Febre das canetas emagrecedoras: Mounjaro aprovado pela Anvisa
Anvisa aprova Mounjaro como terapia válida para tratar obesidade e sobrepeso. Como a aprovação da caneta emagrecedora e a instrumentalização da saúde pelo grande capital se relacionam?
Publicado 10/06/2025 às 14:13 - Atualizado 10/06/2025 às 15:37
Com o fim da patente da semaglutida próximo no horizonte, parece haver uma ofensiva das farmacêuticas que produzem terapias como Mounjaro e Ozempic. O leitor minimamente atento poderá perceber uma presença ostensiva nos cadernos de saúde da mídia de mercado de notícias variadas sobre os efeitos positivos destes produtos criados para tratamento de diabetes, mas vastamente usados para perda de peso.
Agora, a Anvisa acaba de aceitar a inclusão do Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, como terapia válida para tratamento de obesidade e sobrepeso, não só para diabetes tipo 2. Ao lado do Ozempic, responsáveis por um rápido emagrecimento, os remédios passaram a ser vistos como mais uma solução milagrosa para satisfazer padrões de beleza e compensar danos causados por maus hábitos alimentares e inatividade física.
Como antecipado em artigo traduzido pelo Outra Saúde, parece fechar-se um ciclo de ganha-ganha para o grande capital. De um lado, a indústria de alimentos de má qualidade nada de braçada e seus lobbies em espaços políticos a mantém afastada de qualquer tributação mais rigorosa. De outro, a cura para as sequelas desta má nutrição “cai do céu”.
Aqui e ali, respingaram alertas sobre possíveis efeitos colaterais de tais medicamentos como Mounjaro e Ozempic, desde características físicas geradas pela rápida perda de peso até manifestações sobre o corpo que só o tempo poderá revelar. Mas o clima parece de conformismo, com alertas sobre a importância de se manterem bons hábitos físicos e alimentares ou as vantagens de sua regulação.
Mas não é a cautela científica que prevalece. A ação de prefeitos como Eduardo Paes, do Rio, e Rodrigo Manga, em Sorocaba, interior de SP, que falaram em ofertar Ozempic no SUS, mostra que o modismo miraculoso pode ter vencido a batalha. Nesta inusitada capitulação, resta saber se o país se preocupará ao menos em absorver seus princípios ativos e produzi-lo a partir de sua própria indústria farmacêutica após o fim da patente.
Outras Palavras é feito por muitas mãos. Se você valoriza nossa produção, seja nosso apoiador e fortaleça o jornalismo crítico: apoia.se/outraspalavras