O avanço da obesidade no Brasil

• Sobrepeso pode alcançar 130 milhões de brasileiros em 20 anos • Inatividade piora o problema • Pesquisadores sugerem medidas à Saúde • Como evitar aborto legal em gestação avançada • Estratégias da indústria para vender vapes • Dengue nos EUA •

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Quase metade da população brasileira pode se tornar obesa nos próximos 20 anos, alerta um estudo divulgado no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO 2024). Até 2044, 48% dos adultos brasileiros podem atingir a obesidade, enquanto 27% podem ter sobrepeso, totalizando 130 milhões de pessoas afetadas. Atualmente, 56% da população está em alguma das duas condições. O estudo, liderado por Eduardo Nilson da Fiocruz, destaca a necessidade de políticas robustas de prevenção e tratamento. Além de campanhas e foco nos casos atuais, é recomendado que o ambiente alimentar seja melhorado desde a primeira infância até a idade adulta por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis. Não é possível tratar do aumento da obesidade e piora da alimentação no Brasil sem mencionar o perigo do avanço dos alimentos ultraprocessados: formulações alimentícias industriais extremamente pobres mas cheias de aditivos químicos para ressaltar seu sabor e aparência.

Falta de atividade física também preocupa

Mas o problema vai além. Dados recentes da OMS mostram que quase um terço dos adultos no mundo, aproximadamente 1,8 bilhão de pessoas, não atingiu os níveis recomendados de atividade física em 2022, representando um aumento de 5 pontos percentuais desde 2010. Se essa tendência continuar, a inatividade física deve chegar a 35% até 2030, afastando o mundo da meta global de redução da inatividade. A OMS recomenda 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana. A inatividade física aumenta os riscos de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e alguns tipos de câncer. As maiores taxas de inatividade foram observadas na Ásia-Pacífico e no Sul da Ásia, com disparidades significativas entre gêneros e faixas etárias. A OMS enfatiza a necessidade de políticas robustas e financiamento adequado para promover a atividade física, visando reduzir as doenças crônicas e melhorar a saúde mental e o bem-estar da população.

Pesquisadores propõe medidas para redução da obesidade

Uma rede de 25 instituições, incluindo pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP, enviou um ofício ao Ministério da Saúde propondo ações urgentes contra a obesidade. Liderada pelo Fórum Intersetorial de Condições Crônicas Não Transmissíveis, a iniciativa destaca a complexidade da obesidade e seus riscos de doenças cardiovasculares e respiratórias, além de AVC e hipertensão. Segundo a professora Cláudia Moreno, do Departamento de Saúde e Sociedade da USP, a doença aumentou 72% nos últimos treze anos e pode afetar metade das crianças brasileiras até 2035. O documento pede maior cooperação entre secretarias de saúde e instâncias de controle da sociedade civil, enfatizando a necessidade de implementar diretrizes já existentes para prevenir a obesidade desde a infância. “É por isso que esse documento alerta para essa questão, para dar atenção aos fatores modificáveis: alimentação inadequada, sedentarismo, tabagismo, principalmente o que começa na infância e adolescência. É preciso evitar esses fatores já no início da vida do indivíduo. A partir disso, começar a promover de fato ações que inclusive já constituem diretrizes de portarias do próprio Ministério da Saúde”, explica Cláudia. 

Aborto nas UBSs para que gravidez não precise avançar até 22 semanas

Uma análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que a cada dois minutos uma brasileira é estuprada, resultando em cerca de 40 mil gestações por violência sexual anualmente. No entanto, apenas 2 mil desses casos chegam aos serviços de aborto legal. Em resposta a essa situação, o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) organizou um debate com médicos obstetras, destacando a necessidade de facilitar o acesso ao aborto legal nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) nos estágios iniciais da gravidez. O Projeto de Lei 1904/2024, conhecido como PL do Estuprador, que visa criminalizar o aborto após a 22ª semana gestacional, foi criticado por criar obstáculos adicionais e por não tratar as vítimas de estupro como seres humanos. Os especialistas também condenaram a falta de medicamentos adequados na atenção primária e o obscurantismo ético do Conselho Federal de Medicina, defendendo a necessidade de seguir evidências científicas e respeitar a autonomia das pacientes.

Os planos da Philip Morris para promover os cigarros eletrônicos

Duas análises internacionais revelam que a filial japonesa da gigante Philip Morris planeja expandir o mercado de cigarros eletrônicos, influenciar reguladores e financiar pesquisas favoráveis ao produto. Um relatório do grupo Stop mostra estratégias da empresa para atrair não só adultos fumantes, mas também jovens e crianças. Também de acordo com o documento, a PMJ planejou fazer lobby para permitir o uso dos vapes em locais onde hoje é proibido fumar, influenciando políticos, grupos médicos, a Agência Japonesa de Gestão de Incêndios e Desastres e grupos de hotelaria, visando uma aceitação orgânica dos produtos. Um estudo da Universidade de Bath revela o financiamento secreto de pesquisas para promover o tabaco aquecido. A OMS e especialistas criticam essas práticas, destacando que, apesar das alegações da empresa, os cigarros eletrônicos não demonstraram eficácia na cessação do tabagismo e continuam a representar graves riscos à saúde pública.

Dengue avança nos Estados Unidos

Uma matéria publicada no NY Timesfaz um alerta para o público estadunidense, que ainda não está habituado à dengue. Segundo o jornal, os casos da doença estão aumentando globalmente, com um aumento preocupante nos Estados Unidos. No primeiro semestre de 2024, as Américas registraram quase 10 milhões de casos, o dobro de 2023 – a maioria dos casos no Brasil e na Argentina. Nos EUA, embora a transmissão local do vírus seja limitada, houve centenas de casos transmitidos localmente, principalmente na Flórida, onde autoridades de saúde alertaram a população a tomar precauções, como o uso de repelente e a eliminação da água parada. Porto Rico, onde o risco de dengue já é conhecido, declarou emergência de saúde pública em março, com quase 1.500 casos relatados. Especialistas alertam que fatores como urbanização, mudanças climáticas e a adaptação do mosquito Aedes aegypti a áreas urbanas estão contribuindo para a propagação da doença.

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