Nísia: Governo quer vacinar todos contra dengue em 2 anos
• Governo providenciará 60 milhões de vacinas da dengue por ano • Novo transplante no SUS • Onda de gripe nos EUA • Gripe aviária e suas consequências • Aumento de mortes por câncer de mama e desigualdade • Mais uma restrição ao aborto legal •
Publicado 26/02/2025 às 15:19
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Ontem (25/2), em sua última cerimônia pública no cargo de ministra da Saúde, Nísia Trindade apresentou uma estratégia para vacinar toda a população elegível contra a dengue nos próximos anos. Na ocasião, foi anunciado um acordo para a fabricação nacional em larga escala do imunizante desenvolvido no Instituto Butantan. Uma nota da pasta esclarece que “a partir de 2026, serão disponibilizadas 60 milhões de doses anuais, com possibilidade de ampliação do quantitativo conforme a demanda e a capacidade produtiva”. Entre 2026 e 2027, o Governo Federal prevê vacinar toda a população elegível por meio do Programa Nacional de Imunizações. A parceria também envolverá o laboratório chinês WuXi Biologics.
No ato, a ministra destacou a importância da soberania na fabricação de imunizantes e fez uma comparação com outros países dos BRICS. “O Brasil poderia ter uma escala de produção semelhante à da Índia e da China se políticas como as que [o presidente Lula] desenvolveu desde sua primeira gestão e a presidenta Dilma deu continuidade não tivessem sido interrompidas. É o caso da planta da Fiocruz”, avaliou.
SUS passa a oferecer transplante de intestino delgado e multivisceral
O transplante de intestino delgado e o transplante multivisceral passarão a ser ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a pessoas com falência dos órgãos abdominais, anunciou o Ministério da Saúde (MS). A incorporação dos procedimentos garante uma alternativa definitiva a esses pacientes, que antes contavam apenas com tratamentos paliativos na rede pública, como a nutrição parenteral.
“Essa inclusão no SUS representa mais uma ação importante do sistema de saúde brasileiro para garantir o acesso a tratamentos de alta complexidade e que tragam qualidade de vida para a população, especialmente para pacientes com condições raras e graves”, opinou Carlos Gadelha, um dos secretários da pasta. O MS avalia que cerca de 15 pessoas por ano precisam dessas modalidades de transplante.
Os sinais de uma forte onda de gripe nos EUA
Também nos Estados Unidos, a população enfrenta a maior epidemia de gripe dos últimos anos, conta a The Economist. Pela primeira vez desde 2020, o número de hospitalizações e óbitos associados à influenza ultrapassou as cifras ligadas à covid-19 naquele país. No total, 29 milhões de casos de gripe foram registrados desde outubro do ano passado.
Especialistas ouvidos pela revista sugerem que vários fatores podem ter gerado o surto particularmente duro deste ano, com um deles sendo a queda brusca nas taxas de imunização entre os estadunidenses. Entre 2019 e 2025, a vacinação contra a gripe caiu de 69% para 54% entre as crianças de até 4 anos, de 55% para 37% entre as mulheres grávidas e de 51% para 43% entre os adultos de mais de 65 anos. A ofensiva de Donald Trump contra as instituições de saúde pública dos EUA não traz boas perspectivas de melhora.
A gripe aviária e o preço do ovo
Em um ano, o preço do ovo dobrou nos Estados Unidos em meio ao descontrole da gripe aviária, revela a Reuters. No país, desde 2022, 163 milhões de aves morreram devido à doença ou foram mortas para conter a disseminação do vírus, segundo as autoridades sanitárias estadunidenses. A população de galinhas poedeiras dos EUA já é 11% menor que a de cinco anos atrás – e a oferta de ovos, cada vez mais escassa. Em média, a dúzia do produto está sendo vendida a US$4,95 (R$28,27), um valor 96% mais alto que há um ano e 239% maior que há cinco anos.
No mês de janeiro, em entrevista a Outra Saúde, a epidemiologista Ligia Kerr (UFC) já havia frisado a ligação entre a crise da gripe aviária e a hegemonia de uma agropecuária predatória nos EUA. “Se concentra um número gigantesco de animais em condições sujas, estressantes, com pouco espaço”, ela explicou, onde o vírus H5N1 se espalha também entre os trabalhadores precários. Como se vê, a carestia e a possibilidade de uma nova pandemia são as consequências desse modelo econômico.
OMS: Mortes por câncer de mama devem crescer 68% até 2050
O braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para pesquisas oncológicas estima que as mortes por câncer de mama crescerão 68% até 2050 no mundo, noticiou a revista Nature. A projeção da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (Iarc) é relativa ao ano de 2022, no qual foram registrados 2,3 milhões de novos casos e 670 mil mortes por câncer de mama.
Apesar disso, os pesquisadores responsáveis pelo estudo, publicado no periódico científico Nature Medicine, destacam que esse crescimento não será uniforme: a alta nos óbitos deverá “impactar desproporcionalmente os países de IDH mais baixo”, enquanto as 29 nações mais ricas do planeta tendem a seguir registrando quedas na taxa de mortalidade alinhadas com as metas da OMS. Apesar de não ter um IDH considerado baixo, o Brasil é um dos países em que se prevê que haverá um crescimento acima da média nas mortes associadas ao câncer de mama.
Hospital da Mulher recusa aborto legal em caso de retirada de camisinha
Reportagem da Folha revelou que o Hospital da Mulher, equipamento de referência em aborto legal no estado de São Paulo, nega o serviço a mulheres que relatam que o parceiro retirou o preservativo sem seu consentimento. No ano passado, houve ao menos duas recusas, mesmo com a prática sendo reconhecida como uma forma de violação sexual mediante fraude por órgãos como a Defensoria Pública de São Paulo. Apesar de não oferecer uma explicação clara para a decisão, o Hospital da Mulher possivelmente se ampara na interpretação de que o “stealthing”, como é conhecida a prática, não é citada explicitamente nas normas que orientam o abortamento legal.
No entanto, a Lei Maria da Penha cita qualquer conduta que “impeça [a mulher] de usar qualquer método contraceptivo” como uma forma de violência sexual. Sendo assim, o “stealthing” estaria abarcado pela norma técnica de 2012 do Ministério da Saúde que afirma que o “abortamento é permitido quando a gravidez resulta de estupro ou, por analogia, de outra forma de violência sexual”. À reportagem, entidades que encaminham mulheres que buscam serviço de aborto legal relataram “ter encontrado dificuldades em casos de violência sexual mediante fraude no Hospital da Mulher”.