O chilique pela Petrobrás e o neoliberalismo sedento

É improvável, mas se Bolsonaro intervir para reverter política de Temer que transformou Brasil em mero exportador de petróleo cru, terá acertado. Ultraje da mídia e do mercado são sinal de que, em crise, elite financeira só aceita entreguismo total

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Por Almir Felitte

Quando Dilma foi derrubada em 2016, os “vampiros” não deixaram sequer o corpo da democracia esfriar. Meses depois, a Petrobrás já sofria seus golpes quase fatais. Em outubro de 2016, Temer alterava a política de preços da gigante estatal. A medida era uma escolha entre prioridades: garantir certo apoio à população no meio de uma das maiores crises de nossa história ou rechear um pouco mais o bolso de ricos acionistas da empresa?

Como já se sabe, Temer escolheu a segunda opção, atrelando o preço dos combustíveis ao mercado internacional, deixando a população vulnerável às flutuações do petróleo e do dólar em meio a uma grande crise global. Escolha que se sentiu diretamente nas bombas de gasolina e, indiretamente, nos preços de outros produtos básicos que encarecem nas prateleiras.

Mas Temer não parou por aí. Eles nunca param…

Artificialmente, o sucateamento das refinarias nacionais diminuiu a produção da própria Petrobrás. Segundo a FUP, elas passaram a operar com apenas 70% de sua capacidade. Novamente, Temer fazia uma escolha de prioridades: garantir a saúde produtiva daquele que é o principal componente da balança comercial brasileira ou rechear um pouco mais o bolso de ricos acionistas de petrolíferas estrangeiras?

Mais uma vez, sob o comando de Temer, a direita liberal brasileira escolheu a segunda opção. A Petrobrás foi transformada numa mera exportadora de petróleo cru, enquanto a importação de combustível refinado produzido pelas estrangeiras explodia. A compra de diesel feito pelos EUA, por exemplo, mais do que triplicou entre 2015 e 2017. Mais uma medida que, além de impactar de forma completamente entreguista nossa balança comercial, seria sentida no bolso por toda a população brasileira

Quase 5 anos se passaram desde então e o Brasil já parou por greve de caminhoneiros, as bombas de gasolina seguem em disparada e os preços nas prateleiras dos mercados brasileiros ficam cada dia mais amargos. A situação caótica não é à toa. Com mais de dois anos completos no poder, Bolsonaro seguiu à risca a mesma política de sucateamento da Petrobrás implementada por Temer. Ajustaram-se os discursos, mas os vampiros liberais seguiram sugando nosso sangue.

Agora, na mínima suspeita de mudança (que sequer se confirmou), os chiliques na Petrobrás mostram quem de fato manda no país. É simbólica a patética imagem do banqueiro-conselheiro da Petrobrás defendendo a “privatização de todas as estatais” aos prantos, em rede nacional, enquanto, num devaneio teatral, acusa Bolsonaro de flertar com o comunismo. Não deixa de ser cômico ou irônico que Bolsonaro, o homem da Reforma da Previdência, da MP da Liberdade Econômica, do “mais trabalho e menos direitos” e do austericídio, agora sofra ameaças de golpe por não ser considerado liberal o suficiente. Ao liberalismo global, nada nunca é suficiente.

O que a mídia e o mercado financeiro fazem com o Brasil tem nome: terrorismo econômico. Nada diferente do que as agências de risco cometem, costumeiramente, contra países da periferia global. Nada diferente das atrocidades que FMI e Banco Mundial já cometeram mundo afora. É preciso que se diga com todas as letras: países pobres, como o Brasil, são reféns de um sistema econômico que não os favorece. Não há soberania política nem econômica de fato na periferia do mundo.

Se Bolsonaro intervir na Petrobrás para voltar à política de preços pré-2016, ao menos uma vez na vida, ele estará certo. Se a intervenção acontecer para retomar a produção nas refinarias nacionais, então ele estará mais certo ainda. Mas é difícil imaginar que, em um Brasil tão entregue aos interesses da direita liberal, onde esta política petrolífera esteve no centro de um golpe de Estado, qualquer dessas duas medidas vá virar realidade. Mais normal seria a confirmação de que a troca de comando promovida por Bolsonaro tem mais motivações pessoais do que econômicas, e de que o desmonte da Petrobrás seguirá a todo vapor.

Vivemos daqueles tempos de incertezas que costumam anteceder grandes mudanças mundiais. Já há pouca farinha na mesa do Minotauro Global do capitalismo liberal e eles não aceitam sequer que um resto de pirão chegue à mesa da periferia do mundo. Se insistirmos com Bolsonaro e continuarmos aceitando a agenda de direita liberal tão submissa aos interesses dessa fera, o Brasil perderá mais um bonde da história.

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