O diabetes também pode ser causado pela fome

Artigo da nova edição dos Cadernos de Saúde Pública discute os fatores sociais da ocorrência de diabetes, dos quais destaca-se a insegurança alimentar grave

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Embora já esteja consideravelmente difundida a informação de que a alimentação é um fator importante para o aparecimento de doenças crônicas não-transmissíveis, como a obesidade e a hipertensão, menos se sabe sobre as relações entre a fome e o diabetes. Apenas recentemente, a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) reconheceu o diabetes mellitus relacionado à desnutrição (DMRD).

Em um artigo publicado na nova edição dos Cadernos de Saúde Pública, lançada hoje (1/9), os pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (USP) Daniel Ferreira da Silva e Dirce Maria Lobo Marchioni avançam sobre essa questão. Eles estabelecem o que é uma insegurança alimentar grave e narram o processo de definição de diabetes. Mas seu artigo tem como grande novidade pensar sobre a maneira com que se tem pautado a insegurança alimentar grave nas agendas internacionais e suas implicações para a saúde pública brasileira.

“Esse cenário pode ter implicações ainda mais profundas em regiões historicamente marcadas por desigualdades sociais, como na América Latina, onde a obesidade e as carências nutricionais coexistem, muitas vezes, em uma mesma pessoa, família ou comunidade, caracterizando a dupla carga de má nutrição”, escrevem os autores. 

Falando em coexistência, Daniel e Dirce lembram que, no pós-pandemia da covid, enquanto cerca de 15,5% das 33 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança grave no Brasil, este era o sexto país do mundo com maior número de pessoas com diabetes mellitus. Diante disso, o reconhecimento do DMRD representa uma quebra de paradigma ao propor que a formulação diagnóstica considere dimensões sociais como parte indissociável de adoecimento, especialmente ao se levar em conta que uma anamnese clínica nem sempre inclui antecedentes sociais e experiências de vida do paciente – como, em realidade, deveria.

Os autores estabelecem a iniciativa da Federação Internacional de Diabetes como um ponto de inflexão na forma como a saúde pública global encara os determinantes sociais de doenças endocrinometabólicas e das doenças crônicas.  “A inclusão desse tema nas agendas globais reforça a necessidade de se produzir conhecimento mais sensível às realidades vividas por populações marcadas historicamente por profundas desigualdades sociais. Ela abre caminho para novas pesquisas e revisões, possibilitando maior atenção à doença, especialmente em países de baixa e média renda, onde a insegurança alimentar grave e a desnutrição são desafios persistentes”, destacam.

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