Mortes de crianças expõem caos em saúde do DF
• Caos na saúde do DF • Atendimento a indígenas afetados por enchentes no RS • Mortes maternas em povos originários • Cientistas deprimem-se ao olhar para o futuro • Hospital virtual na China • Jovens fazem menos aborto na Finlândia •
Publicado 05/06/2024 às 07:46
Foi realizado nesta desta terça-feira um protesto na frente do Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal, convocado por profissionais de saúde, estudantes e usuários do SUS em razão do que consideram uma situação de descalabro no sistema de saúde local. Além disso, a câmara de vereadores conseguiu as oito assinaturas necessárias para instalação de CPI a respeito da gestão da saúde de Brasília, processo desencadeado após a morte de 4 crianças em cerca de um mês em razão da falta de estrutura e pessoal para garantir os atendimentos. Neste ano, já morreram 90 crianças de até um ano no DF, uma das unidades da federação onde a epidemia de dengue mais pressionou o sistema de saúde.
“A saúde vem sendo negligenciada pelo governo Ibaneis, que vem cada vez mais subfinanciado a saúde do DF. O que estamos vendo hoje com essa negligência, falta de profissionais, um déficit de mais de 20 mil profissionais – 4 mil médicos, 6 mil técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde – porque o governo não investe e, ainda, se gaba em gastar 34% da receita corrente líquida com servidores, ou seja, muito abaixo do limite de 49,5%”, disse Jorge Henrique Filho, presidente do Sindicato do Enfermeiros, ao Brasil de Fato. Os profissionais atribuem a culpa central à privatização da gestão dos equipamentos de saúde, em especial ao Instituto Gestão Estratégia do DF, que gerencia três hospitais e 13 Unidades de Pronto Atendimento.
Indígenas do RS recebem atendimentos de saúde
O Ministério da Saúde divulgou que já realizou 13 incursões em territórios indígenas do estado do Rio Grande do Sul, no contexto das enchentes que destruíram todo o estado. São cerca de 38 mil pessoas de povos originários no estado, cujos alagamentos parecem longe do fim. A pasta ainda informa que desde o ano passado foi aprimorado o sistema de monitoramento e vigilância em saúde em territórios indígenas, a partir da criação do Comitê de Resposta a Eventos Extremos na Saúde Indígena (Cresi), que trata de facilitar ações de contenção a falta de acesso a atendimentos, danos de fornecimento de energia e saneamento de tais áreas. Neste momento, profissionais da Força Nacional do SUS com experiência de trabalho na saúde indígena em outras partes do Brasil são os responsáveis pelos atendimentos nas TI, que contam com cerca de R$ 21 milhões dos R$ 861 milhões destinados pelo governo federal ao SUS no estado gaúcho.
Mortes maternas são mais altas entre indígenas
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado na revista científica International Journal of Gynecology and Obstetrics, demonstrou que o número de mortes maternas de mulheres indígenas entre 2015 e 2021 foi quase o dobro do restante da população brasileira. A pesquisa analisou 13 mil casos a partir do DataSUS e constatou uma taxa de 115 mortes para cada 100 mil nascidos vivos entre os povos originários, enquanto a média geral ficou em 67 em 100 mil. No entanto, cabe lembrar que a taxa geral de mortes maternas disparou no Brasil exatamente a partir de 2020, com o aparecimento da covid no país, potencializada pela total descoordenação do sistema de saúde do governo negacionista de Jair Bolsonaro. Como demonstrado por dados oficiais, as mortes maternas chegaram a 117 por 100 mil habitantes e afastaram o Brasil do objetivo de 30 por 100 mil, estabelecido na Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Desalento entre cientistas
O jornal The Guardian fez uma pesquisa com centenas de cientistas que já participaram do Painel Internacional de Cientistas do Clima (IPCC na sigla em inglês), instituído pela ONU a fim de munir países de parâmetros de metas ambientais em cúpulas internacionais, para colher suas opiniões a respeito do atual estágio climático do planeta. Os resultados revelam imensa descrença e depressão entre os especialistas. Em torno de metade já considera o colapso irreversível e não tem otimismo algum a respeito de possíveis reações da chamada comunidade internacional, longe de qualquer movimento consistente de estabelecer acordos com metas claras de adaptação e mitigação de desastres. Mesmo a parte menos pessimista afirma que as ações de contenção ao aquecimento de 2 a 3 graus no planeta estão atrasadas, mas enxergam condições de reversão do processo de destruição total.
China cria hospital virtual para treinar profissionais de saúde
Em 2023, a universidade norte-americana de Stanford lançou o que se poderia chamar de “cidade digital”, um software semelhante aos simuladores de vida real, bastante consumidos pelo público de jogos. Inspirados na ideia, pesquisadores da Universidade de Tsinghua criaram um programa que simula uma espécie de complexo hospitalar virtual, que reproduz a rotina de trabalho e questões de saúde de pacientes que devem ser atendidos por uma “equipe de saúde” virtual. Segundo os idealizadores do programa, que é baseado em LLM (large language models), o índice de precisão desses atendimentos médicos simulados por Inteligência Artificial atinge 93% de confiabilidade. Além disso, cada equipe digital de saúde é capaz de realizar 10 mil atendimentos em poucos dias, o que demoraria cerca de dois anos por equipes de humanos. Em princípio, a ideia é utilizar o programa para treinamento de novos médicos, em estágio ou residência, a fim de permitir que provem suas capacidades sem o risco de cometer um erro que afete um paciente real. Além disso, os chineses deixam claro que a IA não poderá jamais substituir por inteiro o acompanhamento de profissionais reais.
Como a Finlândia reduziu abortos juvenis
Dados do Instituto de Saúde Pública do país nórdico revelam que os abortos de adolescentes tiveram redução de 66% desde o ano 2000. Os motivos são simples: acesso gratuito a métodos contraceptivos e obrigatoriedade de educação sexual nas escolas. Além disso, desde 2022 o país garante o direito ao aborto livre para gestantes até 12 semanas. Entre as mulheres adultas, houve aumento de 2,9% de interrupção da gravidez desde o início da nova lei, o que evidencia um aumento de autonomia feminina em sua vida reprodutiva a partir do avanço na política pública preventiva combinada ao direito de escolha sobre ser mãe ou não.