Greve no Hospital São Paulo: enfermagem está exausta
Denunciando sobrecarga laboral, trabalhadores do hospital da Unifesp paralisam atividades há mais de uma semana. Problemas na gestão da unidade pela SPDM, uma OSS, fazem parte das insatisfações
Publicado 18/11/2025 às 13:52 - Atualizado 18/11/2025 às 13:54

Denunciando sobrecarga laboral e a insuficiência de contratações, os enfermeiros do Hospital São Paulo (HSP), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entraram em greve na última segunda-feira (10).
A situação vem se tornando cada vez mais crítica desde “as demissões em massa ocorridas em 2022, durante a troca da superintendência do hospital”, afirma Rodrigo Bizacho, auxiliar de enfermagem e coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Unifesp (Sintunifesp), em entrevista a Outra Saúde. À época, pelo menos duzentos funcionários foram demitidos no início da gestão do atual superintendente do HSP, o médico Nacime Mansur.
Em entrevista ao Estadão, Mansur alegou que a medida se devia a uma crise financeira na instituição. Mas o resultado concreto da “reestruturação” tem sido a exaustão dos funcionários, obrigados a se responsabilizar por muito mais pacientes do que indicam as normas técnicas, testemunham trabalhadores ouvidos por este boletim que preferiram não se identificar por temer retaliações. “Não descansamos desde a pandemia e, de lá pra cá, só piorou. Não tenho nem palavras pra descrever como piorou”, relatou uma enfermeira do Hospital São Paulo ao jornal A Verdade.
Bizacho corrobora essa visão e oferece mais detalhes: “As poucas contratações que ocorrem são anuladas pelo alto número de pedidos de demissão. O absenteísmo cresceu muito. Nossos colegas estão pegando atestado médico por cansaço físico e mental, eles vão no médico e dizem: ‘doutor, eu saí do plantão e não estou aguentando mais’. Fatalmente, isso sobrecarrega a equipe do dia seguinte, que também fica exausta. Quando você tem um adoecimento nesse nível, se vê que é um problema estrutural, que tem que ser trabalhado em várias frentes. O atendimento aos pacientes deixa de ser digno.”
A greve no Hospital São Paulo envolve uma singular confusão entre interesses públicos e privados. Dos 51 hospitais universitários federais existentes no Brasil, trata-se do único gerido por uma Organização Social da Saúde (OSS), a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
“Quem são os proprietários da SPDM? Professores titulares da Unifesp”, complementa o próprio Nacime Mansur em sua entrevista de 2022 ao Estadão. Para ser mais preciso, o organograma da SPDM aponta que 5 dos 8 membros de seu Conselho Administrativo são docentes da universidade, bem como os dois integrantes de sua Diretoria Executiva. A diluição de fronteiras entre OSS e instituição federal de ensino superior levanta questionamentos sobre problemas éticos e conflitos de interesses.
Poderosa, a SPDM também gere cerca de 30% dos serviços de atenção primária à saúde na capital paulista. No Hospital São Paulo, trabalham funcionários contratados em regime CLT pela OSS e servidores públicos da Unifesp – entre eles, muitos quadros da enfermagem –, que relatam duros embates com a gestão.
A greve defende a realização de novas contratações como uma forma de começar a enfrentar o problema da sobrecarga e afastar os riscos à segurança de funcionários e pacientes. No entanto, os trabalhadores frisam que transformações mais amplas são necessárias para o pleno funcionamento da unidade hospitalar, um serviço de referência em procedimentos de alta complexidade.
“O Hospital São Paulo recentemente apareceu em um levantamento internacional como um dos melhores hospitais do mundo. Somos campo de estágio e também promovemos muita pesquisa e extensão. Nós esperamos que as medidas que estamos propondo garantam pelo menos um respiro”, concluiu Rodrigo Bizacho.
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