Em Washington, Nísia reforça agenda brasileira 

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Na capital dos Estados Unidos para reunião da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a  ministra Nísia Trindade aproveitou suas falas para reforçar pontos estratégicos do Estado brasileiro no tema. Em termos globais, reafirmou a posição defendida pela própria OMS no acordo de prevenção a futuras pandemias, emperrado pela ação dos países onde se sediam as principais empresas da indústria farmacêutica. O encontro também definiu estratégias de promoção da saúde da mulher, o que conflui com a reorganização da Política Nacional de Saúde Integral da Mulher, simbolizada na transformação da antiga Rede Cegonha em Rede Alyne. Foram estabelecidos objetivos de redução das mortes maternas, que sofreram explosão no país nos últimos anos e é um dos focos centrais da atual gestão.

Questão climática entra de vez na agenda da saúde

Talvez o ponto mais relevante de sua viagem a Washington tenha sido a abordagem da questão climática e suas determinações em saúde. Após dois eventos climáticos de grande magnitude que não deixam dúvidas para a crise ecológica, o Brasil estabelece planos de combate e prevenção a incêndios e avança na criação de uma Autoridade Climática para lidar com eventos como as chuvas do Rio Grande do Sul e a atual temporada de seca e queimadas que afeta praticamente todo o território. Dessa forma, a mudança climática entra de forma definitiva na política de saúde, uma vez que se torna uma causa objetiva de crises sanitárias, epidemias e até acessibilidade a estabelecimentos de saúde em função de desastres variados.

Tal noção foi reforçada no Plano Uma Só Saúde, que busca convergência entre a promoção de políticas de saúde com áreas como meio ambiente e agricultura. Ainda nesse sentido, Jarbas Barbosa, presidente da Opas, destacou que arboviroses, como a dengue, têm sua ascensão diretamente ligada ao aumento de temperaturas. No Brasil, a emergência climática fez o Ministério da Saúde acionar a Força Nacional do SUS, um mecanismo excepcional de combate a eventos climáticos extremos, duas vezes neste ano. No momento, cumpre missões em estados e cidades da região Norte onde os serviços de saúde se tornaram menos acessíveis em razão das queimadas e da seca dos rios.

Guia das mudanças climáticas para profissionais do SUS

Neste mesmo sentido, o ministério lançou o Guia de Bolso das Mudanças Climáticas para Profissionais de Saúde, que será entregue aos trabalhadores do SUS, além de disponibilizado na internet. Em suas 139 páginas, o guia traz capítulos sobre os efeitos de eventos extremos em saúde cardiovascular, renal, respiratórias, oftalmológicas e cutâneas, gastrointestinais, neurológicas, mentais e materno-infantis. O Guia também inclui saúde animal, zoonoses e transmissões vetoriais de doenças entre suas orientações, além de explicar causas estruturais da influência de emergência climática na saúde coletiva. O ministério recomenda o Guia não só para funcionários do SUS como também para as próprias comunidades usuárias do sistema.

ANS retoma ideia de Ricardo Barros

Em reunião na última sexta-feira, a ANS aprovou uma pauta que será apresentada em audiência pública no próximo dia 7. A agenda reflete uma série de dilemas pelos quais passa o mercado de saúde, que voltou a registrar lucro, mas ainda sofre pesados questionamentos dos próprios usuários de saúde. Os dois aspectos mais importantes nos conflitos entre seguros e clientes têm sido o cancelamento unilateral de planos cujos usuários fazem tratamentos considerados caros e o reajuste das mensalidades para as famílias, que são cerca de 17% dos 51 milhões de brasileiros que usam planos de saúde.

No entanto, o que mais chama atenção das deliberações da reunião da ANS é o resgate de uma ideia defendida, e fracassada, no governo Temer. Logo após a destituição de Dilma, o novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, apareceu com a proposta dos “planinhos de saúde”. Isto é, planos mais baratos, em torno de R$ 30, que dariam direito apenas a atendimento ambulatorial, mas não à internação. Esta parte, a mais cara do serviço de saúde, ficaria a cargo do SUS. Sem nenhuma base técnica para sustentar a proposta, a ideia não avançou. Mas agora reaparece na pauta da ANS, o que gera críticas de diversos especialistas que estudam os sistemas de saúde.

Associação de Jogos e Loterias acena com tratamento para viciados

A “epidemia” das bets já se tornou um assunto de saúde pública e até os exploradores dos jogos assumem essa realidade. Nesta terça, a Associação Nacional de Jogos e Loterias anunciou um plano de prestação de assistência em saúde mental para pessoas que queiram se livrar da compulsão por apostas e jogos de azar. A iniciativa promoverá ações de atendimento em bairros periféricos como experimento inicial, e prevê outras 20 mil consultas online para viciados. No entanto, ainda não se sabe quem prestará o serviço, que seria gratuito. A ANJL também anunciou que lançará uma espécie de selo de qualidade para diferenciar sites supostamente mais confiáveis, o que faz parte do plano de legalização de tais modalidades de jogos, desejada por tais empresas. Enquanto isso, o Ministério da Fazenda planeja ação de retirada do ar de sites não licenciados no Brasil e a ministra da Saúde afirma que o vício deve ser tratado em moldes similares às campanhas antitabaco já realizadas pelo Estado brasileiro.

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