideias permitem “ler as entrelinhas do manual do opressor e desenvolver uma psicologia da libertação genuinamente robusta”, elas argumentam.
Dando continuidade à comemoração do centenário do psiquiatra e revolucionário da Martinica, Outra Saúde compartilha com os leitores um excerto de um dos artigos de Pensar Fanon, coletânea lançada neste mês de julho por nossos parceiros da Ubu Editora. No trecho que se segue, a chefe da Unidade de Saúde Mental do Ministério da Saúde da Palestina, Samah Jabr, e a psiquiatra infantil Elizabeth Berger analisam casos de sofrimento psíquico nos territórios palestinos ocupados à luz das concepções fanonianas. Boa leitura! (G.A.)
Fanon e a Palestina: a luta por justiça como o cerne da saúde mental (excerto)
Por Samah Jabr e Elizabeth Berger
Embora o psiquiatra Frantz Fanon não tenha escrito nada diretamente relacionado à situação específica enfrentada pelo povo da Palestina [1] desde que seu território foi ocupado [2], suas ideias proféticas continuam servindo de inspiração para palestinos e palestinas ainda hoje, sessenta anos após a sua morte [3].
A genialidade de Fanon se dá pela integração criativa de duas grandes preocupações humanas. Uma é a luta por justiça frente ao controle opressivo de uma população por outra: a necessidade de mudança revolucionária para restaurar equidade à população global, subjugada pela opressão colonial. A outra é a compreensão de que essa sujeição não é apenas política e militar, mas é também profunda, inerente e perversamente psicológica. Fanon entendeu, à luz da tradição de Marx e Engels, porém reforçada pelos instrumentos do século XX da tradição freudiana, que a escravização física de seres humanos acontecia simultaneamente à escravização de suas almas por meio da perda de suas histórias, dignidade e autonomia. O brilhantismo de Fanon foi manter-se firme no compromisso ético principal com a luta por justiça social e econômica, mas estender sua análise à interpretação das incontáveis maneiras em que a guerra psicológica age como elemento constante dessa luta. As operações veladas da ideologia, persuasão, opinião pública, burocracia e divulgação do dia a dia, bem como a persistência enraizada da identificação étnica, racial, de gênero, nacionalidade e classe e suas várias formas de humilhação e legitimidade… essas noções intangíveis e escorregadias passam a ser lidas de outra forma quando observadas pelas lentes cristalinas de Fanon. Suas ideias possibilitaram ler as entrelinhas do manual do opressor e desenvolver uma psicologia da libertação genuinamente robusta.
Ao mesmo tempo em que Fanon desconstruiu a ideologia do opressor como uma imposição de poder e controle de cima para baixo, ele conseguiu trabalhar de forma ascendente, a partir das reações psicológicas dos desalojados, contextualizando a experiência vivida deles como respostas significativas à falta de poder e definindo as linhas gerais para uma solidariedade revolucionária por meio do pensamento, do sentimento e da ação. Acreditamos que a situação da Palestina poderia servir como modelo para essa luta permanente pela ótica dessas pessoas, desde a Nakba (catástrofe) de 1947 até o presente, incluindo a população local de cinco milhões de habitantes e a diáspora palestina pelo mundo de mais de seis milhões de pessoas.
Tanto a história da empreitada sionista quanto a história da resistência palestina em resposta a ela são assuntos muito abrangentes. Aqui, faremos um pequeno recorte: a descrição dos desdobramentos no campo da saúde mental na Palestina. Levantaremos as seguintes questões: qual é o raciocínio contextualizado de profissionais da saúde mental na Palestina? Como trabalhadores e trabalhadoras da Palestina vêm implementando as ideias de Fanon em suas próprias práticas na área da saúde mental? O que profissionais da saúde mental da Palestina vêm fazendo para desafiar o status quo, política e profissionalmente? Analisaremos, portanto, alguns exemplos de trabalhos clínicos, pesquisas, campanhas de solidariedade e ações políticas que reflitam aspectos do rico legado de Fanon.
Trabalho Clínico
As histórias e os comentários a seguir descrevem casos de pacientes reais e situações familiares às autoras enquanto terapeutas ou consultoras. Algumas informações foram alteradas para manter a confidencialidade.
Primeira história: Uma pessoa europeia, profissional da saúde mental empregada por uma organização de ajuda internacional na Palestina, avaliou uma mulher de trinta anos que havia desenvolvido sintomas conversivos graves de fraqueza e paralisia. A mulher morava em um vilarejo rural e seu marido, que já fora um fazendeiro trabalhador de sua própria terra, trabalhava na época como operário em Israel. Como o marido tinha sido obrigado a se deslocar para longe em busca de trabalho, ele só conseguia voltar ao vilarejo uma vez por semana. Por isso, a esposa tinha se mudado para a casa da família do marido. O irmão do seu marido viu, assim, uma oportunidade para abusar sexualmente dela em sua própria casa, desencadeando nela uma série de sintomas físicos. Um xeique local foi chamado para avaliar – quer dizer, um homem que aparentava ser um sábio religioso que, na cultura tradicional palestina, atua como conselheiro e curandeiro. Esse xeique também abusou sexualmente da mulher.
Comentário: Esse caso foi analisado inicialmente pelo corpo clínico à serviço da organização não governamental europeia (ONG) com base na reação histérica da paciente ao trauma causado pelo abuso, resposta que poderia ser considerada relativamente comum em pessoas com baixa escolaridade, com a observação adicional do estado de impotência da mulher e a abordagem não científica dos curandeiros tradicionais religiosos encontrados na Palestina. O supervisor da pessoa responsável pelo atendimento na ONG reconheceu alguns aspectos dessa formulação, mas enfatizou o papel do contexto colonial, em que a ausência do marido foi uma característica-chave para permitir e dar início à violência à paciente.
A ausência do marido, por outro lado, foi motivada por uma série de circunstâncias causadas pela ocupação: a destruição da agricultura local por meio da tomada de terras e deslocamento da população, de restrições à circulação, demolição de casas, da perda de rodovias por meio das quais os produtos chegam aos mercados e da desintegração generalizada da economia rural, da integridade nas comunidades, da unidade familiar e dos modos de vidas.
Nesse contexto de empobrecimento cultural e econômico generalizado na Palestina, a figura do pai e marido ausente é corriqueira – seja essa ausência intermitente em razão de trabalhos como operários mal remunerados em Israel e suas ocupações ilegais, seja em função de desaparecimento por detenção política. A violência à paciente e seus sintomas reativos, apesar de refletirem uma instância isolada de trauma individual, também fazem parte de uma narrativa mais ampla de deterioração familiar progressiva e de um tecido social composto por vários fios entrelaçados. O que está implícito nessa história é a ocupação como agente secreto em todos os seus efeitos corrosivos/devastadores.
Ressaltar o papel desempenhado pela ocupação na gênese da patologia da paciente não significa absolver o irmão do marido nem o xeique impostor de suas respectivas culpas, nem idealizar um vilarejo palestino mitológico do passado como modelo de reforma social para o futuro, muito menos negar a persistência do sistema patriarcal na sociedade palestina (como em todo lugar) como um problema gravíssimo por si só. Ressaltamos aqui o papel desempenhado pela ocupação apenas para demonstrar sua presença (talvez até sua responsabilidade) no quadro geral em que a experiência psicológica da Palestina se dá, além de ser, frequentemente, promotora de sofrimento psicológico.
Segunda história: Uma trabalhadora urbana de 28 anos recorre à psicoterapia para ajudá-la a tomar uma decisão sobre emigrar para a América do Norte – um caso de “fuga de cérebros”. Ela se sentia culpada por deixar a Palestina, principalmente por deixar para trás a mãe, contrária a essa decisão. Por outro lado, a paciente já tinha perdido as esperanças de encontrar um emprego satisfatório na Palestina, totalmente enojada pela corrupção que testemunhava em seu trabalho atual, que envolvia uma parceria entre um Ministério na Palestina e uma ong internacional. Em uma das sessões de terapia, a mulher descreveu ter se imaginado diversas vezes pedindo desculpas aos povos nativos da América do Norte por, segundo sua própria percepção, ocupar suas terras. Ela entendia a ironia dessa situação enquanto membro de uma população sob ocupação em um país partindo em busca de privilégios de classe média desfrutados pelos ocupantes de outro país.
Comentário: A paciente tinha noção das dinâmicas colonialistas que Fanon elucidou, o que demonstra uma consciência desses temas predominantes em sua própria vida psicológica. Numa perspectiva mais ampla, a história dela reflete a frustração comumente sentida face às instituições vigentes na Palestina, que costumam submeter-se às ordens israelenses. O consequente conluio e nepotismo dentro e fora dos Ministérios palestinos são psicologicamente desmotivadores e desanimadores para trabalhadores. É comum ouvirmos relatos de que aqueles com as crenças e conexões “certas” são favorecidos em seus trabalhos, porque são mais facilmente controláveis do que aqueles com ideias inovadoras, menos aptos a manipulações. A mulher da segunda história pertence a uma elite urbana culta, ao contrário da mulher na primeira história. Por outro lado, ambas as pacientes apresentam diferentes versões da mesma história: as duas lutam para viver em uma sociedade profundamente danificada pelo colonialismo. A ausência de uma autoridade legítima na Palestina, perdida durante a ocupação, é uma fonte de insegurança e danos psicológicos que atinge a todos os grupos sociais, sem exceção.
Terceira história: Uma psicóloga que ministrava um treinamento sobre saúde mental para a equipe de uma escola particular perto de Jerusalém Oriental foi contactada pela direção para mediar uma crise provocada pelo desaparecimento de um menino de oito anos daquela comunidade. Imediatamente, as pessoas especularam que a criança teria sido assassinada por israelenses, e equipes de busca e manifestações nas ruas foram surgindo espontaneamente. A comunidade foi tomada por boatos e relatos divergentes. Esses eventos se tornaram drasticamente acessíveis para o público geral e para as crianças em idade escolar de forma dolorosa e assustadora.
Essa crise rapidamente trouxe de volta à memória as circunstâncias ocorridas cinco anos antes a respeito de Mohammed Abu Khdeir, um adolescente palestino de catorze anos sequestrado e queimado vivo por um grupo de colonos israelenses. O assassinato de Khdeir e os eventos posteriores tiveram um impacto psicológico enorme no povo palestino na época e foram destaque nos noticiários internacionais, inspiraram a criação de uma série para televisão e receberam ampla atenção midiática.
Porém, o assassinato de Khdeir não foi um caso isolado, mas sim um caso que se sobressaiu em um cenário de inúmeras agressões a crianças e adolescentes palestinos. Khdeir passou a representar as crianças vítimas de crimes ao se tornar o rosto e a identidade delas. A ocupação israelense vem visando crianças palestinas há gerações. Há muitos registros que demonstram que invasões a residências no meio da noite pelas forças israelenses para deter e interrogar crianças e adolescentes usando métodos de tortura são práticas cotidianas. O sequestro dos corpos de crianças palestinas e a recusa de devolvê-los às famílias para que possam enterrá-los é outro aspecto do comportamento das forças israelenses. Tais violações ao direito internacional e a total falta de decência humana básica são muito familiares ao povo da Palestina por fazerem parte de suas realidades diárias [4, 5, 6]
A psicóloga tinha plena consciência de que o desaparecimento do menino de oito anos tinha reacendido a memória coletiva de Mohammed Abu Khdeir e tudo o que ele simbolizava. Além disso, a crise em questão tinha um aspecto pessoal para ela: a criança desaparecida estudava em uma escola onde a psicóloga tinha ministrado um treinamento semelhante poucos anos antes. Durante esse período crítico envolvendo o desaparecimento dessa criança, ela vivia atormentada e sofria de insônia. Com olhos marejados, ela alertou sua filha caçula que mantivesse o celular em mãos no caminho para a escola. Essas reações pessoais eram estados mentais bastante comuns naquela comunidade.
Essas eram as circunstâncias que pairavam sobre aquele dia em questão. Poucos dias após o desaparecimento, nas primeiras horas da manhã, o corpo do menino desaparecido foi encontrado no fundo de um canal. As águas onde o corpo tinha sido descoberto passavam pela residência da psicóloga. O pai da criança informou publicamente que o laudo legista indicava que seu filho já estava morto quando seu corpo foi jogado no canal. Essa alegação emocionada, embora não oficialmente confirmada, reforçou os boatos de que o menino teria sido assassinado.
Tudo isso aconteceu pouco antes do horário em que as aulas normalmente começariam. A direção da escola em que o treinamento estava acontecendo perguntou à psicóloga se seria melhor se absterem de informar aos estudantes, que já estavam em um estado de intensa insegurança e agitação, que o corpo da criança tinha sido encontrado. Contudo, a psicóloga julgou que a informação deveria, sim, ser compartilhada com os discentes e se reuniu com uma equipe de funcionários da escola para decidir a melhor forma de fazê-lo.
Todas as pessoas que trabalhavam na escola e todo o corpo discente foram, então, informados sobre a descoberta do corpo. Ofereceram um espaço de escuta em grupos de apoio, que acolhiam e encorajavam estudantes a articular e compartilhar seus sentimentos. Essas medidas acalmaram a comunidade escolar, forneceram um ambiente estruturado para a expressão de fortes emoções, fortaleceram a resistência construtiva à ocupação e reduziram os riscos de comportamentos responsivos por parte de estudantes. Assim, o dia na escola seguiu seu processo educacional com relativa calma e cuidado.
Comentário: O trabalho da psicóloga aqui reflete os esforços para transformar a abordagem da escola no que se refere a temas de saúde mental de um foco individual exclusivo no estudante problemático em uma resposta generalizada às necessidades psicológicas mais amplas da escola enquanto comunidade. A psicóloga fazia parte da escola havia mais de um ano como coordenadora de um programa de treinamento in loco que combinava dois objetivos: apoiar jovens específicos com problemas comportamentais, de aprendizagem ou emocionais e atender às necessidades da comunidade escolar como um todo. O programa de treinamento buscava desenvolver competências em comunicação, consciência emocional e resolução de conflitos de forma respeitosa entre todos os funcionários da escola, pais e responsáveis e os próprios estudantes. O objetivo era efetivar uma mudança cultural em todo o ambiente psicológico da escola.
Como parte do programa, a terapeuta/instrutora conduzia uma rápida reunião semanal com funcionários para responder tanto às questões de saúde mental individuais das crianças quanto às questões mais amplas da escola, frequentemente relacionadas à ocupação. Assim, a escola estava em posição de lidar com difíceis realidades em meio à ocupação de maneira adequada para crianças e construtivas para o bem-estar individual e coletivo em termos de desenvolvimento, além de reforçar a solidariedade. O programa já tinha desenvolvido uma abordagem sutil de gerenciamento de crises por meio de um trabalho coordenado entre estudantes, funcionários e familiares [7] para enfrentar ondas de violência periódicas relacionadas à ocupação que vinham acontecendo há anos.
No caso em questão, a reunião com a equipe escolar deu aos participantes a oportunidade de partilhar sentimentos uns com os outros e de apoiarem-se mutuamente em suas funções dentro da escola. Essa reunião reforçou o papel de autoridade da equipe de funcionários da escola perante estudantes e confirmou seu compromisso de apoio mútuo. Também preparou a equipe para lidar com a escola enquanto comunidade carente de fatos – à medida que os fatos podem ser conhecidos, verificados e respeitados – e como uma comunidade que precisa ser consolada. Os sentimentos de luto, raiva, aturdimento, tristeza, medo e impotência foram reconhecidos e nomeados.
Os princípios do gerenciamento de crises de uma perspectiva de saúde mental são amplamente reconhecidos. O que o legado de Fanon acrescenta a esse campo do conhecimento são os elementos adicionais que identificam as partes da crise geradas por circunstâncias opressivas que habilitam os oprimidos a se unirem em uma solidariedade criativa para resistir a essas circunstâncias. No caso da morte do menino de oito anos de idade, os motivos e as condições da morte ainda não foram esclarecidos. O papel do gerenciamento de crise em um contexto como esse é bastante complexo: saber identificar que o histórico de assassinato de crianças palestinas é fonte legítima de uma ansiedade coletiva poderosa na comunidade sempre que houver a morte de uma criança e conseguir identificar a ansiedade manifesta relacionada a esse histórico. Mais especificamente, a psicóloga ajudou a equipe da escola e os estudantes a reconhecer a velocidade com que boatos e desinformação podem circular em uma população já tão prejudicada com traumas recorrentes. Ao nomear essa ansiedade e validar suas origens na histórica violência israelense, ela conseguiu ajudar a comunidade escolar a não se tornar ainda mais caótica em função de rumores infundados, desinformação e pânico.
O objetivo do treinamento e da equipe de saúde mental da escola não era chegar a conclusões específicas sobre a morte daquele menino, muito menos determinar se israelenses eram ou não responsáveis pela morte. O objetivo desse trabalho concebido no âmbito da saúde mental era apoiar a comunidade escolar no reconhecimento partilhado de suas condições básicas de vida como pano de fundo para a experiência naquele momento. Essas condições incluem a capacidade de autogovernança de comunidades deterioradas, comunicação clara, fluxo de responsabilidades e dignidade humana assegurada pelo estado de direito. O treinamento ofereceu à escola meios de reclamar sua autoridade legítima nesses campos tão prejudicados. Dessa forma, a escola pôde reconhecer o sofrimento constante e a desmoralização orquestrada pelo governo israelense por meio dos efeitos devastadores de suas políticas e organizar uma resistência a esses efeitos.
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Acreditamos que o espírito de Fanon é como uma luz que guia profissionais da saúde mental da Palestina e seus apoiadores internacionais, tanto como luta específica quanto como modelo para movimentos anticoloniais e antirracistas ao redor do mundo. A dívida que temos com Fanon é direta e reconhecida por vários dos principais acadêmicos e ativistas na Palestina e por colegas de outros países com quem trabalham. Mas além dessa descendência direta, digamos, é possível enxergar o espírito de Fanon emergindo na prática cotidiana do trabalho com saúde mental na Palestina. Esse fenômeno é um testemunho de que Fanon articulou princípios universais de justiça e dignidade humana, defendidos hoje na Palestina no campo da resistência popular alinhados a lutas semelhantes em todo o mundo. Fanon pode não ter dito nada especificamente sobre a Palestina, mas somos livres para imaginar quais palavras ele teria usado se o fizesse e delas extrair nossa força.
REFERÊNCIAS
[1] Este texto foi originalmente publicado como “Fanon and Palestine: The Struggle for Justice As the Core of Mental Health”, in Nigel C. Gibson (org.), Fanon Today: Reason and Revolt of the Wretched of the Earth. Québec: Dajara Press, 2021. Tradução de Juliana Pavão. [n. e.]
[2] Alice Cherki, correspondência pessoal, 7 de julho de 2019.
[3] Frantz Fanon, Pele negra, máscaras brancas, trad. Sebastião Nascimento e Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020; A Dying Colonialism [1959], trad. H. Chevalier. New York: Grove, 1965; Os condenados da terra, trad. Ligia Fonseca Ferreira e Regina Salgado Campos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968; Alienação e liberdade: escritos psiquiátricos, trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
[4] Abeer Otman, “Handcuffed Protectors? Palestinian Fatherhood-Protection Unlocking Its Chains”. International Journal of Applied Psychoanalytic Studies, v. 17, 2020, pp. 146–64. Disponível on-line.
[5] Nadera Shalhoub-Kevorkian, Incarcerated Childhood and the Politics of Un-childing. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.
[6] N. Shalhoub-Kevorkian, “Gun to Body: Mental Health Against Unchilding”. International Journal of Applied Psychoanalytic Studies, v. 17, 2020, pp. 126–45. Disponível on-line,
[7] Sherein Abdeen, Samah Jabr, Michael Morse, Katherine Lyman & Elizabeth Berger, “A Comprehensive Student Support Program in Mental Health”, Bethlehem University Journal, v. 34, 2017, pp. 43–155. Disponível on-line.
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