Como o Estado ajuda a expandir a saúde privada

Desigualdades no Brasil geram distorções no acesso à saúde, e SUS pode ser considerado “menor” que setor privado. Como mudar a lógica?

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Na manhã desta terça (2), especialistas em economia da saúde fizeram um debate sobre a atualidade das relações público-privadas no setor da saúde. A conclusão de que o SUS sai prejudicado é unânime. Tal relação não se dá apenas pelo propalado desfinanciamento, através da “política econômica de austeridade imposta”, como dito por Nilson Rosário dos Santos. O Estado financia o bilionário oligopólio do setor através de variados subsídios e isenções.

As distorções, como analisou Ligia Bahia, médica e pesquisadora do Grupo de Estudos de Empresariamento da Saúde da UFRJ, fazem com que o SUS seja na prática “menor que o setor privado”. Trata-se de uma distorção atroz, uma vez que o sistema público é universal e atende a todos os brasileiros, enquanto o privado se limita a 25% da população. Graças a essa dinâmica, o setor privado emprega mais profissionais e realiza mais procedimentos de média e alta complexidade, uma distorção brutal do direito à saúde, garantida por bancadas de lobby no Congresso, como detalhado por Ligia Bahia.

De forma complementar, o pesquisador Fausto Pereira dos Santos (Fiocruz-MG) demonstrou como o investimento estatal em saúde segue longe do ideal. Ao decompô-lo por habitante, revela-se ainda mais baixo do que diversos outros países, inclusive de renda média inferior. “Ao não optar pela expansão da rede própria, o Estado incentiva a expansão da rede privada. Vivemos um momento de crescimento do capitalismo do setor”, sintetizou, em referência ao aquecido mercado de fusões e aquisições entre redes de hospitais, seguros e produtos de saúde.

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