Bactérias resistentes a antibióticos e suas difíceis soluções
Novo relatório da OMS reúne dados sobre infecções bacterianas reportados por 104 países
Publicado 23/10/2025 às 14:32 - Atualizado 23/10/2025 às 14:42

Entre 2018 e 2023, a resistência a antibióticos aumentou em mais de 40% entre os medicamentos monitorados, apontou o Relatório Global de Vigilância da Resistência aos Antibióticos 2025, divulgado pela OMS na última semana. O crescimento médio anual resulta em 5% a 15%, e preocupa a saúde brasileira.
O Brasil disponibilizou dados sobre infecções sanguíneas e urinárias, em que a resistência varia de 2,6% a 58,8%. Na página 97 do relatório, é possível conferir mais informações; contudo, se destacam as bactérias causadoras Acinetobacter spp, com 58,8%, K. pneumoniae S, com 41,1% e Escherichia coli, com 34,6%.
O relatório reúne dados de 23 milhões de infecções bacterianas, reportadas por 104 países entre 2016 e 2023, resultado do chamado Glass (Sistema Global de Vigilância de Resistência e Uso de Antimicrobianos).
José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, aponta a urgência do Brasil em enfrentar sua dependência de importações e melhorar o acesso a antibióticos eficazes e acessíveis, novos e existentes. Ele reforça que o país com o maior setor farmacêutico da América Latina e do Caribe tem capacidade produtiva não apenas para formular seus próprios antibióticos, mas também para fabricar os insumos farmacêuticos ativos (IFA). Isso se daria, então, por uma política de fortalecimento do CEIS (Complexo Econômico-Industrial da Saúde).
Mas a preocupação se agrava ainda mais no território da África sub-saariana. Na região, a Azitromicina é utilizada como profilaxia para prevenir a mortalidade infantil, que chega a matar uma a cada dez crianças abaixo de cinco anos. A estratégia passou a ser adotada a partir de 2020 pela OMS, e reduziu a mortalidade em até 15%, protegendo as crianças de múltiplas infecções. O método, no entanto, divide pesquisadores, que temem aumentar a resistência bacteriana ao medicamento.
O debate se dá em torno da necessidade imediata de salvar as vidas infantis, e a urgência em garantir que o medicamento em questão continue sendo efetivo. Iruka Okeke, microbiologista da Universidade de Ibadan, aponta a situação como uma “bomba relógio” vendo a continuidade do uso amplo de antimicrobianos. Ao mesmo tempo, ela coloca: “É muito difícil dizer que a resistência antimicrobiana é pior do que a mortalidade infantil”.
Apesar disso, a pesquisadora aponta a necessidade de disponibilizar à população aquilo que a faria não depender dos medicamentos: “As crianças não estão morrendo porque não estão recebendo azitromicina. Elas estão morrendo porque não estão recebendo outras coisas – comida, água potável, cuidados básicos de saúde, vacinas”.
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