Israel destrói a ciência da Palestina e também a pesquisa da Síria

• Israel detona ciência e pesquisa na Palestina e na Síria • Aids: novos testes promissores com o lenacapavir • Combate à malária está estagnado no mundo • Anvisa avalia agrotóxicos em alimentos e traz descobertas preocupantes •

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Pouco mais de 14 meses após a escalada do conflito, Israel já causou a morte de pelo menos 45,5 mil palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Para além do morticínio, destaca uma sensível reportagem publicada pelo The New York Times nesta terça-feira (10/12), há outra vítima nesta guerra: a ciência da Palestina. A matéria nos apresenta a história de quatro palestinos que, de diferentes formas, tiveram suas pesquisas afetadas – ou mesmo inviabilizadas – pela escalada de violência promovida por Israel. 

Um dos pesquisadores é Imad Morjan, químico orgânico. Antes da guerra, Imad dirigia estudos voltados para a síntese de fármacos utilizados em medicamentos antibacterianos e oncológicos. Seu trabalho foi interrompido quatro dias após o início da agressão israelense: em 11 de outubro de 2023, a Universidade Islâmica de Gaza, onde trabalhava, foi completamente destruída pelos bombardeios sionistas. Sem casa ou emprego, Imad está refugiado em Deir el-Balah.

Outro caso é o de Wafaa Khater, professora de física da Universidade de Birzeit na Cisjordânia e uma das primeiras palestinas a dedicar-se a estudos com partículas subatômicas. Seu laboratório sempre teve dificuldades de adquirir os equipamentos de que precisa devido aos embargos israelenses – mas agora, com a guerra, a universidade se dedica apenas ao ensino remoto, e o trabalho laboratorial foi interrompido. “Queremos fazer ciência, assim como todo mundo”, pede a professora. Mas o genocídio em curso não perdoa as aspirações do povo palestino.

Porém, o rastro de destruição israelense não se restringe à Palestina. Após a queda final do governo de Bashar al-Assad, no último fim de semana, Israel promoveu uma onda de 320 ataques aéreos contra alvos na Síria, que atingiu os principais centros de pesquisa do país. Informações da agência de notícias AFP publicadas pelo The Guardian confirmam que as instalações de Jamraya do Centro de Estudos e Pesquisas Científicas (CERS, na sigla em francês utilizada por esta instituição pública síria) e o Centro de Pesquisas Científicas de Barzeh, ambos localizados em subúrbios da capital Damasco, foram “totalmente destruídos” pelos bombardeios realizados por jatos israelenses na madrugada da segunda-feira (9/12). 

Israel alega que, com os ataques, busca neutralizar a capacidade militar da Síria. Contudo, a apuração da AFP confirmou com um funcionário do CERS que “os prédios destruídos não eram militares, as pesquisas atualmente conduzidas ali eram civis”. Do fato, torna-se difícil concluir que o objetivo sionista não seja inviabilizar a existência de um Estado sírio minimamente organizado – com a criminosa destruição da infraestrutura científica local fazendo parte desse processo.

Enorme avanço na prevenção do HIV 

De acordo com o jornal médico Stat, a farmacêutica norte-americana Gilead anunciou na terça (10/12) que pretende testar a partir de 2025 uma nova fórmula do lenacapavir, que ela alega poder prevenir o HIV com apenas uma injeção anual. Caso a hipótese da Gilead sobre a eficácia do fármaco se confirme, será mais um sinal de que sua adoção por iniciativas de prevenção pode trazer um enorme impulso ao objetivo de erradicar a aids como problema de saúde pública no mundo. No entanto, como cobriu extensamente este boletim, a farmacêutica pretende comercializar o lenacapavir a preços exorbitantes, potencialmente ameaçando a sustentabilidade dos programas nacionais de HIV dos países que busquem oferecê-lo. Como também já apontamos, há alternativa para lutar pelo acesso: brandir o instrumento do licenciamento compulsório, seja para efetivamente “quebrar a patente” ou para forçar a Gilead a negociar.

OMS: Malária segue

A luta contra a malária está estagnada no mundo, revela o mais novo relatório global da Organização Mundial de Saúde (OMS). No ano de 2023, diz o documento publicado hoje (11/12), foram registrados 263 milhões de casos e 597 mil mortes associadas à doença. Em comparação com o ano anterior, foram 11 milhões de infecções a mais e apenas 12 mil óbitos a menos. Na prática, avalia a agência das Nações Unidas, ambos os números estão estagnados há pelo menos uma década. A OMS também destaca que 95% dos óbitos aconteceram na África – e se concentram em “crianças pequenas e mulheres grávidas”, acrescenta o diretor-geral do órgão, Tedros Adhanom. A ampliação dos programas de imunização, que utilizam vacinas recentemente aprovadas, é uma das medidas indicadas para dar um novo fôlego ao controle da malária. Contudo, o relatório frisa que sem um aumento substancial dos recursos disponibilizados pelo mundo para esse fim, o cenário de estagnação deve continuar.

Anvisa: Abacaxi e laranja têm maior presença de agrotóxicos

Divulgados nesta quarta-feira (11/12), os resultados de uma pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelam alguns dados preocupantes sobre a presença de agrotóxico na comida dos brasileiros. As informações da edição de 2023 do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), cujo relatório pode ser lido aqui, revelam que 26,1% das amostras analisadas não estavam em conformidade com o Limite Máximo de Resíduos (LMR) de agrotóxicos estabelecido pelas autoridades sanitárias. De acordo com a nota da autarquia sobre o monitoramento, o abacaxi e a laranja “foram as culturas com maior número de amostras com potencial de risco agudo”, isto é, com risco à saúde humana pelo consumo em uma refeição. No total, foram analisadas 3.294 amostras, coletadas em 76 municípios, de 14 dos principais alimentos de origem vegetal consumidos pelos brasileiros. As informações do Para são utilizadas pela Anvisa para orientar a reanálise de agrotóxicos utilizados no país.

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