As desigualdades no tratamento de câncer no SUS
• Tratamento oncológico no SUS tem grandes disparidades • Um terço das cidades brasileiras sem manejo de água • MG: Zema insiste na privatização da saúde • Remédio para Alzheimer aprovado • Até onde vão desmontes de Trump na Saúde?
Publicado 24/04/2025 às 13:05 - Atualizado 24/04/2025 às 13:08
Apresentado em um fórum nacional de oncologia em São Paulo, um estudo do Instituto Oncoguia busca compreender as diferenças de tratamento entre hospitais públicos de câncer. Essa é a segunda edição da pesquisa, que foi feita pela primeira vez em 2017 e já havia constatado grandes disparidades. O que se percebe, com a nova edição, é que o Brasil segue tendo um cenário de desigualdades brutais no acesso ao tratamento de câncer no SUS.
Pacientes com câncer no SUS enfrentam uma “loteria” no acesso a tratamentos, com disparidades regionais que persistem desde 2017, disseram especialistas a matéria da Folha. A ausência de protocolos unificados e atualizados faz com que hospitais adotem condutas próprias, alguns sem oferecer sequer o mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde. Enquanto isso, diretrizes desatualizadas deixam de incorporar medicamentos já aprovados pela Conitec.
Cerca de 32% das cidades brasileiras sem plano de manejo de águas
Estudo do grupo Trata Brasil, que realiza pesquisas voltadas à área de saneamento e gestão das águas do país, faz um alerta importante: cerca de um terço (32,7%) das cidades brasileiras ainda não possuem um plano de manejo das águas pluviais e drenagem do solo urbano. O estudo se apoiou em pesquisa do Ministério das Cidades, que reuniu dados fornecidos por 4.958 municípios do país, onde habitam cerca de 95% da população.
Entre os variados sistemas de esgotamento sanitário e controle das águas, dois terços das cidades têm alguma forma de gestão. O Trata Brasil destacou a catástrofe do Rio Grande do Sul, destruído por chuvas exatamente 1 ano atrás, como catalisador da organização de tais dados, cujo relatório pode ser lido aqui. Além disso, o instituto informa que de 1991 a 2023 o país contabilizou “25,94 mil eventos hidrológicos de desastres, que resultaram em 3.464 mortes e causaram prejuízos superiores a R$ 151 bilhões”.
Governo Zema justifica desmonte da saúde pública mineira
O hospital estadual Maria Amélia Lins (HMAL), em Belo Horizonte, vem sofrendo ofensiva privatista pela gestão de Romeu Zema há algumas semanas. O caso tem gerado uma queda de braço entre o governo do estado de Minas Gerais (MG), servidores públicos e Ministério Público. No início de abril, movimentos populares, trabalhadores e usuários do SUS fizeram intensa mobilização pela reabertura do HMAL e denunciando as tentativas de terceirização da administração. Do outro lado, o secretário de Saúde de MG, Fábio Baccheretti, defende a “reorganização” do hospital.
Baccheretti disse à Folha que pretende usar o HMAL para tentar diminuir filas para cirurgias eletivas e concentrar demais serviços no João XXIII – algo que o governo já vinha fazendo. O secretário afirma que falar de sucateamento do SUS é “discurso pronto do sindicato” e que o governo Zema pretende continuar com o modelo privatista para equilibrar as contas municipais sem a contratação de mais pessoal. O governo espera apenas o aval da Justiça para que a nova administração do HMAL retome os serviços.
Polêmicas com 1º remédio contra Alzheimer aprovado pela Anvisa
A Anvisa aprovou o primeiro medicamento que promete retardar o avanço da doença de Alzheimer, o Kisunla. O fármaco, indicado para pacientes no estágio inicial da doença, vem gerando polêmicas entre especialistas. O Kisunla foi aprovado em diversos países, inclusive nos EUA, em 2024; entretanto, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) recusou a autorização de sua comercialização. A farmacêutica Eli Lilly, produtora do medicamento, pediu uma reavaliação do parecer.
Na avaliação da EMA, os benefícios do Kisunla não foram significativos o suficiente para compensar os riscos relacionados ao desenvolvimento de edema (ARIA) no cérebro. Segundo a agência, a ARIA ocorreu em 36,8% das pessoas que receberam Kisunla. A Anvisa afirmou ao Estadão que as reações adversas mais comuns do fármaco são relacionadas à infusão, podendo de fato causar ARIA. Como acontece com qualquer medicamento, a agência brasileira irá monitorar a segurança e a efetividade do Kisunla e serão implementadas atividades de minimização de risco.
Monitoramento de acidentes e vacinação infantil sob ameaça nos EUA
Após o grande expurgo realizado por Donald Trump nos órgãos federais de monitoramento e controle médico e sanitário – o HHS (Human and Health Services) e, em particular, suas agências FDA e CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças) –, os Estados Unidos ainda não terminaram de assimilar quais serão os impactos.
Como mostra matéria da National Public Radio (órgão público de comunicação, também na mira dos cortes), o CDC realiza um vasto monitoramento e informatização dos acidentes sofridos pelos norte-americanos, a exemplo de automobilísticos, quedas, traumatismos, que segundo seus dados são a maior causa de morte de pessoas até 45 anos.
Com as demissões em massa, inovações e mesmo a manutenção deste sistema de informação correm risco de ficar ao relento, de forma a desorientar a ação dos próprios estados na oferta de serviços de saúde, uma vez que tais dados são compartilhados com a rede hospitalar.
Enquanto isso, o país vive um surto de sarampo, causado em grande medida pelo estímulo à cultura antivacinas, que afeta especialmente as crianças. Mesmo assim, o governo insiste com a ideia de cortes, tanto de pessoal como de financiamento, o que poderia afetar os subsídios garantidos pelo CDC à vacinação infantil, muito mais caras na rede privada do país.
Dessa forma, o país correria risco de um descontrole da cobertura vacinal para o público infantil em razão das limitações econômicas de parte das famílias. Cerca de 50% das imunizações de crianças são garantidas através deste programa de governo.
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