O estrago causado pelo fogo em Ribeirão Preto

• Fogo no interior paulista destrói comunidades • OMS tenta controlar mpox, mas as vacinas não chegaram à África • Ambientes escolares sem ultraprocessados • CFM: onde a ultradireita perdeu • Enfermeiras imigrantes empobrecem no Reino Unido •

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Devido ao aumento de atendimentos por problemas respiratórios causados pela fumaça dos incêndios no interior de São Paulo, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto implementou um plantão 24 horas para avaliar casos via telemedicina e encaminhá-los ao atendimento adequado. A iniciativa faz parte de um plano emergencial anunciado pela Secretaria de Estado da Saúde. “A notícia boa é que não tivemos nenhum caso de insuficiência respiratória grave ou de queimados. Com isso, os hospitais não estão pressionados”, afirmou o secretário Eleuses Paiva. O maior impacto aconteceu nas UBSs e UPAs, que tiveram um aumento de até 40% nos atendimentos. A qualidade do ar permanece insalubre, com índices de poluição 13 vezes acima do recomendável pela OMS. 

A secretaria municipal de Ribeirão Preto teme que o aumento neste início de semana seja ainda maior, pois a baixa umidade do ar e a inalação de fumaça pode levar mais pessoas às unidades de atendimento. Uma das cenas mais trágicas aconteceu em um assentamento entre Guatapará e Pradópolis. 360 famílias foram afetadas e pelo menos oito casas foram totalmente destruídas, enquanto outras 80 sofreram danos significativos. Segundo conta uma reportagem da Folha, agricultores locais enfrentaram perdas severas. Estima-se que cerca de 200 animais não resistiram. A situação é agravada pelo cenário de desamparo: muitos moradores já enfrentavam dificuldades antes das queimadas.

Mpox: OMS lança plano de controle…

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um Plano Estratégico Global de Preparação e Resposta para conter a transmissão do mpox entre humanos, após a declaração de emergência de saúde pública internacional em 14 de agosto. O plano, em vigor de setembro de 2024 a fevereiro de 2025, prevê um financiamento de US$ 135 milhões e envolve a OMS, Estados-membros, parceiros como o CDC da África, comunidades e pesquisadores. Focado em vigilância, prevenção e resposta, visa interromper cadeias de transmissão por meio de vacinação estratégica, especialmente para grupos de alto risco, como profissionais de saúde e contatos próximos de casos recentes. A OMS coordenará ações com parceiros internacionais e locais, destacando a importância da solidariedade global, empoderamento comunitário e acesso equitativo a contramedidas médicas. No nível nacional, segundo a organização, as estratégias serão adaptadas conforme as tendências epidemiológicas locais, com ênfase na região africana, onde a necessidade é maior.

…Mas vacinas contra a doença ainda não chegaram onde são urgentes

Isso é o que afirma a OMS. Mas uma reportagem do New York Times demonstra que a resposta global a emergências de saúde não acontece a contento. Apesar de a República Democrática do Congo ser o epicentro da emergência global de saúde para mpox, não há vacinas disponíveis no país, embora tenham sido solicitadas há dois anos. A distribuição de imunizantes está presa em um complexo processo regulatório na OMS, que ainda não aprovou oficialmente as vacinas Jynneos, amplamente usadas nos EUA e na Europa. Sem essa aprovação, organizações como UNICEF e Gavi não podem comprar e distribuir as vacinas em países de baixa renda. Enquanto isso, mais de 15 mil casos e 550 mortes foram registrados no Congo em 2024, principalmente entre crianças. A OMS finalmente sinalizou que poderia emitir uma licença de uso emergencial a partir de setembro, após pressão internacional, mas o atraso já gerou severas críticas. A OMS argumenta que a demora se deve à falta de dados sobre a eficácia da vacina contra a variante do vírus presente no Congo.

Rio: escolas sem ultraprocessados?

Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Desiderata, iniciada em abril de 2024, revelou uma redução na oferta de alimentos ultraprocessados nas cantinas das escolas privadas do Rio de Janeiro, apesar da persistência de desafios. Mesmo com a Lei 7.987/2023, que proíbe a venda desses produtos desde 2023, 41% das cantinas ainda vendem refrigerantes, 55% comercializam guloseimas e 48,4% oferecem salgadinhos de pacote. Além disso, a publicidade de alimentos ultraprocessados nas escolas aumentou de 7,5% para 13,9% entre 2023 e 2024, enquanto a presença de material educativo sobre alimentação saudável diminuiu de 22,5% para 8,1%. Apesar da persistência na venda de ultraprocessados, os dados preliminares apontam que as cantinas do Rio estão quase 10% mais saudáveis em comparação com o ano anterior. A pesquisa faz parte de um estudo mais amplo, que investiga o impacto da regulamentação do ambiente alimentar escolar em 12 cidades brasileiras, promovendo a discussão sobre hábitos alimentares saudáveis e inspirando legislações semelhantes em outras regiões.

CFM: os estados nordestinos que elegeram a oposição

Nas últimas eleições do Conselho Federal de Medicina (CFM), o grupo conservador e negacionista consolidou seu poder, com mais de 60% dos conselheiros reeleitos. Estão entre eles, inclusive, alguns contrários ao aborto legal em casos previstos por lei. No entanto, uma resistência organizada ganhou força em estados como Pernambuco e Paraíba, onde chapas progressistas foram eleitas. Uma reportagem do Intercept Brasil conversou com membros das chapas vitoriosas. Essas vitórias indicam um desejo crescente de mudança no CFM, com uma defesa mais forte da ciência e da ética. A Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia (ABMMD) também tem ampliado sua influência, destacando-se na oposição ao negacionismo. Em Pernambuco, os novos conselheiros buscam reverter a partidarização da medicina, focando em evidências científicas. A disputa acirrada nas redes sociais reflete o conflito entre os que desejam manter o CFM conservador e aqueles que clamam por uma entidade mais progressista e ética.

Enfermagem: trabalhadores estrangeiros sofrem no Reino Unido

Enfermeiros estrangeiros no NHS do Reino Unido estão sendo empurrados para a pobreza devido a regras que os impedem de acessar benefícios sociais por cinco anos após chegarem ao país. Com vistos temporários, esses profissionais são excluídos de auxílios como benefícios infantis, habitação e crédito universal, apesar de contribuírem com impostos. Um relatório do Royal College of Nursing (RCN) revela que muitos enfrentam endividamento e fome. O RCN apela ao governo para que elimine essa regra injusta, que penaliza os enfermeiros estrangeiros e coloca em risco a retenção desses profissionais essenciais. A ONU também recomendou ao Reino Unido revisar essa política para proteger os migrantes da pobreza e da precariedade, destacando os impactos negativos dessa exclusão. A crise no sistema de saúde pode ser agravada pela perda desses trabalhadores essenciais. Este boletim tem tratado do problema de evasão de profissionais da enfermagem de seus países de origem – em especial da falta que fazem para o Sul Global, ao emigrarem.

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