No Amazonas, barreiras à prevenção e ao tratamento de câncer

Limitações orçamentárias e dificuldades no deslocamento afetam pacientes de câncer no maior estado do país

Créditos: EBC
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Diante da baixa capilaridade de unidades de tratamento capacitadas, mulheres de ao menos 61 municípios do Amazonas precisam se deslocar a Manaus para acessar o tratamento de câncer. A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas, FCecon, é a única unidade de alta complexidade referência do SUS para o tratamento de câncer no estado.

O cenário da saúde da mulher no maior estado do país fica ainda mais complexo quando se encara a realidade do transporte local. As viagens do interior à capital são feitas em sua maioria por transportes fluviais, sendo afetadas também pelo nível das águas que varia ao longo do ano. Em entrevista à Folha de S. Paulo, pacientes relataram passar por viagens de até 8 dias para conseguir o tratamento. 

As pacientes relatam, também, a falta de políticas públicas de apoio para as viagens, estadia e alimentação, além da necessidade de mudança por longos períodos para a capital e o consequente distanciamento de seus núcleos familiares e redes de apoio. O acolhimento é feito, então, por ONGs locais.

As barreiras à luta contra o câncer também se encontram nas terras indígenas, diz a Carta do XVI Encontro das Mulheres Yanomami. O evento teve como reivindicação a ampliação do projeto Construção da Linha de Cuidado do Câncer do Colo de Útero (CCU) na Terra Indígena Yanomami. Ele tem como objetivo a ampliação da prevenção e do diagnóstico precoce das lesões precursoras que levam a casos de câncer de colo de útero e é desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) por meio de Transferência Executiva Descentralizada (TED) da Funai.

“Não adianta apenas vermos as imagens sobre doenças que podem existir dentro de nossas vaginas, sem termos meios para sermos examinadas e tratadas”, diz a carta. Hoje, há previsão de ocorrência do projeto em regiões populosas da Terra Indígena Yanomami, como Maturacá, Auaris, Inambu, Maia, Waikas e Ericó. Contudo, o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami tem 37 regiões e muitas delas permanecem fora dessa cobertura.

As yanomami relatam a falta de devolutivas uma vez que os exames são feitos: “Em algumas regiões, estão fazendo o exame do câncer de colo do útero, mas não recebemos os resultados dos exames que foram feitos. Queremos ouvir os resultados para sabermos se estamos com saúde”, relata a carta. 

As exigências incluem, também, a formação de profissionais mulheres para realização do atendimento, e o rastreamento de ISTs entre os homens e exame de próstata para os homens mais velhos.

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