Como descarbonizar sem destruir os ecossistemas?
A corrida pela descarbonização é hoje uma pauta global, mas ela não pode se dar às custas de florestas devastadas, rios contaminados e comunidades desalojadas
Publicado 22/05/2025 às 15:24
A corrida por minerais críticos e elementos de terras raras é hoje uma pauta global, em que está inserida, por exemplo, a discussão sobre a Bacia Amazônica, tida como maior sumidouro de carbono e reduto de biodiversidade do planeta. À medida em que os países aceleram em rumo à descarbonização, cresce a busca por minerais e energias limpas. Mas essa corrida expõe um verdadeiro paradoxo: a transição para um futuro com menos carbono pode acelerar a destruição ambiental, afetar populações locais e fragilizar regulamentações em uma das regiões mais vulneráveis do planeta.
A China, por exemplo, amplia sua presença na América do Sul via infraestrutura e contratos minerais. EUA, União Europeia, Canadá e Japão buscam fontes alternativas e rotas fora do controle chinês. Nesse contexto, países da Amazônia viraram alvos centrais, com empresas ocidentais e asiáticas disputando áreas de exploração, geralmente com apoio de financiamento estatal. Além disso, com todos os problemas de infraestrutura e fiscalização, o crime avança na região, com a expansão de redes ligadas ao tráfico de cocaína, à extração ilegal de madeira e ao garimpo.
O dilema é evidente: como conciliar demanda por minerais estratégicos – essenciais para a transição energética – sem destruir a integridade ecológica e social da Amazônia? Medidas como formalizar a mineração artesanal, promover tecnologias livres de mercúrio e reforçar os estudos de impacto ambiental são necessárias, mas ainda insuficientes. O que se exige são modelos de governança que coloquem em primeiro plano os interesses das comunidades locais, garantam consultas rigorosas e respeitem os limites ecológicos acima da lógica da extração a qualquer custo.
Em resumo, a descarbonização não pode se dar às custas de florestas devastadas, rios contaminados e comunidades desalojadas. A Amazônia não é só um depósito de recursos: é um organismo vivo que regula o clima, sustenta culturas e aponta alternativas. A questão de se florestas mundo afora serão sacrificadas à demanda do Norte Global ou se poderão ser palco de uma transição justa e verdadeiramente sustentável irá moldar o destino de nosso planeta.
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