Censo das UBSs revela fragilidade na atenção para doenças crônicas

Inquérito mostra que apenas 15% dos postos de saúde estão totalmente prontos para atender e prevenir diabetes e hipertensão. Estratégia de Saúde da Família é fundamental

UBS Catiapoã celebra Dia Mundial contra a Diabete. Créditos: Prefeitura de São Vicente/SP
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Recém-lançado, o Censo Nacional das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) traz um raio-x inédito da atenção primária no SUS, que ajuda a mostrar as fragilidades e necessidades do SUS. Agora, caberá aos pesquisadores fazer a análise desses dados – e ao Ministério da Saúde, que encomendou o inquérito, fazer mudanças. Representantes da academia e do governo se encontraram no 14º Abrascão, na terça (2), para mostrar algumas das primeiras conclusões a seu respeito.

Luiz Facchini, pesquisador da UFPel, integrante da Rede de Pesquisa APS e coordenador do Censo, presente no debate, celebrou o pioneirismo da iniciativa: “Não há país nesse contexto com uma avaliação atualizada dessa magnitude no mundo”. Ele aproveitou para mostrar alguns resultados a respeito da oferta de cuidados, nas UBSs, para pessoas com hipertensão, diabetes e obesidade.

Em quase todos os postos de saúde há consultas, exames, visitas domiciliares e medicamentos para o tratamento das doenças. Mas falta, em muitas delas, orientação de alimentação e qualidade saudável, práticas corporais e atividades físicas – estratégias essenciais para evitar o aparecimento dessas condições crônicas. 

No entanto, o que os dados deixam claro é que a “completude de ações” para tratar e evitar os três agravos é rara: apenas 15% das UBS estão preparadas para atender pessoas com obesidade e hipertensão, e 13% para obesidade. Desigualdades regionais também preocupam: se no Sudeste 18,3% das unidades oferecem uma ampla gama de atividades para evitar problemas cardíacos, o Sul conta com apenas 10,7%.

Facchini frisa que há um elemento que se destacou: “a cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF) é essencial para o tratamento de condições crônicas”. Em outras palavras, as unidades com ESF garantem 70% mais a completude dos cuidados para essas três doenças crônicas não-transmissíveis. Além dela, mostram indicadores melhores os postos que contam com Agentes Comunitários de Saúde, com equipes eMulti e com educação permanente. 

Para o pesquisador, essas são três demandas urgentes para garantir o tratamento de hipertensão, diabetes e obesidade: uma ESF robusta, “integral, comunitária, integrada a rede, com vinculação com a comunidade, participação social e que articula um conjunto de ações”. Além dela, a “atualização e inovação de equipamentos” e a “universalização da educação permanente para todos os profissionais e gestores”.

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