Faltava este mapa para enxergar as lutas da Saúde

Fiocruz, Ministério e Conselho Nacional de Saúde colocam no ar ferramenta colaborativa que permite visualizar os movimentos em favor do SUS – além de permitir-lhes interagir. Sinal de que a internet segue em disputa e vai muito além das redes sociais

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Não é possível pensar na reconstrução da democracia no Brasil sem considerar o evidente papel que tem a internet, hoje, no debate público. Nos últimos anos, na verdade, ela tem contribuído mais com a sua degradação – em especial por estar arquitetada, com base em grandes plataformas ultacapitalistas cujo objetivo é o lucro a qualquer custo. Por isso, vem em boa hora a notícia do lançamento do Mapa Colaborativo dos Movimentos Sociais em Saúde, na última quinta-feira (12/9). Trata-se de uma ferramenta coletiva que se apresenta como um contraponto à lógica individualista das redes sociais.

A plataforma reúne movimentos sociais que atuam na área da saúde, considerando-a em seu conceito ampliado: alimentação, habitação, educação, meio ambiente, lazer etc. Ela é estruturada com base no modelo Wiki, como a Wikipédia – ou seja, são os próprios usuários que produzem, alimentam e gerem o conteúdo. Mas construí-la foi um esforço conjunto do Ministério da Saúde (MS) com a Fiocruz e o Conselho Nacional de Saúde (CNS), entidades responsáveis por mantê-la ativa e pulsante. 

Algumas das pessoas essenciais para sua criação estiveram presentes no evento de lançamento, na semana passada, e ressaltaram sua importância. Entre as que compuseram a mesa de abertura, representavam o governo Márcio Macedo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e Swedenberger Barbosa, secretário executivo do Ministério da Saúde. Lúcia Souto, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do MS, esteve à frente do Mapa já nos primeiros meses do novo governo Lula. Em sua fala, explicou que o MapaMovSaúde surgiu a partir da compreensão de que é necessário, aos movimentos sociais, “dar visibilidade a quem somos, onde estamos, o que fazemos, de uma maneira clara. Para que possamos perceber o tamanho da nossa força”.

Rodrigo Murtinho, diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), é outro grande responsável pela elaboração. Do ponto de vista da comunicação, ele compreende que o Mapa cumpre mais um papel importante: “ele vai se juntar a um ecossistema de plataformas que tem o objetivo de democratizar o acesso à informação, promover, possibilitar e fortalecer o controle social. Além de algo que é fundamental hoje: combater a desinformação”. 

Murtinho destaca o momento crítico em que o Brasil se encontra em termos de regulação da internet. Apesar do correto banimento do ex-Twitter, de Elon Musk, parcela importante da população acessa a rede por meio da empresa do mesmo magnata: com as antenas da Starlink, muito populares na região Norte, onde o sinal é escasso. A urgente regulação das redes sociais ainda patina. Por isso, a necessidade de o poder público fortalecer plataformas que seguem a lógica oposta, como é o caso do Dicionário de Favelas Marielle Franco, o Wikifavelas, que hoje tem mais de 1.500 artigos escritos sobre e com as favelas, uma das referências do MapaMovSaúde.

O intuito da ferramenta é ser de simples acesso e contribuir com a construção conjunta dos movimentos sociais. Marcelo Fornazin, professor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e outra figura importante na criação do Mapa, explica suas principais funcionalidades. “A ideia é que as pessoas não sejam usuárias, elas sejam criadoras em conjunto do Mapa. Um espaço para dar visibilidade, para colocar as informações abertas, para que todos possam usar”, descreve. A plataforma pode ser navegada através de seus artigos e páginas, que também podem ser agrupados por temas ou visualizados em um mapa com georreferenciamento, como se vê abaixo.

“A gente entende que o Mapa é um bem público, que pertence a todos nós como coletividade, mas a ninguém individualmente”, ressalta Fornazin. Mas há, dentro da estrutura das três entidades que o mantêm, uma equipe de análise, curadoria e comunicação. Ela atuará contribuindo para enriquecer páginas, divulgar as novidades do Mapa e barrar conteúdos nocivos à rede. “O papel da comunicação é fazer essa tessitura digital dessa produção coletiva, criar a partir das lutas, das iniciativas, das histórias”, explicou Bruno César Dias, um dos integrantes dessa equipe.

O MapaMovSaúde já conta com mais de 500 cadastros – 80 novos desde o seu lançamento oficial, na semana passada. Os movimentos sociais já começam a enxergar a sua importância, e ajudar a construí-la. A luta pela saúde anda pujante no país, e uma prova são as inúmeras conferências livres que têm sido realizadas nos últimos anos. “A história do SUS se confunde com a dos movimentos sociais e vem sendo sustentada por eles”, defendeu Túlio Batista Franco, representante da Frente pela Vida, durante o lançamento. “Nós sabemos muito bem que um projeto de nação democrática popular se constrói e se sustenta com a participação social.” 

Nas palavras de Lúcia Souto, “A plataforma vai ser um instrumento para que a gente possa se articular mais, de uma maneira mais potente. Para construir uma sociedade crítica, uma sociedade que possa estar, de fato, transformando a realidade que nós vivemos”. E Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde  completa: “Por isso esse mapa colaborativo faz essa integração, para que a gente tenha cada vez mais força e nos organize melhor – inclusive nas relações que se constituem no dia a dia, nos territórios, até o nível nacional”.

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