Microplásticos: é urgente que países comecem a agir
Pesquisa brasileira inédita encontrou dezenas de partículas de microplásticos em placentas e cordões umbilicais. Riscos de contaminação são agravados com o aumento da poluição. Nesse contexto, é urgente que o Tratado dos Plásticos saia do papel
Publicado 28/07/2025 às 14:07
Uma pesquisa realizada em Maceió (AL) encontrou microplásticos em placentas e cordões umbilicais de bebês nascidos na capital alagoana. O estudo, pioneiro na América Latina, analisou amostras de dez gestantes, que foram submetidas a uma técnica capaz de identificar a composição química de moléculas com grande precisão. Os resultados indicaram a presença de mais de uma centena de partículas de microplásticos tanto na placenta, quanto nos cordões umbilicais. Os compostos mais presentes foram o polietileno, usado na fabricação de embalagens plásticas descartáveis, e a poliamida, que compõe tecidos sintéticos.
Em 2023, um estudo conjunto com pesquisadores da Universidade do Havaí havia comprovado a presença das partículas em amostras de placentas de mulheres havaianas. A pesquisa mostrou que essa contaminação aumentou ao longo do tempo, já que os microplásticos foram encontrados em 60% das amostras colhidas em 2006, 90% em 2013 e 100% em 2021 – podendo-se inferir que os riscos de contaminação são agravados ao passo que a poluição por plásticos aumenta.
Como os microplásticos estão presentes até mesmo no ar, não é possível determinar com precisão a fonte da contaminação, mas Alexandre Boberly, um dos autores da pesquisa, acredita que a poluição marinha tenha grande contribuição, já que a população alagoana consome muitos peixes e frutos do mar, inclusive moluscos filtradores. Para ele, as descobertas alertam para ações públicas e efetivas contra a poluição por plásticos: “O Brasil não tem uma regulamentação para plástico. E o mais importante aqui é a ação que vem de cima, do governo, de regular quem está produzindo o plástico”.
Contudo, a falta de regulamentação para esse material nocivo ao meio ambiente e à saúde de humanos e de animais não é sintoma apenas brasileiro. Há meses, os países-membros da ONU tentam estreitar as negociações para, finalmente, finalizar e aprovar o Tratado dos Plásticos. Para que o Tratado se efetive, os negociadores precisam superar as pressões de grandes indústrias – como a de combustíveis fósseis –, que visam atrasar ainda mais este importante acordo e enfraquecer disposições que visam limitar a produção de plásticos. Uma reportagem do Health Policy Watch denuncia, ainda, outra falha fundamental: a incapacidade da integração crucial entre a governança da saúde e do meio ambiente, que parece estar ausente do texto preliminar.
Já no final de 2024, uma matéria do The Conversation – traduzida pelo Outra Saúde – indicava três pontos que bloqueiam o Tratado dos Plásticos: a falta de consenso acerca da transferência de verbas por parte dos países do Norte a países do Sul Global para que estes realizem uma transição econômica que reduza sua dependência dos plásticos; metas, apresentadas pelo Panamá, que exigem dos países-membros da ONU que reduzam a fabricação dos polímeros plásticos a níveis sustentáveis; e a proposta de regulação efetiva do uso de produtos químicos em plásticos.
Os países-membros reúnem-se na próxima semana, em Genebra, para discutir o Tratado dos Plásticos. Ao que parece, os impasses só poderão ser superados a partir do entendimento de que estamos diante de um dos maiores e mais críticos desafios globais. Mesmo assim, encontrar as concordâncias necessárias é difícil quando, há tanto tempo, o planeta é instrumentalizado – em detrimento dele próprio – para atender às necessidades de indústrias e empresas.
Outras Palavras é feito por muitas mãos. Se você valoriza nossa produção, seja nosso apoiador e fortaleça o jornalismo crítico: apoia.se/outraspalavras