Desastres climáticos ameaçam a saúde mental de comunidades

• Atingidos por barragens: medo e sofrimento • Saúde digital para a saúde indígena • Gestações não planejadas • Gravidez infantil ainda assola países pobres • Diabetes em grávidas afeta crianças • Combate da malária na Amazônia •

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Quase dez anos desde o desastre de Mariana (MG), outra construção, agora em Congonhas (MG) – localizada a 70km de Mariana –, está causando o adoecimento de moradores, segundo o Movimento Atingido por Barragens (MAB). Em janeiro, uma audiência do MP-MG  na cidade destacou relatos de aumento do uso de medicamentos controlados e medo dos dias chuvosos devido à barragem. A Folha fez matéria com detalhes sobre o caso, contando inclusive com exposições de moradores.

Colunista do Outra Saúde, Cláudia Braga escreveu, em 2024, sobre a relação entre a saúde mental e os desastres climáticos. Segundo ela, há duas linhas de ação constituindo uma abordagem do tema; uma delas é a que parte da ideia de que as mudanças climáticas intensificam fatores de risco para problemas de saúde mental. Isso porque essas mudanças geram consequências que impactam diretamente na vida das comunidades – como inundações, secas e queda de barragens –, ameaçando a saúde física e mental dos cidadãos.

Governo quer ampliar conexão entre as Unidades de Saúde Indígena

O governo federal planeja interconectar todas as unidades de saúde indígena do país até o fim de 2026, garantindo que todos os estabelecimentos públicos responsáveis pela atenção primária à saúde dos povos originários tenham acesso à internet de qualidade. De acordo com a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), o número de atendimentos a indígenas, incluindo consultas médicas e vacinações, vem aumentando ano após ano. Diante desse cenário, a Sesai vem buscando alternativas para ampliar a assistência.

Segundo Weibe Tapeba, secretário nacional da Sesai, em entrevista à Agência Brasil, melhorar a conectividade permitirá, entre outras coisas, a implementação da infraestrutura de telessaúde nas comunidades, garantindo que os indígenas tenham acesso a médicos sem precisar deixar suas aldeias. Além disso, o secretário destaca que a conectividade entre as Unidades de Saúde é também uma forma de permitir que os profissionais de saúde que atuam nestas localidades possam manter contato com familiares.

Dois terços das gravidezes em SP não são planejadas

Uma pesquisa, resultado do doutorado do sociólogo Negli Gallardo, revelou que 65% das mulheres grávidas no estado de São Paulo não planejaram a gestação. O número ultrapassa a média histórica registrada em estudos anteriores. Entrevistando mais de 500 mulheres grávidas e de diferentes regiões do estado, o pesquisador revelou que as gestações não planejadas são mais frequentes entre mulheres pretas, pardas, com menos escolaridade, que não estavam casadas e com mais filhos.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Gallardo disse que uma das conclusões da pesquisa é que a educação superior deveria ser mais abrangente, sobretudo para mulheres pretas e pardas, já que a educação é um fator que pode melhorar a saúde sexual e reprodutiva. Além disso, o autor destaca os custos sociais de uma gravidez não planejada e fala sobre a falta de acesso a métodos contraceptivos como o DIU hormonal e o implante subcutâneo.

Gravidez infantil ainda é grande problema à saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o casamento infantil continua sendo o principal fator por trás dos altos índices de gravidez na adolescência em todo o mundo. Em novas diretrizes publicadas esta semana – as primeiras em 13 anos sobre o tema –, a agência da ONU destaca que mais de 21 milhões de meninas entre 15 e 19 anos engravidam anualmente em países de baixa e média renda. 55% dessas gestações terminam em abortos, muitas vezes realizados em condições inseguras. 

As consequências para a saúde dessas jovens são devastadoras: meninas grávidas entre 10 e 19 anos enfrentam risco 50% maior de desenvolver complicações como eclâmpsia e infecções pós-parto em comparação com mulheres na casa dos 20 anos. Seus bebês também sofrem maiores chances de nascer prematuros ou com baixo peso. A cada três segundos, uma menina se casa antes de completar 18 anos, segundo dados da Girls Not Brides. Elas se expõem não apenas aos riscos da gravidez precoce, mas também à violência doméstica e à interrupção dos estudos. A OMS enfatiza que a educação é a ferramenta mais poderosa para mudar esse cenário – cada ano adicional na escola reduz em 6% a probabilidade de um casamento infantil. 

Diabetes gestacional gera riscos ao neurodesenvolvimento infantil

Um estudo publicado no The Lancet Diabetes & Endocrinology, no início do mês, explica como a diabetes gestacional – uma complicação na gravidez que pode afetar até um terço das mulheres em todo o mundo – está associada a um maior risco de problemas de neurodesenvolvimento em crianças. Os dados e resultados da pesquisa destacam a necessidade de triagem e tratamento precoce da diabetes.

A análise, que reuniu dados de 202 estudos com mais de 56 milhões de gestações mundo afora, demonstrou que os riscos de TDAH e deficiência intelectual eram ligeiramente mais altos em comparação com os de outros problemas, como o autismo. Encontrou-se, além disso, maior probabilidade de transtornos do neurodesenvolvimentos em crianças de mulheres que eram diabéticas antes da gravidez. Os resultados não significam, entretanto, que a diabetes seja causa direta desses transtornos.

OPAS e CAF firmam parceria para combater malária em fronteiras da Amazônia

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) assinaram nesta terça (22) um acordo para fortalecer o controle da malária em áreas de fronteira da região amazônica. A iniciativa visa superar barreiras como o acesso limitado a diagnósticos, tratamentos e coordenação entre países, além de ampliar a capacitação de profissionais de saúde e redes locais de vigilância.

“Trabalhar em áreas de fronteira é fundamental para combater a malária em nível regional”, destacou Jarbas Barbosa, diretor da OPAS. A iniciativa reforça o compromisso com populações vulneráveis, como indígenas – grupo que concentrou 31% dos casos e 41% das mortes por malária em 2023. A doença, transmitida por mosquitos Anopheles, afeta principalmente a Amazônia: foram 505 mil casos registrados nas Américas naquele ano. A cooperação integra a Iniciativa de Eliminação de Doenças da OPAS, que mira erradicar mais de 30 enfermidades até 2030.

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