Enfermagem gera impasse entre Brasil e Alemanha

• Alemanha quer profissionais da enfermagem brasileiros • Saúde e enchentes • Negligência vacinal, maior causa de morte por covid • Vacinas desperdiçadas • CFM insiste em proibir aborto para vítimas de estupro •

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Enquanto reluta em valorizar a maior força de trabalho do SUS, como se vê nos percalços em implantar plenamente o piso salarial nacional, o Brasil vê a Alemanha estimular a imigração de enfermeiros para cobrir seu crescente déficit de tais profissionais. Isso porque, desde 2018, o país europeu tem uma política de atração de enfermeiros estrangeiros, que formam cerca de 10% de sua força de trabalho no ramo, estimada em 1,2 milhão. Os convênios instituídos pela Alemanha geraram diversas críticas, desde intermediários no recrutamento até as próprias condições de trabalho, a sugerir que o país europeu enxerga tal mão de obra como relativamente barata mundo afora. Através do governo Lula, o Ministério do Trabalho interveio no tema e suspendeu o acordo entre Conselho Federal de Enfermagem e a Agência Federal de Emprego alemã, mas a política de incentivos europeia prosseguia por outros meios, o que gerou novas queixas brasileiras nos últimos dias.

Saúde debate estratégias diante de enchentes

O Rio Grande do Sul completou um mês debaixo das águas que destruíram o estado. Enquanto o governo federal coordena esforços de reconstrução, o Ministério da Saúde tenta resguardar a população num contexto de condições sanitárias adversas e, como mostrado pelo Outra Saúde, procura fazer o SUS funcionar até debaixo d’água. Uma comitiva liderada por Nísia Trindade passou a última semana no estado com alguns de seus principais secretários e gestores, a fim de organizar com autoridades gaúchas do setor uma estratégia de saúde em enchentes – inclusive após o escoamento das águas. O encontro foi realizado na sede do Grupo Hospitalar Conceição e, de acordo com Ethel Maciel, secretária de Vigilância e Ambiente, o foco agora é analisar a nova condição epidemiológica que se apresentará, com o mapeamento das doenças às quais a população estará mais exposta, para definição de novas políticas de enfrentamento. Leptospirose, hepatites, tétano e síndromes respiratórias são algumas das doenças imediatamente potencializadas pela destruição causada após as chuvas no estado.

Covid: negligência vacinal segue a matar

Como foi noticiado por este boletim, o coronavírus ainda mata milhares de pessoas, mesmo em 2024. Segundo especialistas, a grande maioria das vítimas é de pessoas cujo esquema vacinal não foi atualizado, em especial idosos e crianças. Em maio, o IBGE mostrou que ainda são cerca de 11 milhões de brasileiros que nunca tomaram uma dose da vacina – metade são menores de 18 anos, prova de que o negacionismo em relação à imunização infantil segue a produzir estragos. A conexão político-ideológica é inequívoca, uma vez que a oposição de extrema direita insiste com um projeto de “decreto legislativo”, que dispensa obrigatoriedade de vacinas em menores, aprovado na semana passada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

Consequência infeliz

Diante do quadro apresentado, não parece surpreendente que o Brasil deixe de aplicar doses de vacinas disponíveis e seja obrigado a descartá-las por atingirem data de vencimento. É o caso de 6 milhões de doses da vacina Janssen, cujo custo está estimado em R$ 227 milhões, e acabam de ser descartadas pelo Ministério da Saúde. Para além da falta de adesão de parte da população, em especial aquela não considerada grupo de risco, contribuiu para o desperdício o fato de o ministério ter passado a priorizar vacinas mais atualizadas e com utilização de RNA mensageiro como princípio ativo da imunização. Já a vacina da Janssen, que chegou ao Brasil em esquema de uma dose ou de dose de reforço, é feita com a tecnologia do adenovírus – geneticamente modificado para não causar infecção. Em março de 2023, o governo também foi obrigado a incinerar lotes de vacinas que não foram entregues aos estados na gestão Bolsonaro-Queiroga.

CFM insiste em sua agenda antivida

O Conselho Federal de Medicina (CFM) continua lutando contra a vida das mulheres, em especial aquelas que sofreram violência sexual. Há duas semanas, o ministro do STF Alexandre de Moraes havia suspendido a resolução que proibia a realização de assistolia fetal em abortos legais aposto 22 semanas de gestação para vítimas de estupro – em poucas palavras, representa a inviabilização do aborto. Agora, o CFM apresentou mais um recurso, solicitando a revisão da decisão e a redistribuição do processo ao ministro Edson Fachin – argumentando que ele já atua em um caso semelhante, buscando evitar decisões conflitantes. Embora a resolução do CFM não esteja acima da lei, que não define tempo gestacional para a realização do aborto nos termos em que é legal, trata-se de um retrocesso que pode causar imenso sofrimento às mulheres brasileiras – em especial as mais vulneráveis. O STF rejeitou a redistribuição dos casos, destacando a diferença nos objetos das ações.

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