Juros altos: ruins para Lula, péssimos para o povo

Queda na popularidade do presidente não se explica apenas por problemas na comunicação: trabalhadores precisam perceber melhora em suas vidas. Mas a 2ª maior taxa de juros do mundo não permitirá que o presidente faça as mudanças necessárias, inclusive na Saúde

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Por Solange Caetano, para sua coluna no Outra Saúde

Nesta coluna, a representante do Fórum Nacional da Enfermagem critica a insistência em uma política monetária ortodoxa que deprime atividades econômicas e desanima uma população tragada pelo excesso de trabalho, sem falar nas mazelas sociais estruturais.

Além disso, a perseguição fanática pelo equilíbrio fiscal é uma tese falsa. Os juros altos ampliam os gastos com o serviço da dívida pública, o que por sua vez sufoca ainda mais as despesas primárias, relativas às políticas públicas realmente essenciais. De outro lado, este serviço de uma dívida pública que remunera rentistas e especuladores fica de fora das metas de controle de gastos, uma vez que estes, por razões nunca explicadas, são excluídos da ideia de “déficit” e suas rigorosas metas de controle de gastos. Tal dinâmica, evidentemente, limitará a ação do governo e obrigará a população a esforços cada vez mais descomunais para garantir a mínima dignidade.

Já o SUS, não contará com os investimentos à altura dos imensos desafios contemporâneos da saúde pública e coletiva, muito menos chegará aos sonhados 6% do PIB de investimento do Estado, conforme os melhores exemplos históricos prescrevem. É sobre esse importante tema que trata Solange em sua coluna de fevereiro.

G. B.

Na última semana de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou em um ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), que saltou para 13,25%, tornando-se a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a Argentina, do ultraliberal Javier Milei.

A decisão do Copom, que hoje tem a maioria de seus membros indicados por Lula, foi duramente criticada pelo ministro Fernando Haddad que, justamente, a considera um erro que prejudica a vida do povo e ofusca os bons números do governo.

Há que se reconhecer que o governo Lula tem conseguido bons resultados em várias áreas, o emprego nunca foi tão alto, os salários sobem acima da inflação, o PIB cresceu mais do que o previsto pelo mercado, bilhões de reais são injetados na indústria; as políticas sociais, especialmente o Bolsa Família, tiraram milhões da pobreza absoluta nestes últimos dois anos.

São números e feitos bons que, no entanto, não conseguem ser percebidos pela população; ou não são suficientes para que ela mantenha a confiança. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o índice de confiança do consumidor fechou o ano de 2024 com recuo de 3,6 pontos. Assim como os consumidores, o meio empresarial também está cético. Na média de todos os setores, o índice de confiança caiu 0,1 ponto em dezembro de 2024.

E por que há esse pessimismo e o consequente mau humor com o governo, a ponto de queda no índice de aprovação?

Para alguns, é um “problema na comunicação”, que enfrenta fake news de todos os tipos (mentiras seria o termo mais adequado). Mas o crescimento da avaliação negativa do governo vai além das mentiras da extrema-direita e se relaciona com a dificuldade que as pessoas têm de perceber melhora nas suas condições de vida.

A política monetária baseada no aperto fiscal que o governo aceitou ao admitir déficit zero está na base do problema. A área econômica corta em áreas estratégicas, tendo como prioridade agradar ao mercado e conseguir o tal déficit zero. Esse é o cerne do problema.

Os juros altos corroem os bons dados da economia. A continuarem crescendo, como indicou a última ata do Copom, os juros impactarão ainda mais na economia e os números que hoje são bons vão cair.

As últimas pesquisas convergem para uma piora na avaliação do governo e do trabalho do presidente Lula, mesmo entre as mulheres, maioria da população e grandes responsáveis por sua vitória em 2022.

Para voltar a ter uma avaliação positiva, a população precisa perceber que Lula governa para quem trabalha, para o setor produtivo, para os mais pobres. E não para a elite rentista, único setor que ganha com a atual política monetária, de ajuste fiscal e juros altos.

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