Governo anuncia pacote de investimentos em cuidados
Projeto elaborado por 20 ministérios envolve diversos setores da sociedade por políticas públicas que quebrem o ciclo de precarização da vida e da saúde de quem cuida
Publicado 22/12/2025 às 14:10

Na semana passada, o governo federal anunciou os primeiros passos concretos para a efetivação da Política Nacional de Cuidados. Em coletiva no Ministério do Desenvolvimento Social, comandada pelos ministros Wellington Dias e Marcia Lopes (das Mulheres), foi apresentado o plano que prevê R$ 25 bilhões a serem aplicados até 2027.
Estudada em grupos de trabalho ao longo de dois anos, a Política Nacional de Cuidados foi sancionada por Lula em janeiro de 2025. Seu principal desafio, como demonstrado pelo Outra Saúde à época, é fazer ao menos um pouco de justiça aos milhões de brasileiros que exercem trabalhos invisíveis no cuidado ao próximo.
Em suas disposições gerais, a nova ação estatal visa alcançar este público, formado por mulheres negras, pardas, com vínculos informais e baixa escolaridade. Além disso, a política reconhece o trabalho informal não remunerado, que atravessa diversas relações sociais e familiares.
A ação é multi-setorial e envolve conhecimentos, práticas e equipamentos geridos por órgãos públicos vinculados a diversas áreas da administração pública, o que explica a presença de 20 ministérios em sua elaboração.
A agenda criada também contou com a participação da Escola Nacional de Administração Pública, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Conselho Nacional de Pesquisa Científica na sua concepção.
Como refletido por Jorge Félix, pesquisador de economia dos cuidados, a política tem o desafio de ser inovadora, uma vez que se trata de uma nova fronteira de reconhecimento social a formas de trabalho. O fenômeno é global e o Brasil tem o mérito de ser um dos primeiros países a institucionalizar tais noções.
Nesse sentido, a PNC investirá na criação de locais de cuidado infantil em estabelecimentos públicos, como universidades e institutos federais, ampliação de creches e apoio ao trabalho doméstico.
Haverá investimentos em iniciativas de economia solidária, como lavanderias públicas, ideia que visa tanto criar empregos neste setor econômico florescente como diminuir a carga de trabalho nas famílias.
O SUS entra no aspecto do cuidado com pessoas idosas. Ao lado do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) terá a tarefa de mapear e monitorar tal público nos territórios, o que pode ser favorecido por sua estrutura longitudinal na atenção básica.
As mulheres são alvo preferencial da política, uma vez que ainda se responsabilizam pelos cuidados de menores e idosos em escala desproporcional. Isso explica porque o programa Mulheres Mil + Cuidados, que promove capacitação profissional para trabalhadoras domésticas, já está em curso e pode ser considerada a primeira ação já em implementação.
A PNC será liderada por um comitê gestor, que a partir de agora inicia o processo de adesão de estados e municípios.
No plano crítico, como o leitor pode conferir na reflexão da cientista política Sônia Fleury, há toda uma estrutura de sociabilidade e administração pública de viés neoliberal como obstáculo a uma realização plena de tais objetivos. Trata-se, no fim das contas, de um dos novos desafios da democracia.
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