Mães exaustas: que políticas públicas são necessárias?
Foi aprovado, nesta semana, PL com diretrizes para apoiar e prevenir a estafa mental de mães brasileiras. A sobrecarga, realidade para a maior parte delas, é estrutural, de modo que as políticas públicas precisam ser contundentes
Publicado 05/09/2025 às 19:18
Nesta semana, avançou para o Senado um projeto de lei para apoiar e prevenir a estafa mental e burnout das mães brasileiras. O PL 5063/2023, da deputada federal Maria do Rosário (PT/RS), integra ações de saúde, educação e assistência social visando iniciativas como creche integral, flexibilidade da jornada de trabalho, consultas com profissionais de saúde mental no SUS, dentre outras.
De fato, o cenário das mães brasileiras no século 21 exige medidas urgentes. Atualmente, 75% das mulheres têm filhos no Brasil, segundo o IBGE. A pesquisa “De Mãe em Mãe”, realizada por pesquisadora da USP, revelou que 97% das mães se sentem sobrecarregadas quase todos os dias, enquanto 94% relatam estar esgotadas.
Se o panorama geral já se justifica, no caso das mães solo o cenário é ainda mais severo. Correspondendo a 15% dos lares brasileiros, mães que criam os filhos sozinhas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), têm rendimento 39% inferior ao dos homens casados com filhos e 20% menor do que as mulheres casadas com filhos. E mais de 50% dessas mães não possuem Ensino Superior ou Ensino Médio, ou seja, o impacto da maternidade afeta diretamente nas carreiras e na autonomia econômica dessas mulheres.
Quando fazemos o recorte de raça e renda, as camadas de dificuldades para essas mães se sobrepõem: ainda de acordo com levantamento feito pela FGV, 90% das mulheres que se tornaram mães solo entre 2012 e 2022 são negras. A proporção é maior nas regiões Norte e Nordeste. A maioria, 72,4%, vive só com os filhos e não conta com uma rede de apoio próxima. Podemos, ainda, acrescentar aqui os dados já conhecidos de distribuição do trabalho doméstico. O relatório “Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, do IBGE, divulgado em 2024, mostra que as mulheres dedicam, em média, quase o dobro do tempo que os homens em tarefas domésticas e no cuidado de pessoas.
E afinal, quais políticas públicas são necessárias? A resposta começa, em primeiro lugar, por descentralizar a maternidade do âmbito doméstico e privado, que encarcera as mulheres em um ambiente de culpa, responsabilidades e sobrecarga que levam à exaustão. Só assim será possível envolvê-las verdadeiramente na elaboração de soluções em políticas públicas em todas as áreas – não apenas aquelas consideradas “femininas”. Confinar a pauta de políticas públicas da maternidade contemporânea às caixinhas tradicionais do patriarcado é reproduzir um sistema que se retroalimenta do esgotamento e do adoecimento maternal. Não existe mágica, nem duplicação do tempo. Urge pautar a centralidade da maternidade na agenda política brasileira.
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