Vietnã, 50: A Grande Vitória
A quinta parte de nossa série sobre a heroica tomada de Saigon, em 1975. Debilitado e sem dinheiro de Washington, governo fantoche do Sul tentou resistir. Mas revolucionários arquitetaram uma brilhante investida final que, enfim, reunificou o país
Publicado 08/05/2025 às 20:11 - Atualizado 08/05/2025 às 20:15

Este é o quinto de uma série de seis texto sobre a Guerra do Vietnã (ou Guerra Americana, como é chamada pelos vietnamitas) e a Queda de Saigon, que marcou a reunificação do Vietnã do Norte e do Sul. Leia os outros textos aqui
Capítulo 5 – Do Acordo de Paris à queda de Saigon (1973-1975)
“Esta será a mensagem final da estação de Saigon. Foi uma luta longa e perdemos. […] Aqueles que não conseguem aprender com a história são forçados a repeti-la. Esperemos que não tenhamos outra experiência no Vietnã e que tenhamos aprendido nossa lição. Saigon desligando” (mensagem derradeira de Thomas Polgar, chefe da estação de Saigon da CIA, um dos últimos estadunidenses a deixar a cidade de helicóptero) [1].
“Os Estados Unidos devem realizar algum ato em algum lugar do mundo que mostre sua determinação para continuar a ser uma potência mundial” (entrevista de Henry Kissinger logo após a queda de Saigon) [2].
A crise do petróleo, desencadeada em outubro de 1973, e a retirada dos soldados estadunidenses causaram sérios prejuízos à economia da República do Vietnã (ou Vietnã do Sul). Regressão da atividade agrícola, níveis insuportáveis de inflação, destruição da manufatura e uma nova elite que vivia da especulação de guerra e do tráfico. Crescimento vertiginoso da prostituição, uso de drogas e violência urbana tornaram-se o reflexo de uma urbanização forçada no sul, que exigia um enorme aparato policial para conter uma população de 4 milhões de habitantes em Saigon, em sua grande maioria camponeses vivendo em favelas que adquiriam a mentalidade de consumo e se corrompiam para sobreviver. A saída dos soldados estadunidenses deixou um vazio econômico, já que, direta ou indiretamente, muitos dependiam da oferta de inúmeros serviços ao efetivo de guerra dos EUA para ganhar alguns trocados. Não obstante, o presidente Van Thieu não libertou os presos políticos, não democratizou o país e continuou a atacar as áreas do governo provisório estabelecido pelo Acordo de Paris.
Para a Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul (FNL), o destino do Acordo de Paris seria o mesmo de Genebra. A única saída era voltar ao ataque, agora em um contexto com grandes oportunidades para a realização de uma ofensiva final sobre Saigon e vencer o conflito, reunificando o país de forma definitiva. E cerca de 30 mil jovens foram enviados pelo norte para ampliar e preparar a Trilha Ho Chi Minh para o ataque ao sul. Apesar do cessar-fogo em andamento (previsto no Acordo de Paris), territórios perdidos em campanhas anteriores foram retomados (com o registro de 25 mil baixas sul-vietnamitas), e Thieu afirmou que a guerra havia recomeçado – ou seja, o acordo não tinha mais efeito. Ademais, os Estados Unidos continuaram a enviar equipamentos militares e ajuda financeira ao governo sul-vietnamita.
Quando os avanços das forças revolucionárias foram retomados, Henry Kissinger, já na condição de secretário de Estado de Nixon, quis retaliar. Entretanto, fora informado pelo novo secretário de Defesa, Elliot Richardson, que o reinício dos bombardeios teria reduzido efeito estratégico. “Não é essa a questão. É uma questão de represália psicológica que precisamos fazer”, respondeu Kissinger [3]. Mas o tempo de Nixon – e Kissinger – estava se esgotando.
Thieu solicitara um incremento financeiro a Nixon, que foi vetado pelo Congresso (a ajuda havia caído de cerca de USD 30 bilhões por ano para USD 1 bilhão em 1974) [4]. Com menos recursos, o governo sul-vietnamita estava com dificuldades para pagar os salários de soldados e oficiais, provocando um alto número de deserções. Desse modo, o poder de fogo estaria comprometido, forçando uma estratégia defensiva. E, para complicar ainda mais, Nixon estava envolvido no escândalo de Watergate, sendo pressionado a renunciar [5]. Cada vez mais o governo do Vietnã do Sul enxergava as expectativas se declinando – e, cada vez, obrigado a agir sozinho, sem o necessário apoio estadunidense. O vice-presidente Gerald Ford assumiu o cargo no lugar de Nixon e não conseguiu ampliar a ajuda financeira ao Vietnã – que, ao contrário, perdeu ainda mais fôlego. Para o Congresso dos EUA, dominado pelos democratas, a guerra estava chegando ao fim.
Cabe ressaltar que, em 28 de abril de 1972, as forças revolucionárias já haviam cruzado o paralelo 17 e tomado a cidade de Dong Ha, a primeira do Vietnã do Sul mais próxima da linha de fronteira com o norte (a cerca de 1.100 km de Saigon), tornando-se uma importante base de retaguarda para as batalhas que se dariam no sul. Em setembro do ano seguinte, já sob vigência do instável cessar-fogo do Acordo de Paris, o presidente cubano Fidel Castro visitou a antiga Zona Desmilitarizada, que na teoria havia sido pulverizada e incorporada pela República Democrática do Vietnã (foto 1).

Foto 1 – Visita de Fidel Castro à fronteira norte-sul (set. 1973)
Fonte: Museu de Quang Tri (10 jan. 2024)
Mas a situação ainda demandava muito cuidado e alguma paciência, pois era necessário montar uma estratégia eficiente com as direções-chave a caminho da capital sul-vietnamita. Essas decisões tornaram a Casa D67, em Hanói (já mencionada no capítulo 2), um local ainda mais sensível, pois o alto comando político-militar, reunido sistematicamente, de modo consensual enxergou uma grande tendência de vitória. Em dezembro de 1974, o general norte-vietnamita Tran Van Tra elaborou uma ofensiva limitada a partir do Camboja para resolver problemas logísticos locais, auferir a reação das forças inimigas e checar se haveria novo refluxo de forças estadunidenses ao Vietnã. Cabe ressaltar que, do ponto de vista estratégico, o general Giap temia essa possibilidade, pois muitos assessores militares estadunidenses haviam ficado no país, a 7ª Frota estava ancorada no Mar da China Meridional e as bases sediadas na Tailândia permaneciam ativas, possibilitando a volta dos marines e dos bombardeios.
Ocorre que a batalha na fronteira com o Camboja, entre 13 de dezembro de 1974 e 6 de janeiro de 1975, acabou sendo decisiva, pois tomou a cidade de Phuoc Long (capital de província a 140 km ao norte de Saigon) e definitivamente colocou um fim ao envolvimento dos EUA na guerra com uma nova recusa congressista em enviar auxílio ao governo sul-vietnamita, desmoralizando a elite de Saigon. No início de 1975, o Exército sul-vietnamita possuía muito mais recursos em termos de equipamentos bélicos (peças de artilharia, tanques, veículos blindados e aviões) e efetivo (1 milhão de soldados, o dobro) do que as forças revolucionárias, mas praticamente subutilizados diante do aumento do preço do petróleo e do caixa com dólares fluindo de Washington em escala reduzida.
Entre 8 de janeiro e 25 de março de 1975, o Politburo trocou de posição por três vezes: primeiro, a liberação do sul fora planejada para ocorrer entre 1975-1976; depois, ao longo de 1975; e, por último, em 1975, mas antes do início da estação chuvosa – que no Vietnã, de modo geral, obedece ao calendário das monções, ou seja, entre maio e setembro. Denominada Campanha Ho Chi Minh, a ofensiva final sobre Saigon deveria mobilizar a força total do país inteiro para que o grande objetivo fosse atingido. Desse modo, entre março e abril de 1975, a D67 albergou 13 conferências do Politburo, seis conferências da Comissão Militar do Comitê Central do Partido Comunista, reuniões privadas entre os oficiais do Politburo e da Comissão Militar e dezenas de reuniões privadas do general Giap com membros dos centros de operações (foto 2), além de ter recebido centenas de telegramas enviados diretamente das frentes de batalha.

Foto 2 – Giap monitora o avanço das forças revolucionárias sobre Saigon (abr. 1975)
Fonte: Casa D67 (15 jan. 2024)
A estratégia montada agregava ousadia, surpresa e segredo de movimentos para atrair os homens de Thieu para o norte do planalto, enquanto a verdadeira ofensiva ocorreria no sul. Saigon esperava por ataques às pequenas cidades, mantendo poucas forças de retaguarda nas proximidades da capital. A Campanha 275, deflagrada pelas forças revolucionárias em 10 de março, nas montanhas centrais, com forte apoio de tanques e artilharia pesada, rapidamente tomou a cidade de Buon Ma Thuot (onde foram encontrados vários mapas do Vietnã do Sul em uma instituição, e posteriormente levados para o norte para serem reproduzidos), liberando a estrada para o litoral (fotos 3-4). Em termos estratégicos, as principais artérias terrestres no sentido de Saigon ficavam à mercê das colunas vindas do norte. Thieu então mandou reforços à região do planalto, mas diante do grande número de baixas ordenou o seu recuo para o litoral no dia 17. Tarde demais. Todo o batalhão foi cercado e dizimado na mesma noite.
A estrada para o norte foi cortada e Hue, a terceira maior cidade do Vietnã do Sul, caiu em 28 de março, em um cerco que durou três dias (foto 5). No dia 30, 100 mil soldados fantoches renderam-se nos subúrbios daquela cidade, encerrando a última linha de defesa sul-vietnamita nas montanhas centrais e nas províncias mais próximas da linha de fronteira norte-sul. Logo em seguida Danang, outrora um gigantesco centro de operações militares dos EUA, foi tomada pelas forças revolucionárias (foto 6).

Foto 3 – Investidas da Campanha 275 (fase 1/setas vermelhas e fase 2/setas brancas)
Fonte: Museu da Cidade de Ho Chi Minh (4 fev. 2020)

Foto 4 – Corporação do Exército sul-vietnamita aniquilada pelas forças revolucionárias nas montanhas centrais (mar. 1975)
Fonte: Museu Nacional de História (16 jan. 2024)

Foto 5 – Liberação de Hue (mar. 1975)
Fonte: Museu de Danang (6 jan. 2024)

Foto 6 – Liberação de Danang (29 mar. 1975)
Fonte: Museu de Danang (6 jan. 2024)
Diante da situação desesperadora, Van Thieu ordenou o recuo de todas as suas tropas do litoral para formar uma primeira linha defensiva de Saigon em Phang Rang, a 315 km de distância. A estratégia seria resistir à ofensiva da FNL até a chegada das chuvas torrenciais das monções. Mas a decisão do Politburo do Partido Comunista do Vietnã estava tomada: seria preciso tomar Saigon antes das monções. E todo o 1º Corpo do Exército da República Democrática do Vietnã, que estava consertando diques no norte, se deslocou para a frente de batalha, grande parte a pé, entre 25 de março e 14 de abril (fotos 7-8). Antes disso, em 7 de abril, as forças revolucionárias haviam atacado a forte resistência inimiga postada na cidade de Xuan Loc, a apenas 64 km de Saigon. Os sangrentos combates duraram até o dia 21, quando a resistência sul-vietnamita, bastante debilitada, recebeu ordens para retornar à capital. Cerca de ⅗ do Vietnã do Sul estavam sob controle comunista no início de abril (foto 9).

Foto 7 – Veículos das forças revolucionárias a caminho de Saigon (9 abr. 1975)
Fonte: Museu Nacional de História (16 jan. 2024)

Foto 8 – Brigada 232 a caminho de Saigon pelo litoral (abr. 1975)
Fonte: Casa D67 (15 jan. 2024)

Foto 9 – Mapa indicando as áreas controladas pelos comunistas (em vermelho) em 7 de abril de 1975, publicado no jornal do Exército de Libertação Nacional (edição 5.003)
Fonte: Casa D67 (15 jan. 2024)
Dois dias depois, Gerald Ford declarou que o Vietnã “não pode ser conquistado ao se travar uma guerra que está terminada” [6]. A resposta de Thieu, em 25 de abril, acusou os EUA de traição e insinuou que Kissinger o havia enganado ao convencê-lo a assinar o Acordo de Paris em troca de ajuda financeira e militar (que na verdade nunca deixou de fluir, como visto anteriormente). Em seguida, renunciou, entregando o poder ao vice-presidente Tran Van Huong antes de fugir para Taiwan. Nesse mesmo dia, os tanques norte-vietnamitas já estavam às portas de Saigon, esmagando as unidades isoladas dos fantoches que ainda resistiam. Ao norte da capital, não havia mais combatentes sul-vietnamitas, e milhares de civis (e desertores) fugiram para o sul em desespero, na direção do Delta do Rio Mekong, como uma espécie de último refúgio anticomunista.
A eficiente e meteórica tomada de Saigon
No vizinho Camboja, as forças comunistas do Khmer Vermelho haviam tomado a capital Phnom Penh em 17 de abril, derrubando o regime pró-estadunidense de Lon Nol. No dia 20, já prenunciando a derrota em Saigon, a embaixada dos Estados Unidos iniciou a destruição de todos os seus arquivos e a evacuação de seus dois mil funcionários e outros cinco mil estadunidenses por uma ponte aérea de helicópteros entre o terraço do prédio e os porta-aviões ancorados no Delta do Mekong. A lei marcial foi decretada e Huong ordenou uma resistência final com o uso de armas poderosas, mas o baixo moral das tropas e a fuga de vários oficiais para a 7ª Frota Naval dos EUA conspiravam contra qualquer possibilidade de deter as forças revolucionárias.
O líder dos comunistas em Saigon, Nguyen Van Linh, estacionado em uma base na periferia da capital, preparou a frente interna para apoiar a tomada da cidade causando o mínimo possível de danos. A FNL queria evitar combates urbanos, pois considerava a população civil vítima das fantasias e das mentiras criadas pelo American way of life. Em 27 de abril, cerca de 100 mil soldados das forças revolucionárias cercavam Saigon, que ainda contava com 30 mil fantoches dispostos a defendê-la. Mas, para amplificar o desespero, o aeroporto de Saigon foi bombardeado, impossibilitando pousos e decolagens. Consequentemente, milhares de civis contrários ao Viet Minh ficaram encurralados, e dezenas de milhares de soldados e policiais abandonaram os seus uniformes para cair no anonimato e impedir futuras represálias (foto 10).
No dia 28, Huong renunciou, entregando o poder para o general Duong Van Minh, tido como uma figura mais conciliatória pelos comunistas. As forças revolucionárias já haviam bloqueado a estrada que ligava ao delta, pelo sul, enquanto o avanço sobre Saigon ocorria pelo norte e nordeste. Outros pontos estratégicos também tinham sido tomados por grupos guerrilheiros. Ou seja, o norte não estava interessado em mais uma rodada de negociações. Ou em uma frustração repetida.
A fase final da caótica evacuação de civis sul-vietnamitas que trabalhavam no alto escalão do governo, transportando-os de todas as partes da cidade para a Embaixada dos EUA, foi adiada até o último instante possível. Batizada de Operação Vento Constante, nutria-se a crença, alimentada pelo embaixador dos EUA, Graham Martin, de que ainda seria possível defender a cidade para a imediata negociação de um novo acordo político. Mas já era tarde demais. E o sinal da operação – a mensagem “a temperatura de Saigon é de 105 graus Fahrenheit e está aumentando”, seguida da música “White Christmas” a cada 15 minutos – ecoava nas rádios da capital.

Foto 10 – Uniformes das forças fantoches do sul abandonados no aeroporto de Saigon (abr. 1975)
Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)
Entre 29 e 30 de abril, um vai-e-vem frenético de helicópteros invadiu os céus de Saigon para cumprir o objetivo da missão (foto 11). Ocorre que não havia espaço suficiente nos porta-aviões para o pouso de tantas aeronaves, e a solução encontrada foi atirá-las ao mar. Alguns pilotos levavam helicópteros vazios na direção da água e os abandonavam, aguardando embarcações de resgate para voltarem aos navios. Ademais, o combustível estava acabando. A operação durou cerca de 18 horas e envolveu 81 helicópteros (pelo menos 48 ficaram perdidos no fundo do mar). Calcula-se que a Vento Constante conseguiu evacuar 6 mil sul-vietnamitas e 1 mil estadunidenses [7].

Foto 11 – Evacuação da Embaixada dos EUA em Saigon (30 abr. 1975)
Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)
De 26 a 30 de abril, os cinco dias que duraram a Campanha Ho Chi Minh (fotos 12-17), Giap não saiu de sua sala de 35 m2 na D67, em Hanói, dormindo em uma pequena cama ali instalada. Três semanas antes ele havia enviado um telegrama secreto (de nº 1.574) convocando a ofensiva: “Seja mais e mais ativo. Seja forte e mais forte. Tente estar no front no tempo mais curto e libere o sul. Esteja determinado a lutar para obter a vitória” [8]. O último mapa confeccionado na D67, intitulado “A determinação do Politburo”, indicava, com grandes setas vermelhas, as direções que as tropas revolucionárias deveriam seguir para realizar os ataques às últimas bases do governo da República do Vietnã e, consequentemente, realizar a tomada de Saigon (foto 18). Cinco objetivos prioritários foram definidos: o prédio geral do Estado-Maior, o palácio presidencial, o quartel-geral, a sede da polícia e o aeródromo de Tan Son Nhut.

Foto 12 – Helicóptero com forças revolucionárias de partida para Saigon (abr. 1975)
Fonte: Museu Nacional de História (16 jan. 2024)

Foto 13 – Chegada dos revolucionários a Saigon na manhã de 30 de abril de 1975
Fonte: Museu da Mulher Vietnamita (16 jan. 2024)

Foto 14 – Recepção das forças revolucionárias nas ruas de Saigon (30 abr. 1975)
Fonte: Museu de História Militar (21 jan. 2024)

Foto 15 – Moradores de Saigon saúdam as forças revolucionárias em 30 de abril de 1975
Fonte: Museu da Mulher Vietnamita (16 jan. 2024)

Foto 16 – Tanque preparado para ocupar o aeroporto de Saigon (30 abr. 1975)
Fonte: Museu Nacional de História (16 jan. 2024)

Foto 17 – Liberação do aeroporto de Saigon no início da tarde de 30 de abril de 1975
Fonte: Museu da Mulher Vietnamita (16 jan. 2024)

Foto 18 – Mapa indica as direções que as forças revolucionárias deveriam seguir para a tomada de Saigon (abr. 1975)
Fonte: Casa D67 (15 jan. 2024)
Às 6h30 de 30 de abril de 1975, Thi Trung Kien, uma agente de ligação do Batalhão FK6, estava à frente da 24ª Infantaria e da 273ª Brigada de Tanque para a captura do cruzamento entre a estrada para a Baía Hien e o portão nº 5 do aeroporto de Saigon, que foi controlado totalmente às 13h30 – um feito decisivo para a histórica vitória das forças revolucionárias. No final da manhã, tanques das forças comunistas arrebentaram os portões do palácio presidencial e a bandeira do Viet Minh foi hasteada (fotos 19-20) [9]. Capturado, Van Minh anunciou a sua rendição incondicional pela Rádio Saigon (foto 21). Imediatamente a cidade foi rebatizada de Ho Chi Minh. Ao meio-dia e 25 minutos de 30 de abril de 1975, o general Giap, ainda de dentro de sua sala, ordenou que o Departamento de Propaganda espalhasse a notícia da vitória e a reunificação do país. Minutos mais tarde, chamou todo o alto comando revolucionário para uma foto histórica em frente à Casa D67 (foto 22). Em Ninh Binh, no norte do país, a população foi às ruas e estendeu a faixa “VIETNÃ TOTAL” (foto 23).
Fotos 19-20 – Ocupação do palácio presidencial de Saigon (30 abr. 1975)
Fonte: Museus de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020) e de Danang (6 jan. 2024)



Foto 21 – Prisão de Van Minh no palácio presidencial após a sua rendição (30 abr. 1975)
Fonte: Casa D67 (15 jan. 2024)

Foto 22 – Alto comando das forças revolucionárias (Giap ao meio, sentado) após a vitória final (30 abr. 1975)
Fonte: Casa D67 (15 jan. 2024)

Foto 23 – Comemoração popular em Ninh Binh após a vitória final (30 abr. 1975)
Fonte: Museu de Ninh Binh (12 jan. 2024)
Instalado em 15 de maio, o Governo Revolucionário Provisório da República do Vietnã do Sul tornou-se o governo oficial da antiga República do Vietnã (foto 24). Sete meses depois, ocorreu a Conferência de Negociação da Reunificação Nacional em Ho Chi Minh, que discutiu os termos finais da fase de transição. Em 25 de abril de 1976, houve eleições gerais (foto 25). Nome do país, hino nacional, brasão da república, escolha da capital e oficialização da mudança de Saigon para Ho Chi Minh foram adotados como resoluções na IV Assembleia Nacional, em sessão realizada em 2 de julho de 1976, que ainda proclamou a República Socialista do Vietnã, resultado da fusão entre a República Democrática do Vietnã (o norte) e o governo revolucionário (o sul).

Foto 24 – Celebração popular pela instalação do governo provisório nos jardins do antigo palácio presidencial (15 maio 1975)
Fonte: Museu de História Militar (21 jan. 2024)

Foto 25 – Cartaz alusivo às eleições gerais marcadas para 25 de abril de 1976
Fonte: Museu Nacional de História (16 jan. 2024)
A nação, agora reunificada, estava finalmente livre dos grilhões imperialistas e apta e disposta a trabalhar pela sua reconstrução e a seguir o seu próprio caminho sob a direção do Partido Comunista, adotando a diretriz de Ho Chi Minh na qual o “socialismo significa que todos devem dar as mãos para trabalhar e produzir para alimentação suficiente, roupas quentes e casas limpas” [10].
Notas:
[1] SACONI, Alexandre. R$ 5 bi! Por que EUA jogaram helicópteros no mar no fim na Guerra do Vietnã. Portal UOL/Todos a Bordo, 04 nov. 2023, p.5. Disponível em:
<https://economia.uol.com.br/colunas/todos-a-bordo/2023/11/04/por-que-os-eua-jogaram-helicopteros-no-mar-no-final-na-guerra-do-vietna.htm> Acesso em: 15 maio 2024.
[2] GRANDIN, Greg. A sombra de Kissinger. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017, p.155.
[3] Idem, p.106.
[4] BLANC, Cláudio. 40 anos da Guerra do Vietnã. Conhecer Fantástico Especial. São Paulo: On Line Editora, 2015, p.67.
[5] Watergate era o nome de um complexo hoteleiro em Washington onde cinco homens foram presos, em junho de 1972, invadindo o escritório central do Comitê Nacional do Partido Democrata. As investigações acabaram revelando operações ilegais a mando do governo Nixon, como fraude eleitoral, espionagem política, sabotagem, grampos telefônicos, gravações ilegais e até mesmo um fundo mantido no México para pagar os agentes da CIA envolvidos nos crimes. Após muita pressão, Nixon anunciou a sua renúncia em 9 de agosto de 1974.
[6] BLANC, op. cit., p.75.
[7] SACONI, op. cit., p.2.
[8] Declaração extraída da Casa D67 (15 jan. 2024).
[9] O belíssimo prédio do palácio presidencial, inaugurado em 1966 e desenhado pelo arquiteto Ngo Viet Thu segundo o entrelaçamento de dois ideogramas chineses que significa “boa sorte”, foi especialmente construído em estilo modernista para sediar o governo da República do Vietnã. Quando tomado pelos comunistas, teve a sua estrutura e componentes internos (mobiliário, material de escritório, decoração) totalmente preservados, tornando-se, posteriormente, um importante museu em uma das áreas mais nobres de Ho Chi Minh. Ficou conhecido como Palácio da Independência ou Palácio da Reunificação.
[10] Declaração extraída do Museu Ho Chi Minh de Hue (8 fev. 2020).
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