EUA vacilam, e gripe aviária pode causar nova pandemia
• H5N1: EUA precisam aprender com países do sul • 10% das mortes no Brasil estão ligadas aos ultraprocessados • Redes sociais, saúde mental e desigualdade • Vacina contra mpox aprovada emergencialmente • Vapes: Reino Unido muda o rumo •
Publicado 22/11/2024 às 15:04 - Atualizado 26/11/2024 às 14:45
Tulio de Oliveira, cientista brasileiro radicado na África do Sul, cuja equipe foi responsável pelo sequenciamento genômico da cepa ômicron da covid-19 em 2021, escreveu um artigo de opinião contundente para o NY Times. Ele critica a ineficaz e opaca gestão da crise da gripe aviária (H5N1) pelo governo norte-americano. O vírus já foi detectado em 500 rebanhos em 15 estados, e recentemente contaminou um porco — notícia preocupante, explica Tulio, porque esses animais também contraem a influenza humana, o que poderia facilitar uma troca de material genético. “A incapacidade de controlar o H5N1 entre o gado americano pode ter consequências globais, e isso demanda atenção urgente. Os Estados Unidos estão fazendo muito pouco para controlar o surto, o que deixa o mundo intranquilo”, criticou.
O cientista recorda: no final de 2021, sua equipe sequenciou a variante ômicron do coronavírus e rapidamente alertou a comunidade internacional de seu possível (e posteriormente confirmado) rápido espalhamento. O governo estadunidense não está agindo da mesma forma: segundo Tulio, “muito poucas sequências genômicas de casos de H5N1 em animais foram disponibilizadas publicamente para revisão científica”. Ele alfineta: será que os EUA querem ser responsáveis por uma nova pandemia que poderiam ter controlado? Querem que o mundo conheça o H5N1 como o “vírus americano”? Tulio termina: “Os Estados Unidos deveriam aprender com a forma como o Sul Global responde às doenças infecciosas”.
O impacto dos ultraprocessados no SUS (e no Brasil)
Um estudo inédito da Fiocruz revelou que 1 em cada 10 mortes no Brasil pode ser atribuída ao consumo de ultraprocessados (alimentos como refrigerantes e bolachas recheadas, que são basicamente formulações industriais criadas para ter um sabor muito atraente, mas muito pouco nutritivas). São 57 mil óbitos anuais – e um impacto econômico de R$ 10,4 bilhões. Esses alimentos, associados a doenças como obesidade, diabetes e hipertensão, resultam em R$ 933,5 milhões de custos diretos ao SUS e R$ 9,2 bilhões em perdas econômicas devido a mortes precoces.
O impacto é maior em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde o consumo desses itens é elevado, em parte devido a desertos alimentares e maior renda regional. Mulheres apresentam três vezes mais hospitalizações relacionadas ao consumo de ultraprocessados, enquanto os custos com mortes masculinas são mais altos. Especialistas defendem políticas públicas como aumento de tributos para ultraprocessados e incentivos a alimentos in natura. Medidas como rotulagem e regulação de marketing são vistas como essenciais para reduzir a carga de doenças e os impactos econômicos associados.
Redes sociais angustiam mais os jovens periféricos?
Há amplo debate sobre como as redes sociais têm afetado a saúde mental de jovens, mas o quanto isso muda de acordo com a sua classe, raça e gênero? Uma matéria da Folha tratou do assunto sob alguns aspectos. Especialistas observam que, embora os efeitos sejam similares entre diferentes grupos sociais, as consequências tendem a ser mais graves em adolescentes de regiões periféricas, devido às condições de desigualdade que permeiam suas vidas. A exposição prolongada às telas gera ansiedade e irritação, intensificadas por algoritmos que promovem padrões de consumo incompatíveis com a realidade dessas comunidades. Mas as dificuldades enfrentadas por esses jovens, por certo, vão além do digital, envolvendo fatores como instabilidade familiar, violência e falta de infraestrutura. Esse cenário contribui para o aumento do sofrimento psíquico, especialmente entre mulheres e negros, que enfrentam sentimentos de exclusão e inadequação. Apesar disso, ponderam especialistas que falaram à matéria, o acesso ao digital pode oferecer oportunidades, como serviços de saúde mental online – marca da complexidade das interações entre tecnologia, desigualdade e saúde mental.
OMS aprova nova vacina contra mpox
A OMS incluiu a vacina LC16m8 contra mpox na lista de uso emergencial – o segundo imunizante aprovado para a doença. Desenvolvida pela KM Biologics, a vacina é indicada para maiores de um ano e administrada em dose única. Sua aprovação se baseou em dados de segurança e eficácia, incluindo para pessoas com HIV controlado, mas é contraindicada para grávidas e imunocomprometidos. A decisão busca ampliar o acesso em meio a surtos crescentes, como o da República Democrática do Congo – que lidera os casos com mais de 39 mil suspeitas e mil mortes. No Brasil, até novembro, houve 1.638 casos confirmados ou prováveis, concentrados no Sudeste. A OMS também aprovou recentemente a vacina Jynneos, ampliando sua indicação para adolescentes vulneráveis.
Reino Unido vai banir vapes descartáveis
O Reino Unido parece estar mudando de rumo quanto à permissividade com os cigarros eletrônicos. Se há alguns anos eles eram incentivados para fumantes que queriam reduzir o uso, hoje começam a surgir algumas restrições. A maior preocupação, agora, é com os vapes descartáveis, que são uma febre entre os jovens. Ao contrário do que a indústria do tabaco alardeava, em vez de reduzir o fumo, está criando uma nova geração de fumantes e revertendo a queda do tabagismo naquele país. O tabagismo ainda mata cerca de 80 mil pessoas por ano no Reino Unido. A partir do próximo verão, todos os vapes descartáveis serão banidos, e o país começará a pôr em prática uma medida ousada: proibir completamente qualquer produto derivado do tabaco para pessoas com 15 anos ou menos – de agora para o resto de suas vidas. Segundo dados sobre jovens daquele país, a proporção de jovens entre 11 e 17 anos que faziam uso dos vapes regularmente aumentou de 4,1% para 7% de 2020 para 2022 – e o número se mantém até hoje. Segundo o National Health Service (NHS), um quarto dos adolescentes entre 11 e 15 anos já experimentaram o cigarro eletrônico.