Cesáreas desaceleram em hospitais privados, após programa da ANS
• Menos partos cirúrgicos em hospitais privados • Vacina contra a dengue será ampliada no Rio • Febre amarela em SP • As bactérias resistentes que mais matam no SUS paulista • Calor extremo pode matar milhões de europeus neste século •
Publicado 29/01/2025 às 11:27 - Atualizado 29/01/2025 às 11:46
Há, como mostra o gráfico abaixo, um problema grave no Brasil, que afeta em especial hospitais particulares: a realização desnecessária de cesáreas. Provocada por uma ação do Ministério Público Federal, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou o Programa Parto Adequado (PPA) em 2014. Alguns estudos publicados recentemente, destacados em reportagem da revista Pesquisa Fapesp, mostraram que ele foi capaz de reduzir partos cirúrgicos desnecessários em hospitais de São Paulo.
Um estudo da USP e UnB apontou queda de 11,5 pontos percentuais nas maternidades que aderiram ao programa. Outro estudo do Hospital Albert Einstein mostrou aumento de partos vaginais e redução de internações neonatais. Já uma pesquisa da Fiocruz indicou que práticas como não agendar o parto e garantir autonomia às gestantes elevaram a chance de parto normal para 80%.
Reduzir cesáreas desnecessárias evita complicações maternas e neonatais, como internação em UTI. No Brasil, a taxa de partos cirúrgicos supera 55%, bem acima dos 15% recomendados pela OMS. A adesão limitada ao PPA reflete desafios estruturais e culturais, incluindo a falta de informação para gestantes e a resistência à maior participação de enfermeiras obstétricas no parto.
Rio amplia faixa etária da vacinação contra dengue
Estados muito afetados pela dengue continuam a buscar soluções para conter a doença em 2025. Depois de São Paulo anunciar que fará busca ativa de adolescentes que não tomaram a segunda dose da vacina, foi a vez do Rio de Janeiro tomar novas medidas. A decisão da Secretria Municipal de Saúde vai por outro caminho: ampliar a faixa etária daqueles que podem receber o imunizante.
A partir de fevereio, na capital fluminense, os jovens de 15 e 16 anos também poderão se vacinar — a definição do Ministério da Saúde é que as doses devem ser reservadas para pessoas entre 10 e 14 anos. “Temos uma preocupação grande porque o número cresce em São Paulo, que já tem 58 mil casos, e tem a dengue tipo 3 circulando, que pode chegar ao Rio a qualquer momento”, afirmou Daniel Soranz, secretário municipal de saúde.
SP tem alta aguda de febre amarela em janeiro
São Paulo registrou sete casos e três mortes por febre amarela em 2025, superando em menos de um mês os números de óbitos do ano passado. As infecções ocorreram no interior, nos municípios de Socorro, Tuiuti e Joanópolis, todas na região de Campinas, onde está sendo realizado um reforço na vacinação. Também há um alerta na cidade de Ribeirão Preto. Desde 2020, o estado não registrava números tão altos no início do ano.
A febre amarela, transmitida por mosquitos silvestres, não tem transmissão direta entre humanos. Os sintomas incluem febre, calafrios e dor de cabeça, e podem evoluir para formas graves. A vacina, disponível no SUS, é a principal forma de prevenção, e está disponível para todos os indivíduos a partir de 9 meses de idade. Especialistas alertam para a necessidade de monitoramento da fauna e ampliação da imunização, evitando surtos como os de 2018 e 2019, quando a letalidade chegou a 32%.
Resistência a antibióticos e as infecções que mais matam em SP
Um estudo da Unifesp mapeou infecções hospitalares em SP e destacou o impacto da resistência bacteriana a antibióticos. Pneumonias, infecções urinárias e da corrente sanguínea causaram 541 mil mortes em dez anos, com custos de R$ 4,7 bilhões ao SUS paulista. A letalidade de infecções da corrente sanguínea no Brasil chega a 56,5%, muito acima da média europeia. Sem ação efetiva, estima-se que os custos globais em saúde podem atingir US$ 1 trilhão até 2050.
Especialistas ouvidos pela Folha defendem um programa nacional robusto para monitorar resistências e ajustar protocolos de tratamento. Inclusive porque pode haver desigualdades regionais importantes: “Você pode ter bolsões de áreas mais resistentes e outros de áreas mais sensíveis”, estima o pesquisador Carlos Kiffer, professor adjunto da Unifesp. A resistência antimicrobiana, uma das maiores ameaças globais à saúde, já compromete o tratamento de infecções comuns: estima-se que 145 mil casos de pneumonia sejam resistentes à ceftriaxona e até 90 mil infecções urinárias não respondam às quinolonas.
Estudo estima milhões de mortes por calor extremo na Europa
Um estudo publicado na Nature Medicine estima que 2,3 milhões de pessoas em cidades europeias podem morrer até o fim do século devido a temperaturas extremas, caso não haja mitigação das mudanças climáticas. Pesquisadores analisaram dados de mortalidade e temperatura em 854 áreas urbanas de 30 países e projetaram um aumento de quase 50% nas mortes relacionadas ao clima. Atualmente, mortes por frio superam as por calor em dez para um, mas essa tendência deve se inverter com o aquecimento global.
O sul da Europa – especialmente leste da Espanha, sul da França, Itália e Malta – será o mais afetado. O estudo testou cenários de aquecimento entre 1,5°C e 4°C e avaliou estratégias de adaptação, como ampliação de áreas verdes e ar-condicionado. Pessoas acima de 65 anos e moradores de cidades com efeito de ilha de calor urbano serão os mais vulneráveis. Especialistas defendem investimentos urgentes em transporte público e políticas para reduzir emissões, reforçando que essas projeções podem ser alteradas com ação imediata.