Brasil: problema da vacinação infantil persiste

• A crise global da imunização infantil • 10 anos do surto de zika e sua síndrome congênita • EUA impedem entrada de imigrantes médicos • E MAIS: investimento em ginecologia; calor extremo; Conferência da CLACSO; barragem do Fundão •

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Um estudo, publicado nesta terça-feira (24) na revista The Lancet, mostra que, desde 2015, há um aumento do número de crianças no mundo que nunca receberam qualquer imunizante na vida. São as chamadas “dose zero” que totalizam, hoje, 18 milhões. Metade delas está concentrada em apenas oito países – e o Brasil é um deles. O trabalho indica que a vacinação infantil global está estagnada desde 2010 inclusive em países do Norte Global – em 21 dos 36 países mais desenvolvidos caíram as taxas de imunização infantil contra doenças como poliomielite e sarampo. Os pesquisadores alertam que, nesse ritmo, não serão atingidas as metas estabelecidas pela OMS. 

Sobre o Brasil,  embora tenha um plano de vacinação robusto e reconhecido internacionalmente, a partir de 2015 o país passou a apresentar uma queda contínua na imunização infantil. Segundo os resultados da mesma pesquisa, 80% dos brasileiros vivem em cidades com vacinação suficiente. Mas, em alguns estados do país, mais da metade das crianças não volta para a segunda dose. Carolina Lins, professora da UFMG, atribui essa mudança de comportamento dos brasileiros – que sempre tiveram grande aceitação das vacinas – a fenômenos como a disseminação de fake news e o aprofundamento das desigualdades.

Zika completa 10 anos com sequelas graves e desafios no atendimento

Uma década após o surto de zika no Brasil, crianças com a Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCZ) continuam enfrentando dificuldades no acesso a tratamentos especializados. O vírus, transmitido pelo Aedes aegypti, foi associado em 2015 a casos de microcefalia e outras complicações neurológicas graves, principalmente no Nordeste. Estudos mostraram que a SCZ causa problemas como calcificações cerebrais, convulsões de difícil controle e complicações urológicas — 62% das crianças desenvolveram bexiga neurogênica. Apesar dos avanços na compreensão da doença, muitas famílias relatam atrasos em cirurgias e falta de continuidade na reabilitação.

O sistema público de saúde ainda não oferece um teste sorológico confiável para diagnóstico durante a gravidez. Mães de crianças com SCZ denunciam a burocracia para conseguir atendimento e a falta de suporte psicológico. “A sociedade prefere nos rotular de guerreiras para não estender a mão. Não é heroísmo, é necessidade”, relata uma das mães. O maior desafio agora, segundo mostra a matéria da Agência Fiocruz, é garantir atendimento contínuo para essas crianças, que podem desenvolver sequelas tardias mesmo quando nascem sem sintomas aparentes.

Falta de residentes médicos imigrantes nos EUA precariza a saúde no país

As restrições de viagem e de concessão de vistos impostos pelo governo Trump ameaçam o atendimento a pacientes em centenas de hospitais nos EUA que dependem de residentes médicos recrutados em outros países. Esses residentes costumam atuar como linha de frente em hospitais movimentados localizados em comunidades de baixa renda no país, de forma que parte desses estabelecimentos está tentando evitar a escassez de equipe médica. O cenário é realmente preocupante quando se tem em vista que 20% dos médicos estadunidenses nasceu ou estudou no exterior e que novos médicos de outros países representam 1 em cada 6 residentes e especialistas em hospitais universitários dos EUA.

“Se os médicos formados em outros países não puderem começar as suas residências médicas até 1º de julho, as consequências serão tão graves que é quase inconcebível”, diz Kimberly Burke, diretora executiva da Aliança de Centros Médicos Acadêmicos Independentes. A maioria deles ingressa justamente em áreas de atenção primária, como medicina de família e pediatria, áreas carentes que os médicos estadunidenses tendem inclusive a evitar e das quais mais precisam as pessoas de baixa renda, das áreas urbana e rural. Além de tudo isso, um número insuficiente de residentes ainda pode custar para as instituições hospitalares verbas do Medicare vinculadas à educação médica de pós-graduação.

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Cuidados integrados para a saúde da mulher

O Ministério da Saúde vai investir R$ 300 milhões anuais para a ginecologia, no âmbito do programa Agora Tem Especialistas. Diagnósticos e cirurgias devem ser acelerados. O encaminhamento será feito pela Atenção Básica. Aqui está o que diz o MS.

Calor extremo afetará cidades brasileiras

Em 2050, 5 milhões de pessoas estarão expostas a pelo menos um mês de calor em nível prejudicial à saúde. Uma pesquisa feita pela ONG Carbon Plan constatou que cidades como Teresina, Cuiabá e Manaus sofrerão desigualmente com o aquecimento da terra. Entenda quais são os perigos.

O debate sobre saúde na X Conferência da CLACSO

A X Conferência Latino-americana e Caribenha de Ciências Sociais, promovida pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), aconteceu este mês. O Cebes integrou o conversatório “Entre reformas e realidades: o rumo da saúde na América Latina e na Colômbia”, organizado pelo GT de Estudos Sociais para a Saúde. Veja um pouco das discussões.

Livro detalha desdobramentos da queda da Barragem de Fundão

A partir dos relatos de pessoas atingidas, uma doutoranda em Antropologia Social na UFSCar, acompanhou e divulgou os desdobramentos do maior desastre socioambiental do Brasil. Veja o que diz a autora.

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