Na Argentina de Milei, direitos reprodutivos sob ataque
• Argentina: queda drástica na distribuição de contraceptivos • Milei restringe acesso à saúde a estrangeiros • Brasil mostra queda na emissão de gases do efeito estufa • Calendário vacinal da gravidez é ignorado por 40% • Exames de vista no SUS •
Publicado 04/12/2024 às 17:44
Sob o pretexto de reduzir gastos públicos na Argentina, o presidente ultraliberal Javier Milei transferiu às províncias a responsabilidade pelas políticas de saúde sexual e controle de natalidade. A medida causou uma queda drástica na distribuição de contraceptivos. Dos 26 milhões de preservativos previstos para distribuição nacional, apenas 2,4 milhões foram entregues – menos de 10% do total planejado. Em relação aos mais de 60 mil anticoncepcionais de longa duração, como DIUs e implantes, apenas um terço chegou às usuárias. Os cortes colocam em risco avanços recentes, como a redução de gravidezes não planejadas entre adolescentes e da mortalidade materna. Especialistas ouvidos pelo El País alertam que a falta de suporte nacional amplia a desigualdade no acesso à saúde e ameaça direitos conquistados. Essas mudanças representam um retrocesso significativo para a saúde reprodutiva no país, que em 2020 conquistou, após muita luta do movimento feminista, o direito ao aborto. Como mostra a reportagem, não é só a “motosserra” antiEstado de Milei a justificativa para os cortes – mas também o moralismo reacionário, comum também na ultradireita de outros países como o Brasil. Já são relatadas ameaças de religiosos a programas como educação sexual nas escolas.
Argentina vai restringir acesso de estrangeiros à saúde
Na Argentina, o governo do presidente ultraliberal Javier Milei anunciou planos para cobrar estrangeiros pelo uso de hospitais e universidades públicas, como parte de uma política de maior controle migratório. Segundo o porta-voz Manuel Adorni, a cobrança busca financiar os serviços públicos e combater o que chamou de “passeios de saúde”. Em seu discurso, alinhado com as ideias da ultradireita, Adorni também afirmou que um terço dos estudantes de medicina no país é estrangeiro – o que justificaria a cobrança. Além disso, serão implementados controles mais rigorosos para impedir a entrada de imigrantes ilegais, com possibilidade de expulsão para aqueles que cometerem crimes ou “violarem o sistema democrático”. As mudanças podem impactar os cerca de 95 mil brasileiros residentes no país.
Queda no desmatamento faz cair produção de gases do efeito estufa no Brasil
As emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) atingiram um recorde de 57,1 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente em 2023, 1,3% acima do ano anterior. Foram impulsionadas especialmente pela queima de combustíveis fósseis e atividades industriais. No Brasil, no entanto, uma boa notícia: houve uma redução de 12% nas emissões, graças a uma queda de 24% no desmatamento da Amazônia. Foram 2,6 bilhões de toneladas brutas emitidas. Apesar disso, setores como agropecuária e energia continuam a elevar suas emissões no país.
Segundo uma bela reportagem da revista Pesquisa Fapesp, mundo afora, a alta nos GEE dificulta a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5 °C, com previsões de aumento da temperatura global entre 2,5 °C e 3 °C até 2100, considerado catastrófico. O Brasil, com sua matriz energética mais limpa e políticas de preservação ambiental, tem potencial para reduzir emissões, mas enfrentará desafios para cortar GEE em setores como agropecuária e energia. A manutenção da tendência de queda no desmatamento será crucial para o país continuar contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
Gestantes não conhecem o calendário de vacinação para a gravidez
Uma pesquisa encomendada pela farmacêutica Pfizer ao Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Idec) revelou que 40% das gestantes desconhecem o calendário de vacinas específico para a gravidez – e 60% acreditam que os imunizantes protegem apenas as mães, ignorando a proteção para os bebês. Além disso, 11% das gestantes de classes mais altas receberam de seus médicos a recomendação de não se vacinarem, enquanto 11% dos profissionais de pré-natal não abordaram o tema com suas pacientes. Mesmo assim, 96% das que receberam orientação seguiram as recomendações. Informações falsas, como a crença de que vacinas causam autismo (10%) ou alterações genéticas (14%), ainda circulam.
No Brasil, gestantes devem tomar cinco vacinas pelo SUS: a DTPa, essencial para prevenir difteria, tétano e coqueluche, protegendo mãe e bebê; hepatite B; influenza; covid; e, caso não tenha em sua carteira de vacinação, tétano e difteria. Para especialistas, é crucial que médicos de todas as especialidades integrem a vacinação ao pré-natal. A pesquisa também abordou o vírus sincicial respiratório (VSR), principal causador de bronquiolite grave em bebês. Apesar de 94% das gestantes conhecerem a doença, apenas 22% sabem que é causada por um vírus. Duas vacinas contra o VSR estão disponíveis na rede privada, mas não integram o Programa Nacional de Imunizações.
Aumenta número de exames oftalmológicos no SUS
O número de exames para prevenção de doenças da retina no SUS cresceu 49,5% em 2023 em comparação a 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, segundo a Agência Brasil. Foram realizados quase 12 milhões de procedimentos no ano passado, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Até agosto de 2024, mais de 9 milhões de exames já haviam sido registrados – o que pode indicar que neste ano haverá um novo recorde. A média atual é de 1,1 milhões destes exames: biomicroscopia de fundo de olho, mapeamento de retina, retinografia colorida binocular e retinografia fluorescente binocular. O aumento reflete políticas públicas fortalecidas e maior foco na prevenção da retinopatia diabética. Todos os tipos de exames disponíveis no SUS tiveram crescimento expressivo. Idosos acima de 60 anos e mulheres são os principais grupos atendidos.