3 milhões de crianças morreram por resistência a antibióticos em 2022

• Bactérias resistentes e a morte de crianças • Indústria nacional poderia produzir antibióticos • Hospitais superlotados em Porto Alegre • Europa aquecida • Tempestade de areia no Iraque • Desigualdade no acesso ao aborto nos EUA •

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Artigo apresentado pelos pesquisadores Yanhong Hu e Joseph Harwel estima que a resistência a medicamentos antibióticos esteja diretamente relacionada a 3 milhões de mortes infantis em 2022. Os maiores contingentes se concentram no Sudeste Asiático e na África, com cerca de metade dos óbitos, em maioria associados a síndromes respiratórias ou infecções bacterianas. Os resultados da pesquisa foram apresentados nesta semana no recém-encerrado Congresso da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, em Viena.

Segundo os pesquisadores, os fatores estão relacionados inicialmente com más condições sanitárias e ambientais dos locais onde tal resistência se manifesta, superlotação e insuficiência de estruturas hospitalares, o que, consequentemente, leva a um uso exagerado de antibióticos. Em alguns casos, até equivocado, como nas doenças respiratórias ou em caso de “prevenção”, situações nas quais simplesmente não deveriam ser prescritos.

Por sua vez, tais terapias se dividem entre antibióticos considerados de “reserva” (para uso em necessidade extrema) ou de “observação”, geralmente utilizados em ambientes hospitalares. Segundo cartilhas de saúde, ambos devem ser ministrados com o máximo cuidado pois têm grande potencial de gerar a resistência antimicrobiana.

Temporão defende ação brasileira na resistência antimicrobiana

Em artigo publicado no Valor, José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, alerta para a necessidade de o Brasil tratar a RAM (Resistência Antimicrobiana) com a máxima urgência, tanto em termos sanitários como econômicos. Em seu texto, ele critica a dependência total do país para a produção de antibióticos, uma vez que importamos 100% dos Insumos Farmacêuticos Ativos), sendo que tal autonomia já chegou a 50%. 

Dessa forma, ele afirma que o país precisa avançar na produção de tais terapias em solo nacional, em especial através das parcerias estimuladas pelo BNDES em relação à indústria nacional de saúde. Para Temporão, o impacto contemporâneo da RAM torna o assunto ainda mais urgente, pois a soberania nacional neste quesito melhoraria a própria qualidade dos antibióticos consumidos. Por fim, apesar de a RAM causar estimadas 5 milhões de mortes anuais, a falta de acesso adequado a tais tratamentos gera resultados ainda piores, e estimativas de grupos de pesquisa falam que a falta de acesso pode causar 50 milhões de mortes até 2030.

Saúde gaúcha marcada por superlotação de hospitais e grandes filas

Os usuários do SUS da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) têm enfrentado hospitais lotados e grandes filas – em alguns casos, a espera pelo atendimento ultrapassa um ano. Nos hospitais de Porto Alegre, que são referência para a maioria das especialidades do Rio Grande do Sul, a fila de exames quase dobrou em menos de dois anos. A superlotação e a demora para iniciar um tratamento mobilizou prefeitos da RMPA a cobrarem ajuda dos governos estadual e federal. 

Em entrevista para o Brasil de Fato, o presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana (Granpal), Marcelo Maranata, disse que o cenário de hospitais lotados e de longa espera se intensificou após a pandemia e as grandes enchentes de 2024. Maranata explica que um dos principais entraves é a insuficiência no repasse de verbas à Saúde pelo governo estadual. Nesse cenário, o Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul destaca também o não cumprimento dos 12% constitucionais em Saúde pelo estado. Além da cobrança ao governo estadual, os prefeitos da RMPA levaram o tema ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no dia 8 de abril. Está no pleito a mudança no limite de recursos federais destinados ao financiamento da atenção de Média e Alta Complexidade do SUS.

Europa, o continente que mais esquenta no mundo

Pelo segundo ano seguido, a Organização Mundial de Meteorologia e o Instituto Copérnico apresentam dados que fazem do continente o mais afetado pelo aquecimento global. Além de sua superfície terrestre bater seu recorde histórico de temperatura, que já havia sido alcançado em 2023, as consequências gerais continuam a acumular dados negativos. Enchentes, queimadas e derretimento de camadas de gelo de regiões como os Alpes seguem na ordem do dia, com ao menos 18 bilhões de euros de prejuízos, fora os danos ambientais. 

Ao menos um terço de todos os rios do continente tiveram transbordamentos ao longo de 2024 e as enchentes causaram 335 mortes. Temperaturas acima do normal foram registradas em centenas de dias pelo continente europeu, o que também tem sido causa de milhares de mortes, em especial de idosos. De outro lado, o relatório afirma que cerca de metade das cidades do continente já adota planos de adaptação climática e as fontes renováveis de energia cresceram de 43% para 45% de toda a matriz elétrica.

Iraque sofre com consequências da crise climática

Mais de mil pessoas são encontradas com problemas respiratórios depois de uma tempestade de areia atingir as partes central e sul do Iraque. Desses casos, ao menos 700 foram de sufocamento só em Al-Muthanna – uma das províncias do sul iraquiano –, de acordo com um oficial de saúde local. Nas fotos, é possível ver áreas envoltas por uma névoa alaranjada e espessa, com a cobertura da mídia local acerca dos cortes de energia e a suspensão de voos em diversas regiões, como Najaf e Basra.

Tempestades de areia são comuns no Iraque, sobretudo na primavera. Entretanto, a frequência e intensidade pioraram nos últimos anos devido à crise climática. Em 2022, uma tempestade violenta matou um civil e deixou mais de 5 mil necessitados de tratamento para doenças respiratórias. O Iraque foi listado pela ONU enquanto um dos cinco países mais vulneráveis às mudanças climáticas tendo em vista as tempestades de areia regulares, as extremas temperaturas e a escassez de água.

Desigualdades na saúde reprodutiva das mulheres estadunidenses

O Instituto Guttmacher, organização que formula pesquisas sobre saúde e direitos sexuais, estima em relatório publicado pelo National Bureau of Economic Reasearch que o número total de abortos realizados por médicos – ou seja, sem contar os autogeridos – em estados dos EUA onde o aborto é legal aumentou cerca de 1% de 2023 para 2024. Por outro lado, o número de pessoas cruzando as fronteiras estaduais, em um contexto em que a eliminação do aborto como direito constitucional no país abriu caminhos para proibições nos estados, caiu cerca de 9%.

O relatório demonstra que, embora o número de abortos esteja aumentando em estados onde ele é legal, é provável que algumas pessoas que gostariam de interromper a gravidez em locais onde ele é proibido não consigam. Uma das autoras do estudo, a professora de economia do Middlebury College, Caitlin Myers, disse à Associated Press que “a conclusão é de que a distância ainda importa”. Além disso, o estudo também revela as enormes disparidades na mortalidade materna entre mulheres negras nos EUA, disse Myers. Mulheres negras morreram na época do parto quase 3,5 vezes mais que mulheres brancas em 2023.

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