O desmatamento mata e adoece humanos, mostra nova pesquisa
Saúde global já é impactada pela destruição de florestas, sobretudo as tropicais. Quais os efeitos e quem eles mais afetam?
Publicado 28/08/2025 às 11:58
Um estudo internacional, publicado na Nature Climate Change, avaliou o impacto do desmatamento de florestas tropicais sobre a saúde humana. A pesquisa foi liderada pelo Instituto de Ciência do Clima e Atmosfera da Universidade de Leeds, no Reino Unido, em colaboração com a Fiocruz e a Universidade Kwame Nkrumah de Ciência e Tecnologia, em Gana. Os cientistas utilizaram, de forma inédita, uma escala que inclui todas as regiões tropicais do mundo – nas Américas, na África e na Ásia. Apesar das variações regionais, os resultados apontaram que em todas essas regiões há uma ligação direta entre perda de floresta, aumento de temperatura local e elevação de mortalidade – mortes estas que, em sua maioria, eram evitáveis.
A investigação indica que, em quase 20 anos (entre 2001 e 2020), 345 milhões de pessoas foram expostas ao aquecimento global resultante do desmatamento de florestas tropicais. Em média, essas populações experimentaram um aumento de 0,27 ºC na temperatura da superfície terrestre durante o dia. Embora o valor possa parecer ínfimo, os pesquisadores alertam para seus efeitos diretos sobre a mortalidade. Concentrada especialmente no Sudeste Asiático, onde foram estimadas entre 8 e 11 mortes para cada 100 mil habitantes expostos a áreas desmatadas, a taxa de mortalidade chama atenção para os riscos da crise climática à saúde pública global. Afinal, não é à toa que um maior número de áreas tropicais desmatadas coincidiu com aumentos significativos de temperatura e das mortes na região.
Os autores ainda destacam que o aquecimento induzido pelo desmatamento reduz a produtividade e expõe milhões de pessoas a condições perigosas de trabalho ao ar livre. Estima-se que, apenas entre 2003 e 2018, mais de 2 milhões de trabalhadores residentes em áreas tropicais foram expostos a níveis de calor que ultrapassam os limites térmicos seguros.
Além do desempenho físico e cognitivo comprometido, o estudo mostra um impacto a longo prazo no processo de envelhecimento. Levando em consideração resultados de diversos exames médicos, para que fosse possível realizar o cálculo da idade biológica, foi observado que esta última teve um aumento de cerca de nove dias para pessoas que vivenciaram quatro dias a mais de ondas de calor em um período de dois anos.
Tais efeitos são ainda mais severos em países de baixa renda, onde o acesso a tecnologias adaptativas – como o ar condicionado, por exemplo – é limitado. A população mais pobre, que frequentemente vive nas regiões tropicais, enfrenta dupla vulnerabilidade, isto é, aos efeitos diretos do calor e à precariedade dos sistemas de saúde e infraestrutura para redução dos impactos da crise climática.
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