O drama ignorado dos que trabalham com mineração

Eles engordam a balança comercial do Brasil e o lucro de corporações como a Vale. Mas, como há séculos, ganham muito pouco e penam com dores físicas e psíquicas constantes. Congresso da Abrasco jogou luz sobre o drama e a luta dos trabalhadores em mineração

.

Com enorme importância econômico-social para países como o Brasil, a mineração é uma das mais antigas atividades exercidas pela humanidade – e uma das mais perigosas, independente da mina ser no subsolo ou na superfície. Alguns estados brasileiros apresentam altas taxas de adoecimento e morte de trabalhadores que atuam na área. E os dados, já preocupantes, provavelmente escondem um problema ainda mais grave, pois há subnotificação. 

É o que foi apresentado no painel “A luta dos trabalhadores, das trabalhadoras e das populações por melhores condições de vida e trabalho em territórios minerários”, que ocorreu no 13º Congresso de Saúde Coletiva na segunda-feira (22/11), em Salvador. No encontro, especialistas demonstraram que a mineração legal não atinge apenas o ambiente e a população que vive em seus entornos, mas também os próprios trabalhadores contratados por empresas como a Vale e CSN. 

“Trabalhar com mineração é ter a garantia de que haverá algum tipo de lesão, seja por contaminação, salários baixos ou abuso físico e mental. Desde que o mundo é mundo, essa atividade sempre foi predatória”, explicou Marta de Freitas, engenheira, especialista em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente e coordenadora do Fórum Sindical e Popular de Saúde dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Minas Gerais. 

Hoje, o Pará supera Minas Gerais no ranking de estados brasileiros com mais atividades minerárias, ocupando o primeiro lugar. Bahia e Goiás disputam a terceira colocação.  “A mineração encanta as populações locais, pois promete gerar empregos”, explica Freitas, que levantou dados acerca da ocupação nas principais regiões minerárias através dos sindicatos da categoria. Segundo ela, em nenhum dos casos analisados nas empresas Vale e CSN, o piso salarial chegava a um salário mínimo e meio – o equivalente a R$1818 – apesar do trabalho ser de risco à saúde. 

Em 2017, o relatório Atlas, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) diagnosticou que “a geração de empregos na mineração tem limites”, uma vez que os postos de trabalho criados pela atividade são pequenos em relação ao tamanho dos investimentos. Freitas afirmou ainda que a maioria dos contratos de trabalho são temporários e têm jornadas exaustivas, com turnos de 12h. 

A atividade é ligada a uma série de problemas de saúde, como lesões na coluna por movimento repetitivo e surdez, mas Freitas apontou que há uma categoria que doenças que vem crescendo cada vez mais entre os trabalhadores da mineração: as psiquiátricas, fruto da insegurança econômica e das jornadas exaustivas, que acabam por comprometer o convívio social e familiar. Segundo a especialista, os sindicatos relataram que muitos trabalhadores admitiram fazer uso de remédios controlados para trabalhar – como o Lorax – e para dormir – Rivotril. “Quem toma esses remédios não pode usar máquinas, então muitos são demitidos por justa causa. Já vi esposas irem desesperadas aos sindicatos falar que o marido só dorme se misturar remédio com álcool”, relatou. Freitas apontou a necessidade de serem pensados novos modelos de mineração para a extração dos metais necessários à indústria, e lembrou que a maior parte do que é extraído hoje no Brasil é destinado à exportação.

Leia Também: