2024 é o ano mais quente da história
• Mais um recorde de calor na Terra • Garimpo ilegal emite toneladas de carbono e contamina o solo • Impactos de agrotóxicos na saúde • Túlio Franco defende a rede intermediária no SUS • Governo busca tratar vício em bets • O assassinato do CEO •
Publicado 10/12/2024 às 17:04 - Atualizado 16/12/2024 às 17:18
Após estabelecimento de recordes de média de temperatura em 2023, este ano voltou a bater a marca máxima de temperaturas. De acordo com o Serviço Copernicus, sediado na Europa, este ano terminará com a maior média de temperaturas registrada em toda a Terra de acordo com seus modelos climáticos. Em 16 dos últimos 17 meses a superfície terrestre marcou mais de 1,5ºC acima das médias pré-industriais, valor considerado limiar para drásticas mudanças climáticas no planeta. No entanto, segundo especialistas, os atuais níveis de emissão de carbono, se continuarem como estão, provocarão um aquecimento de 3ºC até 2050 – o que teria proporções incalculáveis em ecossistemas e países diversos. Ainda segundo o Copernicus e seus modelos de cálculo, 2023 já havia sido o ano mais quente em 125 mil anos. Na atual condição, as águas dos oceanos estão mais quentes, o que intensifica fenômenos como El Niño e La Niña. Enquanto isso, todos os acordos de metas de redução de emissão de gases de efeito estufa empacam na incapacidade de concessões dos países líderes do capitalismo global e seus interesses econômicos.
As emissões do garimpo ilegal
Um artigo publicado na revista Science of The Total Environment apresentou cálculos de emissões de carbono em áreas de garimpo ilegal e solo contaminado. Segundo o estudo divulgado pela revista Pesquisa Fapesp a liberação pode chegar a 3,5 toneladas de carbono na atmosfera por hectare contaminado e desmatado. Por sua vez, cada hectare pode ter depositado 39 kg de mercúrio no solo, elemento que contamina toda a flora e fauna local, a exemplo do que se viu na terra indígena Yanomami. Além disso, calcula-se que épocas de chuva podem liberar ainda mais carbono na atmosfera, o que contribui para aumentar as temperaturas. Isso porque a floresta em pé retém carbono no subsolo e mantém o equilíbrio térmico do meio ambiente. Atualmente, cerca de 20 mil pessoas têm sua vida diretamente afetada pela contaminação da água e solo pelo mercúrio do garimpo ilegal, com amplas repercussões na pesca, criação de animais e reprodução social de comunidades.
Crescem problemas de saúde causados por agrotóxicos
Segundo dados do “Atlas dos Agrotóxicos”, da Fundação Heinrich Böll, em matéria divulgada pelo Brasil de Fato, o mundo já conta com cerca de 385 milhões que têm sua saúde afetada por agrotóxicos. Tais condições afetam especialmente os trabalhadores do ramo agropecuário, com seu uso cada vez mais intensivo de produtos químicos, o que no Brasil se ampliou de forma descontrolada no governo Bolsonaro, que liberou mais de 5 mil agrotóxicos, praticamente sem qualquer avaliação. Além disso, a OIT calcula 300 mil mortes anuais em decorrência do contato com tais produtos. Em 2024, o Brasil registrou alta de 950% de contaminações por agrotóxicos no primeiro semestre, num salto de 19 para 182 casos.
Pela rede intermediária do SUS
Colunista do Outra Saúde e coordenador da Frente Pela Vida, o médico Túlio Batista Franco escreveu artigo no The Conversation, repercutido pela Folha, em defesa de avanços na rede de atenção intermediária. A ideia é fortalecer o que seria um ponto de conexão entre a atenção básica e hospitalar, de alta complexidade tecnológica. Como também explicado em entrevistas e colunas neste boletim, tal projeto passaria pelo aproveitamento da rede de pequenos hospitais, isto é, com menos de 50 leitos, que poderiam ser utilizados para atendimentos de casos não graves e conferir maior resolutividade à atenção primária. Em sua visão, o Brasil já tem estrutura para produzir tal inovação no SUS, mas demanda aprofundamento das condições tecnológicas de hospitais de pequeno porte em pequenas e médias cidades. Com isso, poderiam ser evitadas cerca de 1 milhão de internações hospitalares por ano.
Saúde cria Grupo de Trabalho para vício em bets
O governo federal criou portaria na qual anuncia a criação de um grupo de trabalho interministerial para ampliar serviços ligados à área de saúde mental em relação a pacientes que querem se livrar do vício em apostas e jogos. Com a liberação das apostas em 2018 e o avanço de diversas modalidades online de jogo, o país já registra uma epidemia de vício nesse tipo de atividade. Segundo instituições financeiras, já se movimentam cerca de 2% do PIB em jogos e apostas, o que tem produzido uma preocupante quantidade de casos de famílias financeiramente destruídas. O esforço inclui o Ministério da Fazenda, que tem publicado portarias para regulamentar os jogos e excluir empresas não confiáveis do ramo. Quanto à saúde, a ideia é preparar a estrutura de atenção psicossocial e preparar seus profissionais para lidar com este novo perfil de pacientes.
Suspeito de assassinar CEO da UnitedHealth é preso
Foi capturado ontem Luigi Mangione, de 26 anos, possível autor dos disparos que levaram à morte de Brian Thompson, 50 anos, CEO da seguradora de saúde UnitedHealth, uma das maiores do mundo. O crime chocou os EUA e levantou fortes debates a respeito da revolta social contra as empresas privadas do setor, que registram lucros multibilionários enquanto impõem dificuldades na prestação de serviços médicos. O crime parece refletir essa questão, uma vez que estavam gravadas nas cápsulas das balas que mataram Thompson as palavras “Delay”, “Deny” e “Defense”, que se tornaram uma espécie de síntese da doutrina de tais empresas. As palavras significam adiar, negar e judicializar e são o título de um livro de 2010 de Jay M. Feinman que se tornou best seller ao abordar a relação das corporações de saúde e seus clientes, orientada pela otimização do lucro à custa da própria qualidade de vida dos segurados